Esclarecendo... O nome Síndrome de Estocolmo não possui um "fundamento teórico nas diretrizes diagnosticadas da CID 10", de acordo com o psicólogo Alexandre Bez. Ele explica que a sigla se refere à Classificação Internacional das Doenças e a síndrome referida não se encontra na lista. Os sintomas caracterizados por Síndrome de Estocolmo existem, da forma como foram descritos abaixo, mas o psicólogo alerta que são, na verdade, uma obsessão que pode ser uma variação do Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC, quando a pessoa predisposta em função de outras confusões psíquicas acaba desenvolvendo uma "paixão" contra a qual não consegue lutar, necessitando de ajuda médica especializada. No tratamento poderão ser utilizados remédios contra depressão e ansiedade, conforme haja doenças associadas. |
Patrícia Abravanel, filha de Sílvio Santos, foi seqüestrada em 2001. Depois de sete dias em cativeiro, ela saiu dizendo que Deus a salvou, os seqüestradores a trataram muito bem e que o governo era culpado, uma vez que o país possui "um povo muito bom que precisa ser bem tratado".
Algo parecido ocorreu com a estudante *Gisele, 21 anos, e seu namorado. Durante as duas horas que ficaram detidos por um jovem e duas crianças com armas na mão, ouviram música, conversaram sobre o namoro, fizeram votos de boa sorte para o futuro e até piadas com os bandidos. "Em alguns momentos parecia que estávamos numa viagem com amigos! Depois ele parou o carro e nos mandou sair e andar, sem olhar para trás. Foi quando tive mais medo! Em seguida, senti muita raiva por tudo o que ele nos fez passar, pelo medo e angústia. Um tempo depois soubemos que havia morrido e foi muito estranho. Meu namorado e eu nos sentimos mal, como se fosse um conhecido, um amigo talvez. A gente sabe que não era uma pessoa exatamente boa, mas não conseguimos imaginá-lo matando alguém", lembra.
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Imagem do assalto que deu nome ao problema |
"É um fenômeno psíquico e ocorre quando um indivíduo é vítima de seqüestro, assalto, prisão domiciliar e violência doméstica. As vítimas da guerra e dos campos de concentração também podem manifestar tal quadro", explica a psiquiatra Rita Jardim.
A identificação com o agressor é um mecanismo de defesa inconsciente, para evitar que alguém saia ferido. A vítima nega que a situação é de risco, passando a cooperar com o bandido. A diretora clínica e acadêmica do Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo, Cristina Dotto, diz que o estado mental acaba criando uma estratégia ilusória para a própria proteção. Isso faz com que exista um distanciamento emocional do perigo real.
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Sintomas Pesadelos, estado depressivo, isolamento social, tristeza, medos, fobia social, distúrbio do sono, irritabilidade, sentimento de impotência diante da vida, reações de sobresaltos, dificuldades de concentração, hipervigilância. O psicólogo clínico do Centro Universitário Adventista de S. Paulo - Unasp, Noel José Dias da Costa, explica que, para lidar com essas vítimas, são necessários acolhimento, apoio, tolerância, ouvir e auxiliar que a pessoa discrimine os atos lesivos por parte do agressor. |
O que ocasiona o problema é o estresse físico e emocional, ao qual a vítima foi exposta, fazendo com que inverta seus valores, ou seja, aquilo que parecia mal já não o é mais. Qualquer pessoa pode desenvolver o quadro, principalmente se for um indivíduo emocionalmente instável.
Segundo Cristina, pesquisas apontam que as pessoas que já estiveram expostas a violência física ou mental anteriormente, desenvolvem a síndrome com mais facilidade. Entre eles estão as vítimas de abuso sexual na infância ou fase adulta, abuso emocional e maus tratos na infância, prostitutas e vítimas de Bullying (violência física ou psicológica que intimida um indivíduo incapaz de se defender).
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O tratamento é psicoterápico com medicação psicotrópica, para amenizar os sintomas depressivos, ansiosos e psicóticos que podem estar associados. Algumas doenças que podem surgir como conseqüência são Síndrome do Pânico, depressão, ansiedade generalizada, obesidade, fobias e estresse pós-traumático.
Nesses casos, é preciso trabalhar com as memórias traumáticas e reestruturar as crenças da vítima. "É importante salientar também que pessoas que têm crenças mais positivas em relação às pessoas (ex.: ´as pessoas são confiáveis´; ´existe sempre uma boa intenção frente aos comportamentos inadequados das pessoas´), são mais predispostas ao desenvolvimento da Síndrome de Estocolmo e ao estresse pós-traumático", explica Cristina.
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Para ajudar alguém com o problema, a intervenção no sentimento de culpa que a vítima possa ter é importante, mostrando que a aliança com o agressor foi um incidente.
Os professores da Escola de Formação de Terapeuta Familiar Sistêmico Breve, Angela Herrera e Sebastião Alves de Souza explicam que, se o problema não for tratado logo após o evento traumático, os sintomas podem se tornar crônicos, da mesma forma que os sentimentos de ambivalência em todas as relações. "A pessoa pode passar a se sentir coagida e agredida, ao menor sinal de qualquer situação em que estiver submetida às pressões comuns do cotidiano", diz Angela.
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Quando a pessoa desenvolve um laço afetivo com o agressor após a violência, ela passa a defender a causa do mesmo, tornando-se submissa a ele. Um caso famoso é da neta do milionário da imprensa William Randolph Hearst, Patrícia Hearst, que se juntou ao grupo que a seqüestrou, chegando a participar de assaltos e ser condenada à prisão, em 1.976.
Colaboraram:
? Silvana Martani
? Noel José Dias da Costa
? Alexandre Bez
Fone: (11) 8588-8007
? Rita Jardim
Pink Chic: Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 04, Lj. 115 - RJ
Fone: (21) 2496-3668
? Cristina Dotto
Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo - (11) 3051-3901
? Escola de Formação de Terapeuta Familiar Sistêmico Breve
Fone: (11) 5083-8410
Rua Capitão Cavalcanti, 216, Vila Mariana - SP
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Atualizado em 6 Set 2011.