Guia da Semana

Foto: Nathalia Clark

Bento (que olha para ela) e Mac (atrás) estão sempre perto de Christiana

Mac, o labrador, e Bento, da raça boxer, receberam muito amistosamente a reportagem do Guia da Semana na casa da escocesa Christiana MacInnes Tess, a primeira mulher a se tornar presidente da St. Andrews Society em São Paulo. Embora grandes - daqueles que chegam a assustar -, os cachorros ficaram imóveis o tempo todo ao lado de Christiana durante a entrevista, como verdadeiros gentlemen.

As apresentações se fazem necessárias: a St. Andrews é uma sociedade que reúne os nativos da Escócia, seus descendentes e pessoas de outras nacionalidades para difundir a cultura escocesa. A sociedade foi fundada em 1924, em um encontro que reuniu 19 escoceses em uma casa da Avenida Paulista, e desde então é responsável por organizar eventos culturais (como aulas gratuitas de dança) e de confraternização, além de oferecer apoio para a comunidade de expatriados no geral - e especialmente de ingleses - e para entidades de apoio a crianças carentes. Um dos eventos mais tradicionais do calendário da organização - e o maior deles - é o Burns Supper, um jantar que homenageia o poeta Robert Burns, considerado um herói na nação da gaita de foles.

E quem supervisiona a organização dos eventos é Christiana, que promove os encontros dos membros da sociedade na casa dela. Engana-se quem pensa que ela é membro da sociedade há muito tempo. Tudo começou quando ela foi convidada para um Burns Supper, há quatro anos, e ouviu os discursos que são feitos de maneira solene nesse dia. "Eu sugeri umas mudanças no texto declamado para as mulheres", conta. As sugestões foram aceitas e, já no ano seguinte, foi ela a autora do texto.

Christiana - que também faz parte do conselho do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura) - passou a ter uma participação mais ativa dentro da sociedade e, depois disso, ela foi convidada para a vice-presidência. "Para chegar à presidência não foi difícil. Como o presidente viajava muito e é o vice quem assume o lugar dele, eu acabei sendo nomeada", conta. E foi reeleita em 2010.

Mas ela encara tranquilamente o cargo de presidente da sociedade que era, até então, tradicionalmente gerenciada por homens. Para ela, o fator determinante para a sua eleição foi o fato de ela sempre fazer parte das decisões. "Há algumas mulheres no conselho da St. Andrews, então isso aconteceria um dia", conta. Mas ela lembra que a participação feminina foi aumentando aos poucos, até mesmo nas festas promovidas pelos escoceses. "Eu lembro do Burns Supper, na Escócia, que somente os homens iam, as mulheres ficavam na cozinha".


Foto: Nathalia Clark

Sua participação ativa na sociedade a fez ser eleita presidente da St. Andrews


Na vida pessoal, Christiana tem uma história muito interessante para contar. A escocesa da cidade de Glasgow, no centro do país, conheceu seu marido Eduardo - que é brasileiro - na universidade. "Ele foi para a Escócia como exilado na época da ditadura no Brasil", lembra. Eles se conheceram logo no começo do curso de Política e Sociologia e foi paixão à primeira vista. Começaram a namorar e, quando se formaram, ele voltou ao Brasil em 1981 e ela o acompanhou - Eduardo pôde terminar o curso de Direito que havia começado aqui antes de viajar.

A adaptação em terras brasileiras, para ela, não foi tão difícil quanto se espera de alguém que nunca tinha pisado em solo tropical. "Eu já conhecia muitos amigos do Eduardo na Escócia, então eu me adaptei rápido", diz em português perfeito - e com um sotaque leve e agradável. Nem o idioma chegou a ser uma barreira: ela já havia estudado francês, italiano e latim antes de vir para cá.

Os 30 anos de vivência em terras brasileiras deram a ela a fluência no português, o casamento com o advogado Eduardo, três filhas e um carinho muito grande pelo Brasil. "Adoro o calor!", exclama. Ela vai à Escócia três vezes ao ano para visitar sua família e chega a ficar um mês em viagem. Mas não pretende morar lá novamente. "No inverno, faz -15ºC, -20ºC. É muito desconfortável. Nesse ano, no verão, quando todo mundo reclamava do calor, eu dizia 'não, está muito bom assim!'".

Não só o clima quente agrada Christiana. A culinária brasileira é outra grande paixão da escocesa - que adora feijoada. "Gosto muito de cozinhar, e eu já fiz feijoada até na Escócia", conta. "E eles adoraram!" É ela quem prepara os pratos servidos nas reuniões que ela promove na casa dela, tanto para amigos quanto os membros da St. Andrews. "A gente sempre termina com um jantar".

Mesmo no futebol, como os jogos do Brasil contra a Escócia, ela não tem dúvidas: torce para a Escócia. Mas não somente por patriotismo. "Eles são muito ruins. Torço para eles não perderem tão feio", conta, rindo. "Na Copa que aconteceu na França, eu estava em Paris no dia do jogo entre Brasil e Escócia. Quando vi que ela fez o primeiro gol, não acreditei. Mas aí o Brasil fez 2 a 1", lembra.

A noite cai, o bate-papo agradável com Christiana se encerra, junto com mais algumas fotos que contam com as presenças dos sempre companheiros cachorros Mac e Bento. "Eles são muito bonzinhos e sempre estão comigo", explica.


Atualizado em 10 Abr 2012.