Guia da Semana

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Crianças correndo pela casa, fazendo perguntas, sujando roupa. Entre os prós e os contras de ter filhos, é possível encontrar a esterilização. De repente, você tem o poder de escolha, se quer ou não ficar barriguda por nove meses, para depois trocar a frauda do pequeno e colocar para dormir.

A princípio, a lei nº 9.263 (12/01/1.996) determina que a esterilização voluntária só é permitida em homens e mulheres com "capacidade civil plena e maiores de 25 anos de idade ou, pelo menos, com dois filhos vivos, desde que observado o prazo mínimo de 60 dias entre a manifestação da vontade e o ato cirúrgico, período no qual será propiciado à pessoa interessada acesso ao serviço de regulação da fecundidade, incluindo aconselhamento por equipe multidisciplinar, visando desencorajar a esterilização precoce".

É importante lembrar que, no caso de união, a decisão deverá ser feita pelo casal, ou seja, se um ou outro não for a favor, o procedimento não será realizado. De qualquer forma, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) criou um Projeto de Lei no Senado que visa alterar essa situação.

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O projeto está em análise para futura votação, mas pretende diminuir a idade mínima para optar pela esterilização cirúrgica de 25 para 18 anos. A alteração quer também tornar obrigatória a educação sexual nos estabelecimentos de ensino médio e fundamental da rede pública e privada, incluí-la na instrução prestada aos militares submetidos ao serviço militar obrigatório e demais cursos de formação militar e policial, instituir o "Dia do Planejamento Familiar", a ser comemorado anualmente em 12 de janeiro, com o objetivo de difundir a prática e os direitos reprodutivos da população e, por último, dispensar a autorização de um cônjuge (marido, esposa, companheiro) para que o outro exerça esse direito.

De acordo com o senador Marcelo Crivella, a lei traria como benefícios redução do número de abortos criminosos, da taxa de maternidade/paternidade cada vez mais precoce, do número de óbitos por deficiência ou ausência de tratamento pré-natal e obstétrico e do número de crianças "órfãs de pai e mãe vivos". "No Brasil, uma em cada quatro crianças não tem o nome do pai em seus registros de nascimento. Não dá para continuar a ignorar isso", diz.

Somente no ano passado, foram realizadas mai de 19 milhões de laqueaduras pelo Sistema Único de Saúde, em todo o Brasil. Um número muito maior do que a cirurgia de esterilização masculina (vasectomia), que totalizaram 4,8 milhões operações dentro das mesmas condições.

Poder de decisão

A professora Lilian Vieira fez a esterilização já no parto do segundo filho, com 22 anos. Na época, ela acreditava que duas crianças eram o suficiente e outra gravidez poderia interferir nos planos profissionais. "Hoje, 14 anos depois, é difícil falar em arrependimento, pois tudo na nossa vida acontece por etapas. Trabalho exatamente na profissão que me faz feliz e estou no segundo casamento. Às vezes, bate aquela vontade de ver como sairia nossa ´mistura´ com mais um filho, mas estamos em outro momento", relata.

E quanto ao adolescente? Ele tem condições de tomar esse tipo de decisão? As opiniões divergem, mas um ponto existe em comum: é preciso educar a população antes de pensar em criar válvulas de escape para os problemas de saúde pública.

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Para o psicólogo Marcelo Palma, as decisões tomadas ao fim da adolescência não podem ser menosprezadas, uma vez que elas correspondem a um processo psicológico de raízes profundas. Por outro lado, ele acredita que, quanto mais cedo for realizada uma esterilização, maior será o número de pessoas que vão apresentar arrependimento.

Segundo ele, apesar de a adolescência ser uma época de indecisões, é também marcada pela primeira grande síntese no desenvolvimento psicológico dos seres humanos, que dita o curso do futuro em muitos aspectos, quando nascem os grandes projetos de vida individual e mesmo coletiva. É ao final da adolescência que se tem consolidada a capacidade de planejamento e onde também se completa a maturação emocional psicobiológica.

Já a psicóloga Mariza Povoas, que faz trabalho voluntário para a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, lembra que o adolescente possui como característica a mutabilidade. É nessa etapa, difícil de delimitar por idade, mas variando entre 12 e 19 anos, que o jovem ganha características físicas que o deixam desconcertado e a procura de identidade.

Ela acredita que seja uma decisão muito forte até para mulheres maduras, portanto pode acarretar sintomas de depressão e ansiedade posteriormente, caso a jovem venha a se arrepender da escolha. "Já vi mulheres que abandonaram alguns filhos e engravidaram novamente, como que tentando resgatar o erro cometido. O mesmo pode ocorrer com uma decisão precipitada, onde a menina terá dificuldades em construir sua identidade e tentará resgatar o erro de alguma forma."

A decisão é difícil, mas o que ambos profissionais concordam é que se tornam necessárias políticas públicas que eduquem a população. Palma diz que a lei poderia promover avanços caso o Brasil tivesse, por exemplo, uma legislação de aborto mais flexível, como acontece em outros países. Para ele, o último recurso é discutido como se fosse o primeiro, uma vez que já existe camisa de Vênus, DIU, camisinha vaginal, tabelinha bem feita, pílula, pílula do dia seguinte e até mesmo injeção para evitar a gravidez.

De acordo com Crivella, é importante lembrar que essa lei ajudaria a diminuir a quantidade de abortos clandestinos no país, através da oferta de educação sexual, compreendendo o correto uso de meios contraceptivos. "Contudo, precisamos ter consciência de que, mesmo nos países que legalizaram o aborto, após a legalização constatou-se que as clínicas clandestinas não desapareceram. Isso porque a clandestinidade não é resultado exclusivamente da inexistência de lei que autorize o aborto, mas muito mais, da própria condição psíquica de algumas mulheres que abortam, pois preferem, apesar de eventual legalidade, manter o anonimato por razões familiares, religiosas, etc. Isso não podemos controlar. Assim, o melhor caminho é a educação".

E se ela se arrepender?

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A cirurgia para esterilização feminina chama-se laqueadura tubária e pode ser feita por vídeolaparoscopia, que é uma incisão no umbigo com dois cortes logo abaixo dele, de dois centímetros cada. Há como fazê-la de forma definitiva ou não. Quando é definitiva, corta-se um terço da trompa de Falópio, responsável por empurrar os óvulos até o útero, onde acontecerá a fecundação. Dessa forma, ocorre a desconexão entre ovário e útero, impedindo que haja gravidez

Na forma não definitiva da cirurgia, o procedimento é o mesmo mas, ao invés de cortar a trompa, faz-se o nó cirúrgico, com um fio inabsorvível. Em ambos os casos a anestesia é geral. O ginecologista Afonso Henriques Alves dos Santos explica que outra forma de fazer a laqueadura é por incisão transversa supra púbica, um procedimento parecido com a cesariana.

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O pré-operatório engloba exames laboratoriais (hemograma completo, glicose, urina, DST), um coagolograma completo, eletrocardiograma com risco cirúrgico e raio X do tórax. Após a operação, caso seja por vídeolaparoscopia, a paciente terá alta já no mesmo dia. Se ela optar pela supra púbica, deverá ficar em observação no hospital durante 24 horas. Ao chegar em casa, os cuidados incluem repousar por duas semanas, sem pegar peso ou praticar atividades físicas, mas a alimentação segue normalmente.

Não há riscos além de pequenas infecções ou sangramentos. Santos conta que a maioria das mulheres que procura pela esterilização já têm dois filhos e uma idade acima de 30 anos.

A probabilidade da mulher engravidar mesmo após a cirurgia é mínima. De acordo com a ginecologista especializada em anticoncepção e infertilidade conjugal, Alessandra Lorenti Ribeiro, o número de gestações no primeiro ano após a laqueadura varia entre dois e quatro para cada mil mulheres. Na vasectomia, esse valor é de um a um e meio.

Quanto a reversão, a laqueadura não definitiva pode ser desfeita com a mesma técnica de operação, onde se retira o nó cirúrgico. "No entanto, complicações podem existir e a paciente necessita realizar exames de trompa para saber se vai voltar a poder ter filhos ou não", explica o especialista.

Para a mulher que fez a cirurgia voltar a ser fértil, é importante levar em consideração fatores como o tempo que se passou desde a esterilização, comprimento da tuba, porção tubária ligada e técnica utilizada.

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De um modo geral, as taxas de sucesso na reversão variam entre 41% a 89%, sendo que quanto mais tempo tiver passado, menor a chance. As técnicas que usam corrente elétrica monopolar apresentam sucesso de 41% a 50%. A mais utilizada, no entanto, é a Pomeroy, com 50% de bons resultados. Por fim, os procedimentos laparoscópicos com bandas ou clips possuem mais de 70%, já que lesam menos o tecido tubário.

De acordo com Alessandra, a cirurgia pode ser realizada por via convencional (aberta) e técnica microcirúrgica ou pela laparoscopia (por vídeo). Pré e pós-operatório seguem as mesmas recomendações da operação de laqueadura, além dos riscos serem os mesmos. Em alguns casos, dependendo de quem realizou a cirurgia, é necessária uma laparoscopia prévia para estudo da pelve.

"É aconselhável, no entanto, realizar um exame de histerossalpingografia antes, para identificar em qual porção da tuba ocorreu a ligadura. Algumas vezes podemos surpreender tubas operadas muito próximas ao útero, ou então em sua porção final, próximo a ampola, o que inviabiliza a cirurgia de reanastomose (reversão)", diz.

A ginecologista especializada em reprodução humana Denise Coimbra explica que, com a utilização da técnica de Reanatomose Tubarea Bilateral, a possibilidade da mulher voltar a engravidar pode chegar a 90%, caso tenham sido mantidos até cinco centímetros do coto de trompas.

O Procedimento

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Técnica abdominal ou laparoscópica - deve-se ressecar a porção da tuba que foi lesada com a laqueadura, encontrar a luz tubária nos dois segmentos de tuba, chamados proximal e distal, e aproximá-los através de uma sutura com três ou quatro pontos simples feita com fio inabsorvível e extremamente fino (6-0 a 8-0).

A cirurgia leva cerca de três horas. Quando aberta, pode ser feita com raquianestesia (injetada numa região abaixo da medula). Se a escolha for laparoscópica, é necessária a anestesia geral. O custo do procedimento varia de acordo com o profissional escolhido, mas pode ir de R$5 mil a R$10 mil.



A ginecologista Elisabeth Dobao lembra que, se a mulher partiu para a reversão da laqueadura, a possibilidade de desenvolver uma gestação com problemas é grande, como a incidência da gravidez tubária. Por esses motivos, uma outra solução é a fertilização in vitro.

LEIA MAIS: entenda como funciona a reversão da vasectomia

Colaboraram:
? Alessandra Lorenti Ribeiro
? Denise Coimbra
Fone: (11) 3284 6552
? Marcelo Palma
? Marcelo Crivella
? Mariza Povoas
Consultório: (21) 2480-1909
? Afonso Henriques Alves dos Santos
Downtown - Av. das Américas, 500, Bl. 16, Sl. 228 - RJ
Fone: (21) 3153-7863
? Elisabeth Dobao
Clínica Curarte: Av. das Américas, 500, Bloco 02/ 214, Barra da Tijuca - RJ
Fone: (21) 3139-4053

Atualizado em 1 Dez 2011.