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Quando criança, prefere andar descalço em locais com carpete ao invés de pisos frios, onde escorrega com facilidade. Na adolescência, costuma se isolar pela vergonha e medo de fazer carinhos durante a descoberta do outro, pois o suor das mãos é excessivo e causa constrangimento.
A pessoa descrita acima se encaixa perfeitamente no paciente com hiperhidrose. O problema atinge, principalmente, palmas das mãos, plantas dos pés e axilas, mas pode se manifestar também em todo o restante do corpo.
O coordenador de logística Rafael de Oliveira Prado, 23 anos, sabe bem o que é isso. Com suor excessivo nas axilas, ele realizou a cirurgia torácica no começo do ano passado e ficou satisfeito com os resultados. "Era constrangedor. Eu trabalho com roupa social e precisava trocar de camisa sempre. Senti um pouco de dor na primeira semana após a operação, mas o problema ficou bem resolvido".
A questão se trata de um distúrbio nas glândulas que regulam a temperatura do corpo e o suor, o chamado sistema nervoso autônomo simpático. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, José de Jesus Peixoto Camargo, essas glândulas se encontram de cada lado da coluna vertebral e já é possível saber qual pertence a que ponto do corpo.
"Sabemos, por exemplo, que a terceira e a quarta glândula controlam o suor das mãos e das axilas. Dessa forma, é possível removê-las com uma microcirurgia. Antigamente, era necessário abrir todo o tórax, mas hoje não mais", explica.
Camargo afirma que a ansiedade não é uma causa do problema, mas sim um agravante. O cirurgião Luciano Esteves completa dizendo que a hiperhidrose é influenciada pela excitação, angústia, ansiedade, medo ou drogas estimulantes como cafeína, chá e refrigerante tipo cola. Durante o período de sono, raramente há a ocorrência do problema e cerca de 20% das pessoas já nascem com ele.
"Alguns dermatologistas utilizam a aplicação de botox (ácido botulínico). São 20 injeções em cada mão, quantidade suficiente para que a pessoa deixe de suar por alguns meses", conta Camargo.
A substância é geralmente empregada em casos de hiperhidrose axilar, palmar ou plantar. Quando aplicada na pele, o nervo e a glândula sudorípara ficam normais, mas é impedida a passagem do estímulo que provoca o suor.
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O suor: ele é necessário para controlar a temperatura do corpo, como em casos de atividades físicas ou ambientes com temperatura elevada. Também é papel dele eliminar as toxinas do corpo e queimar as gorduras. O distúrbio: a hiperhidrose acomete cerca de 1% da população do planeta. Como não se trata de uma doença grave, são poucos os que procuram ajuda para eliminar de vez o problema. Ela causa desconforto em situações cotidianas como assinar um cheque ou dar um aperto de mão. O suor aumenta quando... existe o aumento da temperatura ambiente, prática de exercícios físicos, febre, ansiedade e ingestão de alimentos condimentados. Hiperhidrose primária: os pacientes já nascem com a tendência, que se agrava na puberdade. Homens e mulheres possuem o problema, mas a sudorese axilar é mais freqüente nas mulheres. Ocorre em mãos, pés, axilas e face. Hiperhidrose secundária: pode estar associada a causas como obesidade, menopausa, alterações endócrinas e costuma atingir o corpo todo. Resultados da cirurgia: 95% a 98% dos pacientes com hiperhidrose palmar primária ficam satisfeitos com os resultados da cirurgia. Para hiperhidrose axilar, os resultados giram em torno de 75% a 80% e para a hiperhidrose plantar, 50% a 60% de melhora quando realiza-se a simpatectomia videotoracoscópica bilateral. |
Cirurgia Torácica: como funciona?
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A simpatectomia torácica vídeoassistida dura cerca de 20 minutos e não é necessário o repouso. Cada lado da coluna vertebral é operado de uma vez e, durante o processo, já é possível diferenciar as mãos, uma molhada e outra seca.
A anestesia aplicada é geral e rápida, pois o paciente já deve estar acordado ao fim da cirurgia. Ela consiste em duas mini-incisões de cada lado, sendo a maior de 0,5 centímetros na prega da mama e a menor de até dois milímetros na axila. As cicatrizes existem, mas são muito pequenas e escondidas.
É comum o paciente se queixar, um tempo após a cirurgia, que outras partes do corpo estão suando, como abdome e coxa. O fato se deve a uma regulagem do corpo a nova situação e é transitório.
A intenção durante o pós-cirúrgico é que a pessoa volte para suas atividades normais o quanto antes, portanto não há vantagem em fazer repouso. Os analgésicos dão o auxílio necessário. "Quem faz a cirurgia quer sair logo para mostrar suas mãos secas. A pessoa que está sofrendo, quando descobre que o problema tem uma solução, aquilo passa a virar uma emergência", conta Camargo.
Visão dermatológica
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De acordo com o dermatologista Flávio Luz, há um outro tipo de cirurgia que pode ser realizada. A operação dermatológica consiste na remoção das glândulas da axila, com aplicação de anestesia local.
O pré-operatório inclui exames e avaliação cardiológica, mas não há necessidade de internação. Após o procedimento cirúrgico, a dor é inexistente. É preciso fazer um curativo nas axilas e mexer o mínimo possível o corpo. Realizar atividades físicas ou tomar sol é permitido após cerca de dez dias.
A operação dura aproximadamente duas horas e a costura leva apenas um ponto, que é retirado depois. A conseqüência é uma perda parcial e definitiva dos pêlos da axila.
Não há riscos, mas sim algumas contra-indicações. Pessoas com distúrbio de coagulação, doenças graves, usuária de isotretinoína (derivado da vitamina A) e cicatrização ruim não podem realizar a cirurgia.
Colaboraram:
? Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica
? Flávio Luz
? Daniel Stelmach
? Luciano Esteves
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Fone: (21) 3139-4020
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Atualizado em 6 Set 2011.