Guia da Semana

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"Conversar com alguém e poder abrir o coração sem medo de ser julgada me fez ver que, mesmo sem a companhia do meu marido, a vida continua". Foi assim que a dona de casa Antônia* obteve ajuda em um dos 48 postos de atendimento do CVV, Centro de Valorização da Vida, após o falecimento do marido, com quem foi casada durante 34 anos.

O CVV é um programa que propaga a importância de viver e atua na prevenção do suicídio. A organização conta com aproximadamente 2,5 mil voluntários, distribuídos em postos pelo Brasil, que colocam-se à disposição de todos que sentem necessidade de conversar com alguém. Os postos do CVV estão disponíveis 24h por dia, por telefone, através do número 141. O atendimento é grátis e também pode ser feito por meio de carta, e-mail ou pessoalmente.

Além do CVV, o programa televisivo Fala Que Eu Te Escuto, da Rede Record, também disponibiliza atendimento via telefone com o objetivo de ajudar as pessoas solitárias, por meio do apoio emocional, neste caso acrescido do teor religioso.

Para a psicoterapeuta especializada em psicologia e religião Maura de Albanesi, a principal diferença entre o trabalho realizado por estes grupos de apoio e o trabalho de um terapeuta está na função de escutar as pessoas que entram em contato sem apresentar nenhum questionamento ou interação maior.

"No trabalho terapêutico, além das diferentes técnicas que podem ser utilizadas, existe a questão do desenvolvimento do trabalho, do acompanhamento, da busca das alternativas, dos questionamentos. Neste caso, o psicológico se apresenta como um facilitador do processo de autoconhecimento, participando ativamente durante o tratamento, e não apenas de maneira superficial.", afirma.

No tratamento psicológico, a pessoa tem acesso direto a um profissional com dia e hora marcada, no qual vai relatar seus problemas e obter ajuda para resolvê-los. Segundo a psicóloga Mariza Jorge, normalmente as pessoas que procuram ajuda por meio do telefone estão muito solitárias e sentem que não têm apoio de ninguém para enfrentar os problemas. Em contrapartida, se confortam com a ajuda imediata, mas muitas vezes custam a perceber que precisam de um apoio psicológico específico. "Considero o trabalho muito importante e bonito, pois pode ajudar muitas pessoas que vivem um momento de desespero e solidão. Porém, após passar a sensação de desconforto, é preciso procurar um psicoterapeuta para tratar a raiz do problema.", aconselha.

Ombro amigo
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Segundo a voluntária do CVV Elaine Macedo, a organização não diagnostica problemas psicológicos nem substitui as psicoterapias. O contato telefônico funciona apenas como um apoio emocional, no qual não são oferecidos conselhos ou medicamentos. "No CVV, apenas conversamos e apoiamos os que nos procuram, sem oferecer outro tipo de intervenção, como orientação profissional."

A organização atende pessoas de ambos os sexos e de todas idades, que relatam sobre suas necessidades, alegrias, tristezas e angústias. Os voluntários são orientados a deixarem a pessoa à vontade para falar sobre o que achar melhor. Segundo Elaine, a instituição não tem registro de ligações ocorridas em situações de risco, como ameaças de suicídio.

O sigilo é a base das ligações e quem procura o atendimento não precisa se identificar. A duração da ligação é determinada pela pessoa atendida, que pode solicitar ou não a identificação do voluntário com quem conversa.

Segundo os dados oficiais da instituição, o trabalho do CVV atende cerca de 1,2 mil chamadas por mês em todos os postos do Brasil, o equivalente a cem mil ligações por ano.

Qualquer pessoa maior de 18 anos pode atuar como voluntário do CVV. O Programa de Seleção de Voluntários é grátis, periódico e divulgado por meio de parcerias. Além disso, os voluntários participam de treinamentos constantes voltados para o aperfeiçoamento do atendimento e para não absorverem ou ficarem deprimidos com os problemas de quem os procuram.

A instituição não está ligada a nenhuma entidade, grupo ou religião e o trabalho do CVV é mantido pelos próprios voluntários, que não recebem nenhum tipo de remuneração.

Colaboraram:
? Maura de Albanesi
? Centro de Valorização da Vida
? Mariza Jorge
Fone: (21) 3298-9066

* O nome utilizado é fictício a fim de preservar a identidade da entrevistada.

Atualizado em 6 Set 2011.