Perambulando pela internet, uma provocação sobre o que as mulheres querem me fez parar pra pensar um pouco. Na brincadeira, alguém afirmava que, entre as várias alternativas, "grana" ganharia disparado de "amor". Há anos escuto homens afirmando isso.
Não vou tentar responder essa questão aqui. Estaria falando por outras e, com certeza, erraria.
O que quero é pensar um pouco sobre relacionamentos, e sobre como as pessoas estão funcionando. Quando os homens se queixam de que mulheres preferem dinheiro a amor, estão falando da dificuldade que têm em encontrar um amor, e parece-me que ter uma resposta pronta pra justificar isso consola um pouco.
Do outro lado, de mulheres, sempre escuto queixas que não têm muito a ver com dinheiro. Queixam-se de falta de atenção e carinho, de infidelidade, e da dificuldade em encontrar alguém em quem se possa confiar.
O que percebo: todo mundo gostaria de ter um amor. Nunca cruzei com quem dissesse com todas as letras não desejar um amor.
No momento em que escrevo esse texto é sábado à noite. Segundo Lulu Santos, "todo mundo espera alguma coisa de um sábado à noite". Do alto de minha própria solidão, entro no Facebook e há lá um sem número de solitários disponíveis no chat, talvez esperando alguma coisa. Na página inicial, mil demonstrações de solidão. As pessoas postam vídeos, textos, poesias, frases românticas, esperando que, do outro lado, haja alguém que se identifique.
Passeando por alguns blogs, encontro textos lindos, que falam de amor. Do amor que se realiza, que não se realiza, do amor covarde, do amor que olha de longe, do amor que sonha mas se julga impossível sem ao menos tentar... Homens frequentemente escrevem sobre mulheres como se fossem objetos inatingíveis. Talvez a grande curtição seja mesmo ficar imaginando e não viver de fato. Do outro lado, seus "objetos inatingíveis" sofrem a mesma solidão, se perguntando o porquê de tanto distanciamento.
No texto de um amigo, a frase "amor que é amor elabora chacina de amores" bate na minha cara, e me curvo ao tanto de verdade que há aí. Converso com um amigo que diz que, a partir de agora, esperará pelo amor sentado em seu sofá. Me diz também que, quanto maior a admiração que um homem tem por uma mulher, maior seu distanciamento dela. Seria razoável concluir que, se quisermos conquistar um homem, melhor não ser uma mulher admirável?
Percebo que o tempo dos homens é mais lento que o das mulheres. Enquanto eles estão "considerando a possibilidade de", elas já estão se cansando e desistindo. E ser proativa parece contraproducente porque, por questões culturais, grande parte dos homens ainda perde o interesse pelo que é fácil. Recebo infinitos e-mails coletivos que falam de como podemos nos melhorar como seres humanos e, se respondo pessoalmente a quem me enviou, quase nunca obtenho resposta. As pessoas estão jogando e-mails ao vento? Não querem o contato pessoal? Mandam e-mails e, quando respondemos, nos deixam no vazio?
Me mostro acessível a um fã ardoroso e recebo como resposta a triste constatação de que não me considera gente, apenas texto. Sei, por experiência própria, que há no mundo virtual quem se contente em ser virtual por toda a vida. A impressão que tenho é de que o medo do contato, da rejeição e do mergulho no outro suplanta, em muito, qualquer expectativa de algo realmente bom e profundo.
Por que a aposta positiva no outro assusta tanto? Será mesmo que não é mais possível se confiar em ninguém? Será que se tentarmos e nos machucarmos, nos quebraremos como um cristal e jamais conseguiremos unir nossos cacos? Somos tão frágeis assim? Afinal, que passo poderíamos dar pra desmistificar um pouco a questão do amor e dos relacionamentos?
Leia as colunas anteriores de Ana Lucia Sorrentino
Eu sou eu
Recheada de Los Hermanos
Mudanças
Quem é a colunista: Alguém que quer aprender e ensinar o que aprendeu de bom, pra não estar sozinha nessa...
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Atualizado em 12 Fev 2014.