Guia da Semana

"Boa é a vida, mas melhor é o vinho", já enaltecia Fernando Pessoa - assim como já enalteceram muitos outros poetas, filósofos e artistas em suas obras. Celebrada pelo mundo da arte, símbolo do prazer em Dionísio ou Baco e abençoado no catolicismo, a bebida remonta a uma apreciação histórica - para não dizer mística.

Por anos e anos, o mundo saboreou vinhos produzidos, especialmente, em terras do Velho Mundo, e países como França, Itália, Espanha e Portugal carregam até hoje as nobres herança e fama. Com o tempo, a Argentina e o Chile mostraram também seu potencial e entraram para a lista seleta de principais produtores. E quem ainda pensa que só os gringos conseguem fazer uma versão de qualidade do líquido dionisíaco pode se surpreender com os próximos parágrafos.

A vitivinicultura brasileira evoluiu extraordinariamente nos últimos anos, em tamanho e reputação, angariando prêmios e mais prêmios no mercado. O Brasil ganhou espaço nas vitrines dos aeroportos internacionais e, hoje em dia, nossos vinhos são vendidos nos Duty Frees, ao lado de garrafas tops de Romanée Conti e Concha y Toro.

Filosofia purista

Foto: Gael Oliveira

A Grand Vin é uma das revendedoras da marca na capital paulista

Quem representa o país nos free shops é a Lídio Carraro, que foi premiada com medalha de ouro no Concurso de Bruxelas em 2009. A marca trabalha com o conceito de vinícola boutique, que significa baixa de escala produção para priorizar o tratamento de cada garrafa e elaborar vinhos somente de primeira linha.

Outro diferencial é sua filosofia purista: cada bebida é conduzida com o mínimo de interferência e se propõe a respeitar a expressão natural de cada uva e o terroir originário. "Nossos vinhos não sofrem correção de acidez, não passam por estágio em carvalho e os tintos não são filtrados", explica Juliano Carraro, enólogo e dono da vinícola, no lançamento de duas novas safras na Grand Vin, em São Paulo.

Sem madeira

Os mesmos rótulos que entram nas prateleiras gringas e são exportados para 15 países não seguem, portanto, a tradicional passagem por tonéis de madeira. "Não precisamos maquiar o vinho para atender um estilo internacional, a proposta é manter a identidade de cada uva nacional", complementa.

Foto: Gael Oliveira

A Lídio Carraro apresenta duas novidades: Elos Cabernet Sauvignon/Malbec e Dádivas Rosé

A ousadia chama a atenção dos menos acostumados e que glorificam o recurso que, muitas vezes, é tido como sinônimo de "vinho bom". "Não somos contra a passagem por madeira, é uma questão de estilo. A qualidade do vinho não depende dela, mas de todo seu processo", ressalta.

Dessa forma, cada pequeno detalhe da vinificação e da estabilização são captados meticulosamente na vinícola. O resultado são vinhos particulares, complexos, ricos em estrutura e, por incrível que pareça, lineares - do Rosé, Merlot e Malbec ao Cabernet e Chardonnay.

Os dois últimos lançamentos da Lídio Carraro impressionam pelas características marcantes em vinhos tão joviais. Com 80% Cabernet, a Elos Cabernet Sauvignon/Malbec de 2008, tem intenso sabor frutado e de especiarias, com final persistente no paladar. Já o Dádivas Rosé de 2010 é mais delicado e apresenta aroma de morango e cereja, sem que seja tão perceptível a mistura das uvas Tempranillo, Touriga Nacional, Merlot e Pinot Noir em sua composição.

A proposta da Lídio Carraro - que é seguida também pela bem conceituada marca francesa Beaujolais Noveau - é aplicada em seus vinhedos localizados em duas regiões do Sul do país: Vale dos Vinhedos em Bento Gonçalves e nas Terras de Encruzilhadas do Sul, na Serra do Sudeste do Rio Grande do Sul. A primeira safra foi elaborada em 2002, lançada em 2004, e foi destaque na 10ª Avaliação Nacional de Vinhos.

Fotos: Gael Oliveira

Atualizado em 6 Set 2011.