Guia da Semana

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Com cerca de dois milhões de obesos mórbidos, o Brasil é o maior consumidor de remédios para emagrecer do mundo. De acordo com a nutricionista Priscila Rosa Belpiede, o sedentarismo é um dos fatos que dificulta a manutenção do corpo saudável. Mesmo assim, o uso indiscriminado dos moderadores de apetite gera efeitos colaterais como tontura, agitação psicomotora, insônia, irritação, ansiedade, tremores, excitação, boca seca, mau hálito, náuseas, alterações do hábito intestinal, depressão, dor de cabeça, aumento da pressão arterial, taquicardia, dependência e até sensação de maior facilidade em se relacionar com as pessoas.

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Para evitar o consumo incorreto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA colocou em vigor, no último dia 3 de janeiro, novas regras para o comércio. Antes da resolução, era permitido ao médico criar a receita para dois meses. Assim, tornava-se comum o paciente comprar uma caixa do moderador e entregar à farmácia a prescrição para três caixas. Agora, a nova lei ( RDC 58) estabelece que os anorexígenos (moderadores de apetite derivados da anfetamina) devem ser vendidos de forma limitada, com doses máximas determinadas (Femproporex - 50,0 mg/dia; Fentermina - 60,0 mg/ dia; Anfepramona - 120,0 mg/dia; Mazindol - 3,00 mg/dia) e um novo tipo de receita (B2), com quantidade de remédio suficiente para apenas 30 dias.

Fica proibido também comprar os produtos associados a laxantes, diuréticos, hormônios, remédios para ansiedade ou depressão, com fins de emagrecimento. Caso as exigências sejam violadas, serão aplicadas as sanções da lei 6437/77, com penalidades que chegam à interdição do estabelecimento e multas entre R$2 mil e R$1,5 milhão. O médico que prescrever mais remédios do que o permitido poderá ter o CRM cancelado. A receita de anfetaminas com outros fármacos (benzodiapezínicos, diuréticos, hormônios, laxantes) para tratar a obesidade já era proibida pela resolução 1.477, de 11 de julho de 1997.

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Também chamados catecolaminérgicos (por agirem aumentando a liberação de adrenalina), os anorexígenos mais vendidos incluem anfepramona (Hipofagim, Inibex e Dualid), fenproporex (Desobesi-M) e mazindol (Absten-Plus). Segundo a endocrinologista Alessandra Rascovski, esses produtos agem no centro da fome e são indicados (com dieta e exercícios) para obesos que não conseguem emagrecer ou para pacientes com Índice de Massa Corpórea - IMC maior que 27 kg/m2 e doenças associadas (diabetes, dislipidemias e hipertensão arterial).

A médica nutróloga Daniela Hueb conta que outras indicações são hábitos alimentares patológicos (bulimia, hiperfagia e compulsão alimentar); incapacidade de ingerir dietas hipocalóricas para a redução do peso; obesidade mórbida e pacientes com IMC acima de 30 kg/m2. Outros medicamentos para moderar o apetite atuam equilibrando os níveis de serotonina no organismo, que é o hormônio da ansiedade, aumentando a saciedade. A ANVISA considera os remédios uma opção terapêutica apenas mediante acompanhamento médico.

Tipos de moderadores
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? Dietilpropiona: mais utilizado no Brasil. Age como neurotransmissor da noradrenalina e é o mais potente anorético. Age nos núcleos hipotalâmicos laterais (local do cérebro responsável pela fome), inibindo a fome.

? Femproporex: ação semelhante a Dietilpropiona. Age através de inibição do centro da fome hipotalâmico, tendo a noradrenalina como neurotransmissor.

? Mazindol: age inibindo a recaptação da noradrenalina nas terminações nervosas e inibe a fome.

? Fluoxetina e Sertralina: antidepressivos que podem diminuir o peso. Ainda não são reconhecidos pelas autoridades sanitárias como indicação para o tratamento da obesidade.

? Sibutramina: medicamento com ação sobre o sistema nervoso central. Tem tanto uma ação serotoninérgica, inibindo a recaptação da serotonina, como um efeito catecolaminérgio. O primeiro efeito promove um aumento da sensação da saciedade, agindo também sobre a compulsão alimentar, e o segundo é inibidor da sensação de fome e aumenta a queima de calorias.



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Quando associados de forma errada a outros medicamentos, os anorexígenos causam desidratação, desequilíbrio hidro-eletrolítico (perda de água e sais minerais), alterações no sistema nervoso, desequilíbrio de sódio e potássio (causando problemas para o coração), irregularidades na menstruação, descompensação da função tireoidiana (principalmente após o uso do medicamento), hipertensão arterial e pulmonar e problemas cardíacos.

"O laxante acaba com a parede instestinal, prendendo o intestino da próxima vez que a pessoa for defecar. Além disso, o diurético não emagrece, mas elimina líquido do corpo, causando um resultado enganoso", conta a conselheira do Centro Brasileiro de Nutrição Funcional e coordenadora do Serviço de Nutrição da Clínica Gastromed, Denise Carreiro. Ela explica que, quando há o consumo incorreto do medicamento, a pessoa pode engordar dobrado após o fim do tratamento. Isso acontece porque a gordura é uma garantia para o organismo de produção de energia. Quando uma pessoa não faz a alimentação correta, o cérebro armazena gordura no corpo para que não falte fonte de energia. Além disso, ele usa a proteína, que deveria desempenhar outras funções, deixando a pessoa irritada, ressecando a pele e baixando a imunidade.

Sem remédios!
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? Consuma arroz, feijão, carnes... E nunca deixe de lado as verduras, legumes e frutas, nutrientes que ativam o metabolismo e não possuem calorias.

? Não passe mais de três horas sem se alimentar, pois o cérebro precisa de energia. Uma boa fonte são as frutas, inclua sempre alguma nas suas refeições.

? Consuma bastante líquido durante o dia.

? Evite excessos de embutidos, temperos prontos, produtos diet e light.

? Consuma alimentos de boa qualidade de duas a três horas antes de dormir, pois durante o sono, o corpo trabalha para manter sua boa saúde.



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"O mais importante é as novas regras despertarem o consumidor para o fato de que ele deve ter participação ativa no processo de emagrecimento, mudando hábitos de comportamento e não apenas desejando ser emagrecido pelo remédio, para depois voltar a engordar e consumi-lo novamente", diz Alessandra Rascovski. O chefe de serviço da nutrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, José Egidio Pires, lembra que a primeira opção de tratamento contra a obesidade é a mudança de hábitos. Quando o paciente não obtém o sucesso desejado, são indicados os medicamentos. Se o IMC for superior a 40 (obesos mórbidos), pode ser feita a cirurgia.

Mexa-se!
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Além da alimentação correta, exercícios físicos são essenciais para manter a boa forma. O educador físico Ronaldo Yamashiro, o personal trainer da Academia KS Silvio Cezar Xavier e o instrutor Cláudio Romanatto dão dicas para um corpo saudável.

? Corra numa esteira, substitua o elevador pela escada, deixe o carro na garagem e caminhe, pule corda ou ande por 30 minutos, todos os dias. Natação e alongamento também ajudam, além de flexões e elevação do ombro. Os exercícios podem ser feitos com o peso do próprio corpo ou pesos caseiros, como um pacote de sal.

? Para as pessoas que utilizam inibidores de apetite, o ideal é realizar o tratamento associado com uma dieta balanceada e exercícios aeróbicos por pelo menos 30 minutos diários. Qualquer esforço acima disso é eficiente na redução da gordura corporal.

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? Para endurecer o bumbum e a barriga, a dica é realizar três sessões semanais de exercícios localizados com carga e fazer 30 minutos diários de atividades aeróbicas. Massagens redutora e linfática podem colaborar.

? Ainda para os glúteos, a sugestão é um conjugado de quatro apoios com caneleiras e agachamento unilateral. Para a barriga, faça duas a três seqüências de até 30 repetições com abdominais, deitada com caneleiras nos braços. Flexões curtas, diretas e oblíquas ajudam.



Leia mais: saiba quem pode e quem não pode usar os moderadores de apetite

Colaboraram:
? Priscila Rosa Belpiede
[email protected]
? Anvisa
? Alessandra Rascovski
? Daniela Hueb
? Denise Carreiro
? José Egidio Pires
? Ronaldo Yamashiro
? Silvio Cezar Xavier
? Cláudio Romanatto

Atualizado em 6 Set 2011.