Guia da Semana

Esclarecendo...
O nome Síndrome de Estocolmo não possui um "fundamento teórico nas diretrizes diagnosticadas da CID 10", de acordo com o psicólogo Alexandre Bez. Ele explica que a sigla se refere à Classificação Internacional das Doenças e a síndrome referida não se encontra na lista.

Os sintomas caracterizados por Síndrome de Estocolmo existem, da forma como foram descritos abaixo, mas o psicólogo alerta que são, na verdade, uma obsessão que pode ser uma variação do Transtorno Obsessivo Compulsivo - TOC, quando a pessoa predisposta em função de outras confusões psíquicas acaba desenvolvendo uma "paixão" contra a qual não consegue lutar, necessitando de ajuda médica especializada. No tratamento poderão ser utilizados remédios contra depressão e ansiedade, conforme haja doenças associadas.



Patrícia Abravanel, filha de Sílvio Santos, foi seqüestrada em 2001. Depois de sete dias em cativeiro, ela saiu dizendo que Deus a salvou, os seqüestradores a trataram muito bem e que o governo era culpado, uma vez que o país possui "um povo muito bom que precisa ser bem tratado".

Algo parecido ocorreu com a estudante *Gisele, 21 anos, e seu namorado. Durante as duas horas que ficaram detidos por um jovem e duas crianças com armas na mão, ouviram música, conversaram sobre o namoro, fizeram votos de boa sorte para o futuro e até piadas com os bandidos. "Em alguns momentos parecia que estávamos numa viagem com amigos! Depois ele parou o carro e nos mandou sair e andar, sem olhar para trás. Foi quando tive mais medo! Em seguida, senti muita raiva por tudo o que ele nos fez passar, pelo medo e angústia. Um tempo depois soubemos que havia morrido e foi muito estranho. Meu namorado e eu nos sentimos mal, como se fosse um conhecido, um amigo talvez. A gente sabe que não era uma pessoa exatamente boa, mas não conseguimos imaginá-lo matando alguém", lembra.

Foto: Wikipedia.org
Imagem do assalto que deu
nome ao problema
O que têm em comum a filha do maior apresentador da televisão brasileira e o casal de estudantes? Um problema apelidado Síndrome de Estocolmo, quando a vítima desenvolve sentimento de cumplicidade pelo agressor. Ela foi descrita pela primeira vez no ano de 1.973, quando um banco em Estocolmo foi assaltado. Após seis dias de cativeiro, as vítimas passaram a defender seus seqüestradores e duas delas casaram com assaltantes.

"É um fenômeno psíquico e ocorre quando um indivíduo é vítima de seqüestro, assalto, prisão domiciliar e violência doméstica. As vítimas da guerra e dos campos de concentração também podem manifestar tal quadro", explica a psiquiatra Rita Jardim.

A identificação com o agressor é um mecanismo de defesa inconsciente, para evitar que alguém saia ferido. A vítima nega que a situação é de risco, passando a cooperar com o bandido. A diretora clínica e acadêmica do Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo, Cristina Dotto, diz que o estado mental acaba criando uma estratégia ilusória para a própria proteção. Isso faz com que exista um distanciamento emocional do perigo real.

Foto: Sxc.hu
A intensidade dessa relação que se forma pode levar a pessoa a acreditar que tais atos praticados pelo outro têm motivos ideologicamente corretos. "Para a pessoa, qualquer ato de falta de crueldade é sinal de generosidade. Ela acredita que o bandido podia, por exemplo, tê-la matado, mas ´deixou que vivesse´. Isso acontece para que consiga suportar o medo e a pressão", explica a psicóloga Silvana Martani. De qualquer forma, durante o ato de violência não há um desligamento total da situação real, ou seja, sentimentos de amor e ódio oscilam na vítima durante o processo.

Sintomas
Pesadelos, estado depressivo, isolamento social, tristeza, medos, fobia social, distúrbio do sono, irritabilidade, sentimento de impotência diante da vida, reações de sobresaltos, dificuldades de concentração, hipervigilância.

O psicólogo clínico do Centro Universitário Adventista de S. Paulo - Unasp, Noel José Dias da Costa, explica que, para lidar com essas vítimas, são necessários acolhimento, apoio, tolerância, ouvir e auxiliar que a pessoa discrimine os atos lesivos por parte do agressor.



O que ocasiona o problema é o estresse físico e emocional, ao qual a vítima foi exposta, fazendo com que inverta seus valores, ou seja, aquilo que parecia mal já não o é mais. Qualquer pessoa pode desenvolver o quadro, principalmente se for um indivíduo emocionalmente instável.

Segundo Cristina, pesquisas apontam que as pessoas que já estiveram expostas a violência física ou mental anteriormente, desenvolvem a síndrome com mais facilidade. Entre eles estão as vítimas de abuso sexual na infância ou fase adulta, abuso emocional e maus tratos na infância, prostitutas e vítimas de Bullying (violência física ou psicológica que intimida um indivíduo incapaz de se defender).

Foto: Sxc.hu
Durante a violência onde a pessoa desenvolve o quadro, como no seqüestro, pequenos gestos cordiais são superdimensionados pelo refém, fazendo com que interprete a realidade de forma distorcida. O problema pode ser momentâneo (mais comum) ou durar muito tempo após o ocorrido, de acordo com o período que a vítima ficou exposta. As mulheres estão mais predispostas à situação pelo fato de serem alvos vulneráveis para os agressores. Em alguns casos ocorre o "Desamparo Aprendido", quando o indivíduo percebe que não tem o controle da situação e pára de lutar ou fugir.

O tratamento é psicoterápico com medicação psicotrópica, para amenizar os sintomas depressivos, ansiosos e psicóticos que podem estar associados. Algumas doenças que podem surgir como conseqüência são Síndrome do Pânico, depressão, ansiedade generalizada, obesidade, fobias e estresse pós-traumático.

Nesses casos, é preciso trabalhar com as memórias traumáticas e reestruturar as crenças da vítima. "É importante salientar também que pessoas que têm crenças mais positivas em relação às pessoas (ex.: ´as pessoas são confiáveis´; ´existe sempre uma boa intenção frente aos comportamentos inadequados das pessoas´), são mais predispostas ao desenvolvimento da Síndrome de Estocolmo e ao estresse pós-traumático", explica Cristina.

Foto: Photocase.de


Para ajudar alguém com o problema, a intervenção no sentimento de culpa que a vítima possa ter é importante, mostrando que a aliança com o agressor foi um incidente.

Os professores da Escola de Formação de Terapeuta Familiar Sistêmico Breve, Angela Herrera e Sebastião Alves de Souza explicam que, se o problema não for tratado logo após o evento traumático, os sintomas podem se tornar crônicos, da mesma forma que os sentimentos de ambivalência em todas as relações. "A pessoa pode passar a se sentir coagida e agredida, ao menor sinal de qualquer situação em que estiver submetida às pressões comuns do cotidiano", diz Angela.

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A retomada de consciência da situação real é o ponto-chave do tratamento, de acordo com o psicólogo especializado em antropologia Mauro Godoy. Identificar o papel que cada pessoa representa e esclarecer o fato são atos importantes.

Quando a pessoa desenvolve um laço afetivo com o agressor após a violência, ela passa a defender a causa do mesmo, tornando-se submissa a ele. Um caso famoso é da neta do milionário da imprensa William Randolph Hearst, Patrícia Hearst, que se juntou ao grupo que a seqüestrou, chegando a participar de assaltos e ser condenada à prisão, em 1.976.

Colaboraram:
? Silvana Martani
? Noel José Dias da Costa
? Alexandre Bez
Fone: (11) 8588-8007
? Rita Jardim
Pink Chic: Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 04, Lj. 115 - RJ
Fone: (21) 2496-3668
? Cristina Dotto
Instituto de Neurociência e Comportamento de São Paulo - (11) 3051-3901
? Escola de Formação de Terapeuta Familiar Sistêmico Breve
Fone: (11) 5083-8410
Rua Capitão Cavalcanti, 216, Vila Mariana - SP
www.vinculovida.com.br

Atualizado em 6 Set 2011.