Apartamento alugado, é época de organizar a minha transferência de endereço, seguindo algumas regras que eu, decididamente, não segui. Para começar, não respeitei a Lei de Newton: "dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar ao mesmo tempo". Ou seja, se eu estava indo para um lugar menor, não deveria querer levar tudo do imóvel maior. Mas quis. Assim, fui embalando a minha casa. Distribuí louças, livros, pequenos eletrodomésticos, cama, mesa, banho, bolsas, cintos, material de higiene e limpeza por caixas. Joguei as minhas roupas em grandes sacos plásticos pretos, com cabides e tudo. Não etiquetei nada, confiei na minha memória.
Na hora de contratar o caminhão de mudança, quase enfartei. O preço girava em torno de R$ 1300. Uma fortuna, um absurdo, uma exploração! Eu não cairia nessa e fechei negócio com um "caminhão baú" que, no dia D, vi tratar-se de uma kombi aberta com uma lona em cima. Mas valeria a pena, pagara apenas R$ 150. Não valeu. O trabalho do motorista e do seu ajudante se resumia em transportar tudo e jogar a tralha, de qualquer jeito, dentro do imóvel. Sacos em cima de sacos, caixas em cima de caixas, móveis espalhados - e eu mal cabia no apartamento.
Já decidira comprar armários novos, tranquei a bagunça e fui direto para a loja. Escolhi, paguei e me informaram que eles seriam entregues em três dias úteis, no horário comercial - teria que ficar o dia todo em casa esperando. Por que não pensei que o certo seria comprar antes de me mudar? Se arrependimento matasse... Era o começo do meu calvário. No apartamento, não sabia onde estava nada. Eu não identifiquei os pacotes, lembra?
Minha amiga Maria Elena me perguntou se eu não fizera um "kit sobrevivência". Kit o quê? Uma bolsa que eu levaria comigo com algumas peças e objetos indispensáveis na hora do caos. Não, eu não havia pensado nisso. Tive que sair para comprar roupa íntima, roupa para o dia a dia, lençol, travesseiro, toalha, escova e pasta de dentes, sabonete, xampu... Comida? E eu lá tinha condições de cozinhar alguma coisa naquela devastação? Tive que ir de restaurante mesmo. Ainda agradeci a Deus pelo porteiro do prédio ter montado a cama. A minha vida doméstica, no tão batalhado apartamento novo, se resumia a ficar nela ou no banheiro.
Não há mal que sempre dure... Finalmente os armários chegaram. Os quatro entregadores amontoaram todos em pequenos cantos livres e se mandaram. Nem bem que nunca acabe... A montagem só seria feita quatro dias úteis depois - quando, novamente, eu deveria permanecer de castigo em casa. Oh céus, oh vida, oh azar...
Armários montados, momento de arrumar a vida. Comecei pelos sacos. Sabe aquelas roupas que eu coloquei com cabides e tudo? Eles se engancharam, furaram os sacos, um desespero. E quais caixas tinham os pratos, a torradeira, o meu "Dicionário de Comunicação"? Levei uma semana para colocar tudo no lugar. Bem, tudo não. Muitas roupas sobraram por não caberem no armário. A Lei de Newton. O que fazer? Jogá-las pela janela?
Outra amiga, a Fátima, me deu a ideia de guardar em malas as peças de Verão - estamos no Inverno - e colocar as malas sobre os guarda-roupas. Ela me recomendou que pusesse uma bolinha de naftalina em cada uma para evitar possíveis traças. Tive medo que esse inseto peçonhento destruísse tudo e, para garantir, coloquei 20 bolinhas em cada mala. Devo ter usado mais de cem. Um mês depois, apesar de tantos percalços, aqui estou eu, muito feliz, escrevendo para você. Meu apartamento ficou uma gracinha, embora cheire a naftalina.
Leia as colunas anteriores de Vera Lucas:
Futura inquilina
P,M,G: fim da tirania
Quem é a colunista: Curiosa, discreta, engraçada, séria, tagarela, calada...De tudo, um pouco.
O que faz: Jornalista, escritora e equilibrista.
Pecado gastronômico: Pizza e brigadeiro.
Melhor lugar do mundo: As praias cariocas: do Leme ao Pontal.
O que está ouvindo no carro, rádio, mp3: Rádio JB FM e MPB.
Fale com ela: [email protected] ou acesse seu blog.
Atualizado em 1 Dez 2011.