Guia da Semana

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A paixão pelo futebol pode ser tão grande a ponto do torcedor querer comprar o time? Parece coisa de brasileiro, mas a intenção é de um grupo de ingleses, torcedores do Liverpool. Para melhorar a situação do clube, que está apenas na quarta posição da tabela do Campeonato Inglês, a organização de torcedores chamada ´Share Liverpool FC´ pretende mobilizar cerca de cem mil fãs da equipe a fim de conseguir dinheiro suficiente para comprar as ações dos atuais proprietários, os milionários americanos Tom Hicks e George Gillet. E se a moda pega?

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Em entrevista ao Soccernet.com, o líder do movimento Rogan Taylor, diretor do Grupo da Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, explica que a torcida está insatisfeita com os atuais ramos do clube, que está cada vez mais endividado. "Nós sabemos que no futuro somos nós quem vamos quitar estes débitos. Então por que nós mesmos não podemos comprar o clube?", questiona. Ainda explica que, se o Share Liverpool FC conseguir controlar o clube, a administração seria similar a do Barcelona, onde os sócios têm maior poder de decisão. A meta do grupo é arrecadar 500 milhões de libras - cerca de 2 bilhões de reais - o suficiente para conseguir ações e ainda construir um novo estádio.

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Por que o Corinthians, que também passa por uma fase conturbada, não segue a tendência? Em uma situação hipotética, se cada torcedor entre os 24 milhões espalhados pelo Brasil afora - segundo pesquisa realizada pelo Ibope a pedido do Lance! - contribuísse com R$ 10,00 para um fundo pró-Corinthians, seria possível arrecadar a quantia estimada para a construção do estádio do time na zona leste, anunciada há alguns meses. O projeto foi avaliado em R$ 250 milhões. Já a compra total do time pediria muito mais da torcida, em decorrência da enorme dívida deixada pela ´herança maldita´ do ex-presidente Alberto Dualib e da MSI - avaliada em R$ 95,7 milhões.

A torcida responde...
A nação corintiana hesita quando questionada. A advogada Adriana Bastos prefere não se comprometer, "Comprar problema? Eu não!". Já o jornalista Fernando Rinco é mais solidário, "Se fosse para ajudar o time a sair de uma crise financeira, eu ajudaria. Mas gostaria de participar como sócio do clube, como se fosse aplicar na Bolsa. Iria controlar o meu dinheiro, as aplicações, para saber para onde a grana está indo. Nessa situação, como uma empresa, eu compraria sim."



Como os times são administrados?

No Brasil, os presidentes são eleitos por sócios ou por juntas de dirigentes/conselheiros/acionistas, aos moldes do que acontece também na Espanha e na Alemanha. Na Itália e na Inglaterra, é diferente, os clubes de futebol são instituições de capital privado. Os principais possuem um único dono, responsável pelas finanças, investimentos e muitas vezes, pelas contratações de suas equipes.

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Na terra da última seleção a conquistar a Copa do Mundo, alguns times faliram por causa de dirigentes corruptos, como Fiorentina, Napoli, Parma e Lazio, e agora também pertencem a novos donos ou à torcida, como é o caso da Fiorentina. Os times grandes, como Milan, Inter e Juventus, não possuem preocupações financeiras, pois são controlados pela financeira Fininvest, petrolífera Saras e montadora Fiat, respectivamente.

Na Inglaterra, a maioria dos grandes times ingleses também mudou de dono. Para adquirir um clube é preciso bastante dinheiro. Em alguns casos, a intenção da compra é melhorar a própria imagem, como é o caso dos donos do Chelsea e do Manchester City, Abramovich e Shinawatra. Ambos têm uma quantia considerável de dinheiro, mas precisam construir uma boa imagem, pois são acusados de algumas atrocidades em seus países de origem.

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Em outros casos, os norte-americanos investem em um time como uma forma de ganhar dinheiro, seja em cima do torcedor, da televisão ou de uma futura venda, como acontece com os Glazers, no Mancherster United e Gillet, no Liverpool. Isso gera uma certa rejeição por parte da torcida, pois significa preços de ingressos e produtos inflacionados e a exclusão dos torcedores das camadas mais baixas da população. O time vira um produto e acaba trocando o foco das conquistas para o lucro.

Caso os torcedores do Liverpool conquistem o objetivo de fato, vai ser aberto um capítulo a parte no processo de aquisição de clubes por torcedores. Isso pode resultar em uma mudança significativa na área comercial dos times, além de uma transformação da indústria como um todo, inclusive do Brasil.

Mas não será tão simples assim. "Até concordo que alguns torcedores possam comandar um time de futebol, desde que tenham preparo técnico para tanto, experiência administrativa no ambiente futebolístico, e a emoção do torcedor não se sobreponha à razão, interferindo na boa administração do clube. É importante lembrar que o futebol hoje é um negócio que movimenta quantias consideráveis.", opina o conselheiro da Sociedade Esportiva Palmeiras, Americo Calandriello, hoje vice-presidente do Futebol Amador da Federação Paulista de Futebol.

A torcida ganha espaço...
Por enquanto é inviável a torcida comprar o time no Brasil, mas o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, anunciou no dia 20 de fevereiro que o torcedor do clube terá poder nas contratações do time. A Timão TV, lançada no mesmo dia, oferece aos torcedores cadastrados a opção de sugerir e votar em futuras contratações do clube, entre jogadores, treinadores e dirigentes.



Atualizado em 1 Dez 2011.