Guia da Semana

Foto: sxc.hu

Depois que a nadadora Rebeca Gusmão foi acusada de burlar o exame antidoping, organizado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, o assunto sobre o uso de anabolizantes voltou à tona. O exame antidoping ocorre após qualquer campeonato, onde coleta-se urina para análise em laboratório. Nele, pode ser constatado o uso de substâncias consideradas ilegais que ajudaram o atleta a ter uma boa postura física e um melhor desempenho durante a competição.

Essa vontade de ter um corpo perfeito em pouco tempo, conseguir a aparência de um ´deus grego´, além de disposição para a prática de exercícios físicos, leva muitos alunos de academias e atletas a usarem os chamados esteróides anabolizantes. Quando aplicados de maneira incorreta, sem orientação e em excesso, eles dão o resultado de um "corpo perfeito", mas causam diversos danos à saúde e também ao organismo, que acaba sofrendo as conseqüências, algumas vezes irreversíveis.

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A endocrinologista Ruth Clapauch explica que os esteróides anabolizantes naturais são derivados do hormônio testosterona, encontrado em mulheres e em maior quantidade nos homens. Esse hormônio é responsável pelo desenvolvimento de diversos tecidos, principalmente muscular e ósseo. Porém, existem os chamados anabolizantes sintéticos, produzidos em laboratórios e usados ilegalmente por atletas para aumentar a massa muscular. "Não recomendamos o uso de esteróides para essa finalidade e muito menos para a prática de fisiculturismo", alerta a endocrinologista.

Os esteróides são recomendados por médicos quando o organismo necessita de reposição hormonal. De modo geral, são utilizados para a estimulação do crescimento ósseo, do apetite e da puberdade. "Esses anabolizantes podem ser usados em pacientes submetidos a grandes cirurgias ou que sofreram um acidente grave, situações que acarretam um colapso de proteínas no organismo", explica o médico do time profissional do São Paulo e clínico geral da Universidade de Mogi das Cruzes Auro Freitas.

Uma pesquisa realizada em 2007, pela Revista da Sociedade Internacional de Nutrição Esportiva apontou que houve um aumento no número de usuários de anabolizantes ilegais. O perfil descrito é de homens com mais de 30 anos, que possuem um emprego fixo e uma renda estável. Mas, essa onda também atinge os adolescentes, alguns constrangidos por serem mais magros que os amigos e receberem apelidos impróprios. Para o psicólogo José Augusto Goldone "a idéia de corpo perfeito acabou se tornando uma cultura, pelo fato dos jovens irem na conversa dos outros e também pela relação com o consumismo. Os usuários querem resultados rápidos e compram a idéia, sem saber que a saúde corre riscos".

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Já a sexóloga e psicóloga Christine Gribel disse que essa não aceitação do corpo e a vontade de ser valorizado pela aparência, leva o indivíduo a buscar alternativas rápidas para a obtenção da silhueta desejada. Essa obsessão é chamada vigorexia e caracteriza-se pelo culto ao corpo em todas as proporções. "O que importa para o vigoréxico é estar dentro dos padrões de belezas impostos pela sociedade atual", esclarece Christine.

Os efeitos colaterais causados pelo uso excessivo de hormônios variam entre homens, mulheres e adolescentes. Em comum, os anabolizantes sintéticos inibem a produção natural da testosterona no organismo, causam o aumento da pressão sanguínea, aumento dos níveis de colesterol, tendo riscos de doenças cardiovasculares, acne, calvice precoce, toxicidade hepática e crescimento excessivo da gengiva. O endocrinologista Marco Antônio Vívolo destaca que "tanto o uso via oral quanto o injetável podem induzir o crescimento de células cancerosas no fígado".

A ansiedade é outra conseqüência do uso de esteróides. A bióloga Vanessa Moraes, na tese de mestrado Efeito do esteróide anabólico nandrolona sobre o nível de ansiedade em ratos, analisou o comportamento desses animais na aplicação do esteróide nandrolona, usado no tratamento de síndrome de imunodeficiência adquirida e também na reposição de hormônios na andropausa, quando o homem está com baixos níveis de testosterona. Porém, esse esteróide é usado por atletas para o aumento da massa muscular e da atividade metabólica. Nas observações feitas, os ratos foram colocados num labirinto em formato de cruz. A especialista notou que, quando aplicada doses do esteróide, houve uma inquietação dos animais que não conseguiam sair da posição inicial.

O que acontece em cada organismo?
Adolescentes
- Comprometimento do crescimento (fusão prematura da epifise óssea)
- Maturação óssea acelerada.
- Aumento da freqüência e duração das ereções penianas.
- Desenvolvimento sexual precoce.
- Desenvolvimento extremo das características sexuais secundárias (hipervirilização).
- Aumento dos pêlos púbicos e do corpo.
- Crescimento da barba.

Homens
- Ginecomastia (aumento das mamas).
- Função sexual reduzida.
- Atrofia testicular.
- Infertilidade.

Mulheres
- Crescimento de pêlos no corpo.
- A voz fica mais grave.
- Aumento do tamanho do clitóris.
- Diminuição temporária do ciclo mentstrual.


Os especialistas explicam que as conseqüências podem ou não ser reversíveis, dependendo do tempo em que o atleta está usando e das doses aplicadas. Se o estágio é inicial, com pouco tempo de aplicação, é somente parar o consumo que o organismo volta, aos poucos, ao estado normal de produção de testosterona. "Mas caso esteja há anos aplicando e em doses excessivas, o usuário pode ter câncer de fígado e infertilidade", disse o endocrinologista Marco Vívolo.

Um erro comum é confundir os suplementos alimentares com anabolizantes. Os ciclos de suplementos melhoram o condicionamento físico, sendo compostos por vitaminas, minerais, extratos fitoterápicos, carboidratos, proteínas, entre outros princípios naturais. O preparador físico e especialista em nutrição esportiva Fábio Veredas indica esses ciclos para seus alunos, acreditando ser um método simples e prático para melhora da nutrição, hoje deficiente em muitos nutrientes importantes para o organismo.

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Nos ciclos que indica, o especialista em nutrição esportiva recomenda uma combinação do suplemento Whey Protein, proteína concentrada no soro do leite, e a Maltodextrina, com carboidratos do milho. O investimento, para ter bons resultados, chega a ser em torno de 90 reais para um mês de suplementação. O preparador destaca que a orientação de um especialista é importante para que os resultados sejam obtidos de maneira eficaz e saudável, além de ter uma boa base alimentar e bom ritmo de treinos.

O suplemento alimentar colabora para que o aluno acelere seus ganhos de massa muscular, queima de gordura e desempenho na prática de exercícios. Caso o praticante resolva parar de tomar esses suplementos, mas continuar a fazer os exercícios, Fábio explica que "normalmente há uma regressão do corpo, mas não ao estado inicial. Uma vez que pare, o atleta terá condições de manter os resultados obtidos, com uma boa alimentação e ritmo de treino", completa.

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Para Fábio, a alimentação ideal é aquela o mais natural e integral possível. O preparador físico recomenda que seus alunos evitem enlatados, codimentos, frituras e doces, tendo assim pouca gordura acumulada e melhores resultados com os exercícios praticados.

O médico esportista Auro Freitas diz que os suplementos não são considerados substâncias proibidas por não existirem trabalhos científicos que comprovem efeitos colaterais que prejudiquem o organismo. "A dieta balanceada e um treino bem orientado são a forma mais saudável de obter um bom rendimento metabólico-nutricional, que atenda às necessidades de uma pessoa que queira iniciar sua atividade física", finaliza.

Colaboraram:
? Endocrinologista Dra. Ruth Clapauch: Downtown

? Endocrinologista Dr. Marco Antônio Vívolo

? Psicóloga e Sexóloga Dra. Christine Gribel: Downtown

Psicólogo Dr. José Augusto Goldoni
Avenida Nove de Julho, 160, cj 65 - São Paulo - Contato: (11)3231-0626/(11)5181-8033

? Clínico Geral da Universidade de Mogi das Cruzes e Médico do Time Profissional do São Paulo Dr. Auro de Freitas Rayel

? Preparador Físico e Especialista em Nutrição Esportiva Fábio Veras

? Bióloga Vanessa Moraes

Atualizado em 6 Set 2011.