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Algumas vezes, penso que a idéia que temos do futuro é propaganda enganosa de alguém, provavelmente de um americano, com certeza de algum publicitário. Em outras ocasiões, fico apontando como um louco um objeto ou uma máquina, tentando chamar a atenção de quem estiver do meu lado para aquela maravilha do século XXI, achando que a gente deixou o filme Blade Runner para trás faz tempo.
Na história dos carros que voam, por exemplo, nos enganaram direitinho. Já estava na hora da gente ir trabalhar de carro voador ou pelo menos de algum de nossos vizinhos mais abastados possuir um carro que voa para andar por cima do trânsito e nos deixar realmente irritados. Aposto que São Paulo seria a primeira cidade do mundo a inaugurar a hora-do-rush-beliche. Uma propaganda muito divertida dos anos 50 brinca com a imaginação futurista. Mostra a cena de uma típica casa americana, com o marido acenando para a mulher ao ir trabalhar de carro voador. A mulher, que também acena feliz da vida, está colocando a roupa no varal. Ou seja, o futuro tem carro voador, mas não ainda não tem uma máquina de secar roupas.
Veja que não estou pedindo nenhum milagre de engenharia, somente um carro que não toque o chão. É pedir muito? Estou longe de desejar algum tipo de teletransporte quântico. Aquele método de locomoção popularizado pelo seriado Star Trek, em que Spok, Captain Kirk e companhia se deslocavam da nave espacial para o planeta como se fosse mágica. Se bem que outro aparelhinho que vivia na mão dos personagens, está bem próximo da gente. Provavelmente no seu bolso ou do lado do computador. Aparelhinho este que é pra mim a amálgama do nosso século: o celular.
Quando era menor, meu pai fez dois exercícios de premonição do futuro. Acertou em um e errou em cheio no segundo. O segundo eu já comentei nos parágrafos anteriores. Fui falar para ele que quando eu fizesse dezoito anos queria dirigir uma Saveiro - que era o carro que dez entre dez adolescentes de então sonhavam em dirigir. Meu pai respondeu que quando eu tivesse dezoito anos, poderia comprar um carro voador, talvez uma Saveiro voadora. Na previsão que acertou, foi por vias tortas. Um dia me disse que no futuro todo mundo teria um número. Logo pensei em algum tipo de RG que juntasse o número do CPF com o do passaporte, da carteirinha da biblioteca, da videolocadora. Recentemente, tive uma epifania. O número que meu pai tinha previsto era o número do celular. Vocês vão ver. Logo logo, o celular vai fazer as vezes do seu RG, do CPF, do passaporte, do cartão de crédito, da carteirinha da Lan House.
Outro objeto - e por favor evitem dar risada - que me impressionou muito ultimamente foi um porta-comprimidos superhigh-tech. Ele é dividido em sete compartimentos, um para cada dia da semana, e tem sete alarmes individuais para que você não se esqueça do horário do medicamento. É ou não é sensacional? Só não sei se o seu maior público-alvo, os velhinhos, saberão programar cada compartimento. Se até mesmo a programação do relógio do videocassete pode ser uma tarefa complicada, imagine os sete reloginhos com o 12:00 piscando.
De qualquer forma, deixando de lado a frustração do carro voador, até que temos como impressionar um viajante de 1907 que desembarcasse hoje de uma máquina do tempo. Escadas rolantes nunca deixaram de me surpreender. O microondas também é uma máquina do demo. E o Photoshop com o seu poder de produzir mulheres perfeitas? O que me diz? Só não gosto muito daquele pequeno aparelho que substituiu o bloquinho de notas dos garçons. Acho que tiraram todo o charme e a poesia da profissão-garçom. Qual a graça de receber exatamente o que você pediu da cozinha?
P.S.: Fiz este texto sobre carros voadores em homenagem ao meu avô, o escritor de ficção científica Rubens Teixeira Scavone, que faleceu na semana passada. Li muito Carl Sagan e Ray Bradbury por causa dele.
Leia as colunas anteriores do James:
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? Os ex-comedores de morcegos: Hoje, o estilo roqueiro apresenta uma nova configuração. A cara de mau foi trocada pelo ar blasé!
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Quem é o colunista: James Scavone
O que faz: Diretor de Criação da AG_407
Pecado gastronômico: bala de goma
Melhor lugar do Brasil: Trópico de Capricórnio
Fale com ele: [email protected] ou acesse o blog do autor
Atualizado em 10 Abr 2012.