Quem não conhece alguém que engordou ou emagreceu demais por causa de disfunções na tireoide? Cada vez é mais comum mulheres acima dos 30 anos apresentarem esses tipos de problemas, já que também estão associados ao stress da vida contemporânea. Com um formato de borboleta, a glândula fica na região do pescoço é responsável pela produção dos hormônios T3 (tiiodotironina) e T4 (tiroxina), que regulam o metabolismo do organismo.
Quando a tireoide não está funcionando adequadamente pode produzir excesso de hormônios, o que caracteriza hipertiroidismo, ou em quantidade insuficiente, que é o hipotireoidismo. Os dois tipos de disfunções atingem mais as mulheres, sendo que cerca de 10 % das que têm mais de 40 anos e 20 % das acima de 60 anos apresentam algum distúrbio na glândula. Entretanto, todas as pessoas estão sujeitas a apresentar esse tipo de patologia.
Hipotireoidismo
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Entre as doenças que causam hipotireoidismo, a mais comum é a Tireoidite de Hashimoto, em que o próprio organismo produz anticorpos contra a glândula, levando a uma inflamação crônica que também pode acarretar o aumento de volume da tireoide (bócio). "Uma vez diagnosticada, é uma doença progressiva e, praticamente, não tem cura. É preciso repor o hormônio tireoidiano para a vida toda. Porém, é muito fácil de tratar", explica o médico endocrinologista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) João César Soares.
Segundo o especialista, quem tem hipotireoidismo, ou seja, produz pouco hormônio tireoidiano, apresenta um metabolismo mais lento. O que significa que vai ter tendência ganhar peso e a reter liquidos. Além disso, o grau de atenção também é alterado e a pessoa fica mais sonolenta. "É ainda possível ter queda no cabelo, ressecamento da pele e aumento do fluxo menstrual. Dependendo do caso, a mulher pode ter um quadro de hemorragia. Quadros depressivos também podem ser causados pela disfunção", explica.
Hipertiroidismo
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Já no hipertiroidismo o indivíduo produz anticorpos que estimulam a tireoide. E, por isso, assim como o hipo, é uma doença autoimune, já que o próprio corpo ataca o órgão. A causa mais comum dessa disfunção é a chamada Doença de Graves, que é menos frequente do que o Hashimoto, mas também atinge mais as mulheres. Ao contrário do hipotireoidismo, que tem uma instalação insidiosa, o hiper é muito sintomático e, geralmente, atinge adultos jovens, a partir dos 20 anos.
"A pessoa diagnostica logo, pois começa a emagrecer, ter palpitação e taquicardia. Em alguns casos, o olho fica saltado, o que é chamado exoftalmo. Ao contrário do hipo, a mulher para de menstruar, além de apresentar queda de cabelo e enfraquecimento de unhas", diz o endocrinologista. Segundo Soares, outros sintomas também podem existir, como nervosismo, ansiedade, inquietação, intolerância ao calor, sede excessiva, aumento do lacrimejamento, dificuldade para dormir e pele fria e úmida.
Segundo o médico, o tratamento de hipertiroidismo é mais complicado. "Inicialmente, é receitado um remédio para bloquear o excesso de hormônio tireoidiano. Com isso, 20 % dos pacientes entram em remissão, ou seja, praticamente, curam com remédio", afirma. Contudo, o tratamento é longo e é necessário tomar medicamento por, pelo menos, um ano para atingir a cura. Alguns fazem uma cirurgia para diminuir a tireoide. Também é possível fazer aplicação de iodo para queimar o excesso de glândulas de tireoidianas.
A jornalista Vanessa Zampronho, 32 anos, por exemplo, desenvolveu a doença quando tinha 9 anos e seus pais perceberam rapidamente que havia algo de errado, pois ela não dormia direito à noite, tinha o olho saltado e pedia peso muito facilmente. "Fiz vários exames e o médico viu que eu tinha hipertireoidismo. Tratei com remédios por dez anos, porque ainda não poderia fazer cirurgia para diminuir a tireoide. Aos 20 anos, foi recomendado o tratamento com iodo radioativo, para não ter que fazer cirurgia", conta.
Contudo, no caso de Vanessa, a dosagem de iodo foi alta, e a glândula diminuiu muito de tamanho, o que acarretou em hipotireoidismo. Por isso, hoje ela faz tratamento de reposição hormonal. "Como não consigo produzir a quantidade adequada de hormônios, tenho que tomá-los em comprimidos. E o tratamento é simples e fácil de levar. Tomo Puran 75 mcg todos os dias e não tenho nenhum incômodo. Já tive vários, mas com o devido controle tenho uma vida normal", garante.
Nódulos
Outro problema comum que pode alterar a produção de hormônios é o bócio multinodular, que é o aumento da glândula tireoidiana associado a nódulos. Em alguns casos, o paciente pode apresentar um nível hormonal normal e não é preciso fazer reposição. Já em outros, é preciso operar, porque os nódulos crescem muito. É necessário ficar atento, pois, segundo o especialista, alguns podem evoluir para tumores. "Neste caso, é necessário tirar a tireoide. Mas o mais comum é somente ter bócio", afirma Soares.
O endocrinologista explica que os nódulos são mais frequentes em famílias de regiões que têm pouco iodo, como no interior de Minas Gerais e do Mato Grosso. Para evitar esse tipo de problema, a legislação brasileira exige que o sal de cozinha seja iodado. Enquanto para detectar os níveis hormonais é necessário fazer exame de sangue, o bócio multinodular é detectado por meio de uma ultrassonografia. Apesar de exigirem um certo controle, geralmente os nódulos são benignos apenas 1% vira um câncer.
Segundo Soares, geralmente, fatores genéticos desencadeiam essas doenças. Contudo, patologias autoimunes também estão ligadas a fatores emocionais, como estresse. "Ainda não há muitas explicações sobre o que causam essas disfunções, mas são sempre mais frequentes em mulheres", afirma. A incidência de hipotireoidismo depois da gravidez também é grande, já que a mulher fica com a imunidade mais baixa. "Isso pode propiciar o surgimento de doenças que produzem anticorpos contra o organismo, como o Hasshimoto", diz.
Se você descobriu que tem algum problema na tireoide, não precisa entrar em pânico. Na maioria das vezes, os tratamentos são simples e normalizam o metabolismo rapidamente.
O endocrinologista também alerta a mulherada: "hormônio tireoidiano é fundamental, mas o uso de forma indiscriminada, visando emagrecimento, pode levar a hipertiroidismo. Portanto, deve só ser utilizado para repor a falta", adverte.
Atualizado em 6 Set 2011.