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"No começo tive alguns conflitos, mas hoje admito que sou lanterninha financeiro assumido. Minha mulher ganha bem mais que eu sim, mas acho isto ótimo. Valorizo a independência financeira dela e acredito que esta condição preserve a saúde do nosso relacionamento. Muitos casamentos chegam ao fim pelo casal não saber enfrentar crises financeiras, mas o meu deu certo, porque não há problemas neste sentido", revela o administrador de empresas, Gustavo Reis, 35 anos.
Há muito tempo, o homem deixou de ser a figura provedora familiar, abrindo espaço para a mulher assumir este papel. Esta inversão pode tanto significar a derrocada do relacionamento como o remédio para a preservação dele. Muitos homens admiram uma figura feminina mais independente e sustentável do que aquela clássica responsável por cuidar dos filhos e da casa sem colaborar com os gastos financeiros.
Se o mundo modernizou, as pessoas devem se adaptar ao novo ambiente, para sobreviver na sociedade. Para o técnico de informática Roberto Paiva, 28, a vida econômica coletiva possibilita que o casal desfrute mais a vida. "Meu ego duelou com os benefícios trazidos pela situação, como o conforto financeiro, e os valores machistas que havia recebido. Depois de meses me sentindo pressionado pela situação, acabei me rendendo e aceitando o fato da minha esposa levar vantagem quanto aos números extras na conta bancária no fim de mês".
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"Estar aberto a novas possibilidades de interação é fundamental para evolução social. A sociedade deve questionar se o dinheiro é de fato o mais relevante para a base familiar e se a idéia do homem ser peça essencial no financiamento da relação é regra. Após esta reflexão poderemos talvez admitir que nem o homem é central para o provimento da família e tampouco o provimento financeiro desta é central para existir", enfatiza o sociólogo Augusto César.
"Se disser que gostei da situação vou mentir. Ainda acho que o homem deve ganhar mais e sustentar a casa. Há algum tempo minha mulher acabou desistindo do emprego para poder manter o nosso casamento. Não é uma posição muito confortável para nós homens, ganhar menos. A mulher, sem dúvidas, consegue lidar melhor na hora de abdicar de certas coisas", conta o advogado *Paulo, 50.
Teoricamente o aumento da renda da mulher tem dois efeitos atuantes. Primeiro, reduz a chance de divórcios, pois aumenta a renda do casal, proporcionando o bem-estar de ambos; segundo, aumenta a chance de separação, quando reduz os ganhos masculinos e os leva, inclusive, a divisão de tarefas dentro do casamento.
A publicitária Simone Salgado, 30, afirma categoricamente que o ex-marido preferia ver a coisa mais aterrorizante do mundo em sua frente, mas não suportava ver os zeros a mais no seu holerite. Conta ainda que o divórcio esteve relacionado a uma série de razões, mas com certeza o seu salário superior contribuiu para o fracasso do matrimônio, até porque, ela confessa muitas vezes, ter se colocado em um papel autoritário, inadmitido pelo companheiro.
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"Apesar da evolução somos retrógrados em algumas medidas educativas. O homem encara de maneira menos receptiva ganhar menos do que a mulher, por uma questão de valores. Isto fere sua auto-estima, pois historicamente a pressão e cobrança em relação ao seu papel de encabeçar a família estiveram presentes. Muitos sentem inveja da mulher não por ela ter mais, mas sim por ele ter menos. Por sua vez, o poder econômico concentrado em mãos femininas pode implicar em humilhações atribuídas a seu companheiro, o que gera desconforto entre o casal e pode culminar sim em uma separação", analisa a psicóloga Magda Pearson.
De acordo com um estudo divulgado em meados de abril deste ano pela FGV (Fundação Getúlio Vargas) e elaborado pelo economista Maurício Canêdo, o aumento da renda feminina pode prejudicar o casamento. Caso o homem ganhe pouco, o aumento da renda da mulher torna a possibilidade de divórcio maior e conseqüentemente mais recorrente. Já se a figura masculina possui salário superior, ocorre o contrário, a chance de divórcio é reduzida.
"O homem não aceita dividir o mesmo papel social ou a mulher não dá o devido valor ao homem por não sustentar a família. Além da questão da renda, enquanto filhos pequenos estabilizam a relação conjugal, a vida em regiões metropolitanas e urbanas, o desemprego masculino e o aumento da escolaridade da mulher desestabilizam o casamento. Obviamente, fatores como insatisfação sexual e infidelidade tendem a justificar uma parcela grande dos divórcios", reitera Canêdo.
Colaboraram:
? Maurício Canêdo
? Augusto César
? Magda Person
? Gustavo Reis
? Roberto Paiva
? Simone Salgado
? *Paulo
Atualizado em 6 Set 2011.