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Nada é pensado. Tudo é movido pelo impulso inconsciente. Não será difícil imaginar o lugar favorito e o objeto de desejo das consumistas de carteirinha. Certamente, a conclusão: um bom shopping e dinheiro na conta bancária. Sem limites, elas usufruem produtos diversos, mesmo quando as condições financeiras não correspondem à atitude desenfreada de compra e admitem ´comprar é uma terapia insubstituível´.
"Diversas vezes já cheguei a gastar todo o meu salário em um único dia. Sinto-me absurdamente satisfeita e relaxada dos problemas enquanto faço as compras, especialmente quando consumo roupas e sapatos. O arrependimento surge apenas quando a fatura do cartão de crédito chega em casa. Posso até contrair dívidas exorbitantes e nunca conseguir acumular dinheiro, mas para mim é válido o momento", fala a psicóloga Lúcia Freire, 30.
É por volta dos 21 anos, quando o jovem já costuma ter autonomia sobre o dinheiro, que as compulsões e gastos excessivos tendem a despontar. As mulheres gastam o que podem e não podem, mesmo tendo plena consciência disto, porque são tomadas pelo desejo compulsivo de consumo. Esta vontade se estabelece pela necessidade de suprir um desejo imediato que proporcione alívio e prazer, mesmo existindo arrependimento posterior. O resultado culmina em dívidas infindáveis e ausência de dinheiro para cumprir os devidos pagamentos.
Durante o processo de aquisição de algum objeto, a mulher é submetida há momentos agradáveis, como entrar em lojas, receber a atenção dos vendedores, sair e andar com sacolas. Tudo isto causa um extremo sentimento de satisfação, portanto o prazer do ato da compra não é associado ao valor gasto, afinal ele é mais relevante que o objeto adquirido.
Os especialistas consideram as atitudes compulsivas como um sistema de autodefesa e compensação. As pessoas dependentes do consumo desmedido apresentam um baixo grau de auto-estima, tendência à depressão e ansiedade, além de dificuldades em controlar seus impulsos.
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A advogada Michele Marques, 26, recentemente ficou abalada pelo término repentino do noivado de dois anos e pela demissão na empresa onde trabalhava. A moça confessa ter investido, em um único final de semana, mais da metade do valor referente a sua rescisão em sapatos, bolsas, roupas e acessórios. "Foi totalmente compulsivo e impensado, mas tenho discernimento que as compras não me ajudaram a superar o foco do problema".
Todo ser humano busca, inconscientemente, compensar os problemas impostos pela vida em algo que lhes dê prazer. Segundo o psicólogo Alexandre Bez, as ações inconscientes diminuem a ansiedade e angústia, tendo como fator desencadeante, por exemplo, um namoro ou casamento desgastado, problemas no trabalho, falta de dinheiro e a impossibilidade de realizar um grande sonho. Quando uma pessoa se desequilibra com uma determinada situação, é necessário reestabelecer o equilíbrio emocional, usando todos os recursos disponíveis.
"A compulsão por gastar, nas mulheres, muitas vezes está ligada ao prazer no sexo. Em casais que a relação sexual não anda bem ou em que o prazer é quase nulo, é comum que elas procurem resolver esse problema de carência na loja mais próxima", explica Bez.
Se a compra causa mudança de humor e funciona como reação ao estresse ou a emoções desagradáveis que poderiam ser evitadas de uma outra maneira, é sinal de que algo escapa do controle. "Quando a tensão emocional só pode ser aliviada com o ato de compra já existe anormalidade comportamental", define a psicóloga e filósofa Marie-Josette Brauer. Uma pessoa que padece da sede do consumismo permanece em um mundo de sonhos, onde a sensação de poder supera a necessidade da compra.
Outros transtornos compulsivos são facilmente encontrados no universo feminino como os alimentares - anorexia e bulimia, os de jogo - apostas, os de sexo e os de dependência - álcool e drogas.
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A compulsão pode ser fruto da cultura e da educação dos pais ausentes que trocaram a atenção e o amor por presentes e ensinaram que a aquisição de bens de consumo leva ao sucesso e felicidade. Mais tarde, na idade adulta, a mulher que aprendeu inconscientemente este padrão comportamental, se recompensará afetivamente, através de compras escolhidas em função da auto-imagem desejada. Nunca um sentimento pode ser resolvido com um objeto concreto, pois ele implica em percepção emocional.
De acordo com Bez, a cada dez pessoas que gastam por compulsão, nove são mulheres. Ele revela que apesar dos homens não serem tão comedidos, suas aquisições, sem dúvidas, são mais planejadas, até porque, os valores superam aos dos produtos adquiridos pelas mulheres.
Enquanto elas se preocupam com objetos para o visual, eles gastam com os eletrônicos ou automóveis. Dependendo da formação de caráter podem, inclusive, alimentar a compulsão pelo álcool e compensar os conflitos nos jogos de azar. A tendência do sexo masculino é compensar suas frustrações emotivas com o sexo pago, bem como procurar ambientes com bebidas e muitos amigos para farrear.
Quase todo brasileiro apresenta a compulsão pelo gasto excessivo e curiosamente a compensação dos problemas financeiros é resolvida com dinheiro. "Gasta-se ainda mais na tentativa de esquecer as dívidas já contraídas. Isso talvez explique a dificuldade da nação em sanar suas dívidas e conseguir dar a volta por cima", finaliza Bez.
Dicas para se manter longe das dívidas ? Afaste a tentação. Não adquira cartões de crédito. Eles estimulam o gasto e criam a falsa impressão de que se tem muito dinheiro ? Tenha alguém de confiança para cuidar de sua conta bancária, que consiga alertar para gastos excessivos e desnecessários ? Tente se policiar. Analise se a aquisição é realmente necessária ? Mantenha somente uma pequena quantia de dinheiro na carteira ? Procure não entrar em financiamentos com muitas parcelas e assumir dívidas. Ao final do mês, elas irão se acumular e o dinheiro poderá faltar ? Quando a tentação surgir, ligue para os amigos e faça atividades que lhe distraiam, como pintar, conversar ao telefone, ver um filme ? Para as mulheres uma dica coringa: pelo menos uma vez por mês coloque o guarda-roupa a baixo, assim lembrarão quantas peças possuem e podem aprender combiná-las entre si |
Para falar com Alexandre Bez:
(11) 8588-8007
Atualizado em 6 Set 2011.