Guia da Semana

Por Carolina Paes


Difícil acreditar, mas o jeito que mastigamos os alimentos ou o hábito de ranger os dentes podem causar rouquidão, enxaquecas, dor na nuca e até alterações na visão. O mal que está por trás desses sintomas atende por um nome complicado: disfunção têmporo-mandibular, conhecida entre os profissionais como DTM.

Ao abrir e fechar a boca, usamos vários músculos. Quando há alguma interferência no disco articular, localizado entre o osso da face e o do crânio - chamado de articulação têmporo-mandibular (ATM) - há o comprometimento dessa estrutura. As conseqüências dessa lesão não se limitam à mordida, estendem-se por todo o corpo. Dores, dificuldade ao abrir e fechar a boca, falta de concentração e até depressão estão listados como manifestações da falta de harmonia na mordida.

A boa notícia é que os médicos de várias especialidades estão mais conscientes do mal que atinge cerca de 70% da população. Segundo o cirurgião dentista Márcio Cassab, especialista em ortodontia, muitos pacientes chegam ao seu consultório indicados por neurologistas, que não conseguiram dar cabo às intermináveis dores de cabeça, ou por otorrinos que não descobriram a causa dos incessantes zumbidos. Cassab estima que cerca de 45% das queixas de enxaqueca sejam decorrentes da disfunção.

Imagine caminhar com um calo bem no meio do pé. Depois dos primeiros passos, o mais comum é que a pessoa passe a pisar meio torto, para evitar a dor. Quando o movimento da mordida sofre interferência, a ATM é quem sai prejudicada. E os resultados disso são dores de cabeça que não passam com remédios, zumbidos constantes, dores na nuca, rouquidão e mais dezenas de sintomas. "Quem sofre de DTM tem uma péssima qualidade de vida, está constantemente com dor ou sob o efeito de remédios", conclui o cirugião.

De acordo com especialistas, a DTM atinge mais as mulheres que os homens. Entre os fatores que fazem do sexo femino as maiores vítimas estão as constantes alterações hormonais durante o ciclo menstrual, a pressão emocional e a prudência característica delas em relação à saúde. "As mulheres são mais responsáveis e buscam o atendimento médico quando percebem que algo está errado", afirma Cassab. Quanto à faixa etária, o especialista ressalta que a DTM ocorre em maior proporção a população entre 25 e 40 anos.

Muitos fatores podem desencadear a disfunção. Problemas respiratórios podem tanto ser a causa como a consequência de uma mordida desarmoniosa. Uma obturação mal feita, que altere a oclusão dos dentes, pode lesionar a ATM. Mascar chicletes, morder tampas de caneta, roer as unhas são outros hábitos adquiridos que podem prejudicar a harmonia da mordida. "O bruxismo (ato de ranger os dentes, tanto diurno quanto noturno, acabam por exaurir a musculatura. Até dormir com a mão embaixo do rosto pode alterar a posição dos dentes".

O tratamento, segundo Cassab, é feito por meio de aparelhos ortodônicos. Quanto mais cedo for diagnosticado, mais simples será a reeducação da mordida. Em casos mais avançados da DTM, é necessário fazer uma intervenção cirúrgica. "Muitas vezes, as pessoas recorrem a vários médicos, tomam uma infinidade de remédios para resolver o problema e ainda assim não conseguem acabar com a dor", alerta Cassab. "Do mesmo modo que não se começa uma casa construindo o telhado, o tratamento deve começar pelas bases. O especialista trata a incômodo, mas o ortodontista trata a raiz da dor", conclui.

Atualizado em 6 Set 2011.