As máquinas ainda são de pedal, mas quase ninguém toca nelas, as linhas são organizadas por cores, as fichas dos clientes têm pedaços dos tecidos usados para a confecção dos ternos alinhados. No passado, a profissão vestia desde garotos até senhores. Hoje, ainda com os dedais na mão, os alfaiates sobrevivem alinhavando as roupas de empresários, industriais, políticos e artistas do país.
Mas o que leva um homem a se render a esse ritual da roupa sob medida? Para Leonardo Calomeo, que tem mais de 30 anos na profissão, a procura está atrelada à qualidade do feitio e a variedade de tecidos. "A pessoa sai da linha de montagem e entra na tradição. Nas lojas só é possível, por exemplo, comprar um costume com três botões. Aqui fazemos do jeito que o cliente quer e é isso que ele procura: exclusividade" diz.
Pronto para fazer a primeira, de duas provas |
Espera pelos detalhes
Cesar Romão: "roupa é um momento que reflete a arte de quem a produziu" |
Os detalhes impressionam até os menos entendidos do assunto: tecido de primeira linha, de preferência inglês, ombros estruturados com algodão natural, corte e ajuste no corpo e não no manequim e nada de casas e botões falseados na manga. Se o caimento e o estilo chamam a atenção dos clientes vaidosos de um ateliê, o preço nem tanto. A confecção mais barata fica em torno de R$ 2.800,00. Em um alfaiate é possível encontrar tecidos com fios de ouro ou de diamante, entretela de crina de cavalo e botões de osso de javali, que conferem à roupa gordas cifras, chegando a R$ 90.000,00.
José Cozin: "só sei trabalhar à mão" |
A fidelidade é uma marca registrada de quem faz roupa sob medida. "Faço os ternos do pai, depois de algum tempo passo a fazer os dos filhos e, às vezes, até os netos já passaram por aqui", conta Cozin, que desembarcou da cidade de Duartina, interior de São Paulo, em 1964 e mantém o mesmo ateliê no centro da capital paulista até hoje. Por lá, 30 roupas são confeccionadas por mês, onde passam nomes como Chiquinho Scarpa e as famílias dos grandes banqueiros da cidade.
Alfaiate das personalidades
Há 50 anos na profissão, João Vieira de Andrade se veste de D´ Carlos e entra em seu ateliê, no Brooklin. Cheio de opinião e colecionador dos moldes das roupas que já fez para Chacrinha, Cauby Peixoto, José Victor Oliva, Chico Buarque, Roberto Carlos, família Civita e Clodovil, o mestre, como seus clientes o chamam, diz que o terno é a segunda pele de um homem e que elegância é jeito de ser. "Não adianta se vestir com uma roupa feita sob medida, mas falar, sentar e se comportar como um abrutalhado. Você pode ser elegante fazendo a barba no banheiro".
Cauby Peixoto: "roupa é minha paixão" |
Com mais de mil clientes, D´Carlos comenta que os homens gostam do modismo, como paletós mais justos, mas preferem o clássico para não errar, afinal, "a última moda é o que a pessoa fica bem para usar". As grandes ombreiras que as mulheres tanto detestam? O alfaiate comenta que elas diminuíram, mas continuam estruturando os ombros dos elegantes trajes. "Sem essa sustentação a roupa não tem caimento. O terno fica murcho". Entre outros tantos detalhes, segundo ele, a roupa sob media é invencível porque o homem não corre o risco de errar. "O cliente escolhe e nós o ajudamos. Aqui pode tudo desde que se tenha bom gosto", opina.
Alfaiataria na medida certa Tecidos: sempre 100% lã extrafina. Muitos pensam que esse pano serve para o inverno, mas ele se adequa a temperatura e é indispensável. Ternos no calor: "sofrimento" para qualquer homem, no calor a dica é usar cores claras e tons pastéis, como cinza e bege com meio forro no paletó. Tênis: Calomeo afirma que o uso é liberado para aqueles que têm estilo para comportar essa ousadia. Já para Cozin e D´Carlos, um homem elegante jamais deve usar. Combinação perfeita: para um terno feito sob medida, o ideal é uma camisa 100% algodão, sem transparências ou brilhos, e a gravata de seda tradicional. Listras: cuidado! Evite colocar mais de uma peça listrada, por exemplo, o costume e a camisa. Dê preferências para as mais clássicas e discretas. Paletó: tenha o cuidado de sempre cobrir o quadril. Para ter certeza de que a altura é a ideal fique em pé e com os braços paralelos ao corpo. O tamanho correto é aquele que você consegue pegar na barra do paletó sem precisar se curvar ou erguer a mão. Calças: Segundo Cozin, as calças com pregas pedem barra italiana e as retas, barra lisa. Nunca use barra lisa com calças com pregas. Pecado: Calomeo afirma: "terno listrado com camisa verde limão e gravata do Mickey, jamais!". Também evite estampas, pois são muito perigosas. Primordiais: Além do corte perfeito, todo homem deve ter no armário um costume cinza e outro azul marinho, essas cores são coringas. Acessórios: Abotoaduras só devem ser usadas em ocasiões especiais. Lenços são um charme a mais, coloque-o de forma com que pareça uma flor, esse é o modo correto de usá-lo, mas procure combinar com a gravata. Lavagem: O paletó de um terno deve ser lavado uma vez por ano e a seco. Dê preferência a boas tinturarias e nunca leve em uma lavanderia express. |
Fotos: Arthur Santa Cruz/ Renata Fiore/ Chis K.
Colaboração
D´Carlos
J. Cozzi
Leonardo Ufficio di Moda
Atualizado em 6 Set 2011.