| Fotos: Gabriel Oliveira |
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| Adriana Araújo, é mulher ou travesti? |
No último mês, um escândalo envolveu o jogador Ronaldo e abriu margem para uma discussão. Ele teria procurado garotas de programa e na hora certa, segundo ele, notou que as meninas na verdade tinham algo a mais. Afinal, é possível confundir travestis com mulheres?
O Guia da Semana foi às ruas e descobriu que, segundo os próprios travestis que fazem programas, isso não é possível. A opinião delas (sim, os travestis obviamente preferem ser chamados pelo feminino) é unânime: Ronaldo realmente estava procurando um homem vestido de mulher. Saindo da polêmica do jogador, elas dizem que suas mãos e pés jamais serão como de uma mulher, além da voz.
"Às vezes passa um ou outro que me confunde com mulher. Mas se eles perguntam, eu respondo que sou travesti. Uma vez, brinquei e falei que era mulher. Fechei o programa e quando o rapaz descobriu que eu não era, ficou louco e começou a me bater, aí chamei o segurança do hotel, que o fez parar. O programa foi pago, só que nunca mais faço isso", afirmou Débora Carvalho, 21 anos e casada há três.
Um homem rico e casado, entre 40 e 60 anos, com um bom carro, pára em uma esquina da Avenida Indianópolis, na Zona Sul de São Paulo. Ele abaixa os vidros escuros do automóvel e pergunta para "garota" que tipo de programa ela faz. A resposta que esperam normalmente é que façam os papéis ativo e passivo. No caminho para o motel ou drive, a história do cliente sempre se repete: é a primeira vez na vida que eles serão passivos.
"Os nossos maiores clientes são homens acima de 30 anos e casados. Quase todos pedem para ser passivos e ativos, isso quando não querem ser só passivos. Se não fosse para isso, eles procurariam uma mulher, que só pode dar", diz a manauara Adriana Araújo, de 19 anos, há quatro anos trabalhando na avenida em São Paulo e com 350 ml de silicone em cada peito.
"Eu perco muitos clientes por causa disso. Eles só querem dar para a gente! Parece que não tem mais homens nessa cidade! Como eu sou somente passiva, as outras ganham mais dinheiro do que eu. E as mais masculinas, com barba na cara, ganham mais ainda", reclamou Débora, que, assim como todos os travestis da Avenida Indianópolis, cobram R$ 50,00 por hora (ou, segundo algumas delas, até o cliente chegar ao orgasmo).
Transformação
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| Patricia Sabatiny fica à vontade na rua |
Os travestis usam e abusam de hormônios e cirurgias, o que facilita a suposta confusão do atacante Ronaldo. É difícil encontrar um travesti que não tenha silicone no peito e outras cirurgias faciais. As mais comuns são o fio de ouro, que puxa o canto do olho para uma maior aparência feminina, a que afina o nariz. A prótese no bumbum também é bem procurada.
A cirurgia de retirada do pênis é o sonho da maior parte dos travestis. Mesmo sabendo que perderiam parte do "encanto" do que as atrai nos clientes, elas querem ser mulheres acima de tudo. Aruba, no México, tem uma boa fama entre elas para esse tipo de cirurgia, que custa cerca de R$ 15 mil. Abaixo relacionamos uma tabela com os principais hormônios e anticoncepcionais usados pelos travestis e seus efeitos no organismo.
| Hormônios Quando o homem usa hormônios femininos a tendência é que o corpo tome formas de uma mulher, como quadris mais largos, aumento do bumbum, seios, etc. ? Perlutan - anticoncepcional - injetável pela via intramuscular ? Deprovera - anticoncepcional - injetável pela via intramuscular ? Ciclofemina - anticoncepcional - injetável pela via intramuscular ? Estygin - alivia os sintomas da menopausa - comprimido ? Premarin - alivia os sintomas da menopausa - comprimido ? Gestadinona - previne o aborto - injetável pela via intramuscular ? Androcur - diminui a capacidade de procriação e aumenta a sensibilidade do mamilo ao toque - comprimido ? Finasterida ou Propecia - aumenta a sensibilidade emocional e ao toque - comprimido |
Preconceito e agressões
A grande maioria dos travestis que fazem programa à noite (e muitas vezes na parte da tarde) estão vestidos de mulher durante o dia também. As que vieram de cidades do interior dizem que em São Paulo o preconceito não é tão grande, apesar de a reportagem ter constatado durante toda a entrevista deboches e palavras pouco elogiosas dos que circulavam pela avenida.
"Não vejo preconceito de lugar algum. A minha relação com a família é muito boa. Só briguei com a minha mãe, mas foi por outros motivos. A única vez em que fui agredida foi quando um cara não queria pagar o programa e me deu uma facada no peito. Fiquei dois meses sem trabalhar" relembra Débora.
"Ainda hoje existem pessoas preconceituosas. Eu já levei até tiro de borracha de alguns idiotas. Um dia, passou um carro com quatro moleques jogando fumaça de extintor na gente, só que eu não pensei duas vezes. Peguei o meu carro, as meninas entraram e fui atrás. Quando cheguei ao lado, comecei a bater o meu carro contra o deles, amassei toda a lataria, acabei com o carro deles e com o meu também. Não estava nem aí, tinha seguro mesmo", conta a sorridente Patrícia Sabatiny, 21, na avenida há três anos.
Polícia e máfia
Comum em períodos eleitorais, a prefeitura sempre dobra as atividades relacionadas diretamente à sociedade. O policiamento é um exemplo disso e quem sente as conseqüências são os travestis. "Em época de eleição, os policiais ficam mais chatos. Eles mandam a gente colocar a roupa e tem alguns que querem nos expulsar da rua. São mais agressivos do que o normal", explica Patrícia.
A fama dos travestis de andarem armados e na verdade serem assaltantes disfarçados existe, e esse é um dos motivos do policiamento. "Aqui na Indianópolis mesmo, perto do Drive, tem uma quadrilha. São homens de verdade que ganham a simpatia do cliente, mas quando saem para fazer o combinado, aplicam o golpe e roubam", diz Adriana. Já quadrilhas de travestis que saem com famosos, como foi cogitado no caso Ronaldo, são mais difíceis, mas podem existir.
Seguindo a linha de "armação", as garotas também alegam ter policiais corruptos que tiram proveito do trabalho delas. "Existem dois policiais que ficam com o carro escondido esperando algum cliente meu chegar. Quando fecho o programa e entro no carro para sair com ele, esses policiais nos seguem e mandam parar. Eles abordam o cliente e começam a fazer ameaças falando que vão denunciá-lo e levá-lo para a delegacia, com a intenção de tirar o dinheiro dele. Com muito medo e receio, o cliente dá o que os policiais pedem e vai embora", lamenta Melany, 20, que sempre está na Alameda dos Araés e garante que também é tratada com muito respeito por outros policiais.
| Onde você, sem dúvida, encontrará travestis em São Paulo ? Jóquei Clube ? Avenida Indianópolis ? Avenida General Olímpio da Silveira (embaixo do Minhocão) ? Rua Rego Freitas ? Avenida Robert Kennedy ? Avenida Washington Luis ? Avenida Vieira de Carvalho (próximo a Praça da República) ? Rua Frei Caneca |
Conscientes do perigo que o trabalho oferece, todas as entrevistadas afirmaram usar preservativos para os programas realizados, sejam passivos, ativos ou orais.
Atualizado em 10 Abr 2012.
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