O verão que terminou trouxe consigo dias de chuva violenta, com muito transtorno para todos, mas, para mim e meu marido Estevão, trouxe também um presente: o Felice. Como foi que o encontramos? Passeando em uma tarde de feriado, espantada com a visão de algumas árvores derrubadas pela tempestade do dia anterior, de repente, eu quase pisei nele: caído no chão, o filhote de passarinho estava quase sem respirar. Nada adiantou procurar por seu ninho e nem por seus pais. Decidimos trazê-lo para casa sem muita esperança. Era tão pequeno que só mesmo o Estevão, como biólogo que é, poderia identificá-lo como sendo um bem-te-vi.
Sujo, feio e com nove larvas parasitas literalmente comendo vivo seu frágil corpinho, ao chegar em casa iniciamos uma sessão de limpeza e cura. Espremi uma maçã, fiz papinha e dei água em uma colherzinha de brinquedo que nem sei de onde veio, mas serviu direitinho para abrir seu biquinho e enfiar tudo lá dentro sem opção de recusa. Nós o colocamos em uma caixa de papelão, mas seu estado nos fazia desanimar até que, alguns minutos depois, ouvimos o primeiro de muitos pios que viriam depois: o Felice ia sobreviver! Foi então que o batizamos de "feliz".
Os dias que se seguiram foram inesquecíveis para nós. Dia após dia, ele crescia, brincava, depois começou a voar pela cozinha, usando a gaiola apenas para dormir. Conforme suas penas cresciam e ele se fortalecia, voava mais e mais, até que aprendeu a comer sozinho, tomar banho e beber água no copinho. Os amigos chegavam em casa e gritavam: seu passarinho escapou! Que nada, ele vivia livre dentro de casa.
Decidimos que o Felice merecia a liberdade. Soltamos o Felice no quintal e nos primeiros dias: ele já começou a se enturmar com outros bem-te-vis. Voava durante o dia, e à noite aparecia piando, pedindo para entrar e dormia no corredor. Suas visitas foram rareando mais e mais - ele até tinha um perfil em uma rede social interativa e dezenas de amigos acompanhavam suas fotos e sua história. Felice ficou famoso e sumiu: um dia não apareceu mais. Nosso coração doeu de verdade: será que ele está bem? Onde estará agora o Felice? Certamente contando para outros bem-te-vis que cresceu junto de um casal de humanos superanimados que preferiram vê-lo livre do que dentro de uma gaiola.
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Quem é a colunista: Musicista new age, dançarina espiritual, yoguini e pesquisadora de arte oriental.
O que faz: Produz CDs autorais de fusão de MPB com música indiana e árabe, realiza performances de dança do ventre como meditação, e dirige seu estúdio na Vila Madalena com cursos regulares nas áreas de Mantras, Chakras e Dança do Ventre. .
Pecado Gastronômico: Cerveja belga e champagne sofisticada.
Melhor lugar do mundo: Deserto do Novo México e Golden Temple, no Punjab.
O que está ouvindo no carro, mp3, iPod: Eu mesma, sempre!
Fale com ela: [email protected], veja seu site e seu blog.
Atualizado em 6 Set 2011.