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Era uma quarta-feira, dia 6 de junho de 2007, quando eu e minha namorada tínhamos uma viagem programada para Buenos Aires, através de um pacote adquirido junto à agência de viagens argentina Fênix. A agência fretou um vôo da Gol que partiria às 23h55 do dia 6 e chegaria ao destino por volta das 3h do horário local. Chegamos ao aeroporto de Cumbica às 21h para realizar o check-in, quando fomos inicialmente surpreendidos por uma desorganização e início de fila, que duraria mais de duas horas sem se mover. Saímos do check-in, já eram passados 20 minutos do dia 7 e ainda havia uma fila enorme. Nosso vôo sairia às 23h55.
Por volta da 1h da manhã recebemos uma ligação de uma amiga que estava em Porto Alegre, pois não conseguira pousar em Buenos Aires por causa da neblina que estava muito baixa, ou seja, a cidade estava "sem-teto". Até então, apenas minha namorada e eu sabíamos dessa informação e avisamos alguns dos nossos novos amigos da fila, que não acreditavam no que estava por vir. A partir daí a desorganização só aumentou. Após as 2h da manhã (mais de 2 horas de atraso da decolagem do vôo), avisaram que nossa ida estava cancelada.
Sabíamos que isso aconteceria, porém os demais 350 passageiros dos dois vôos que não receberam nenhuma informação a mais além do cancelamento da viagem, não. Como informação é poder, fizemos o papel da companhia aérea e explicamos às pessoas mais próximas o que estava acontecendo.
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Ficamos lá e nada... os funcionários da Gol deviam estar obedecendo às ordens da empresa, se é que assim posso chamá-la. Usaram uma ótima estratégia para nos tirar do saguão: colocaram nossas bagagens na esteira e lá deixaram às 4h da manhã, sem nenhuma segurança. Obrigado pelo respeito!
Nesse momento estávamos protestando a favor de um horário definitivo para nosso vôo. Eles disseram que sairia às 16h do dia 7. Mas, como a credibilidade deles não estava nos impressionando, pedimos um documento que comprovasse que sairia às 16h, um cartão de embarque, um documento oficial da empresa, o check-in, qualquer coisa, menos um funcionário que não nos passava confiança falando o que lhe vinha na cabeça. Insistimos e conseguimos. Às 7h da manhã conseguimos fazer um check-in para decolar às 16h. Consegui sair do aeroporto apenas às 9h, pois o táxi que a Gol pediu para me levar de volta a São Paulo não aparecia. Cheguei em casa às 10h e depois no aeroporto de Cumbica às 13h para despachar nossas bagagens e finalmente realizar o tão esperado sonho de viajar às 16h.
Mas não foi assim que aconteceu. Já eram 17h e nada de nos embarcar, nada de informações, apenas boatos. Foi quando a Gol mandou mais uma bola pra fora: disseram que não tinha avião para nos levar para a Argentina. Nessa altura do campeonato já nem sabia mais o que estava acontecendo, pra onde íamos, o que estávamos fazendo lá. A perturbação era imensa. Estávamos no limite e até a polícia federal que estava no saguão número 14 reparou no cansaço que tomava conta das pessoas, e que poderia gerar problemas de saúde para uma boa parte dos já idosos que lá estavam.
De repente, surge uma voz dizendo que era para nos prepararmos que nosso avião sairia. Nossa! Apareceu um avião! Enfim, decolamos às 19h do dia 7. Estávamos muito felizes! Como era bom voar! Parecia a primeira vez da minha vida de tanta vontade que eu já estava! Mas já tinha passado pela minha cabeça que se chegássemos depois das 22h, o aeroporto de Buenos Aires já poderia estar fechado. Adivinhem: estava! O comandante disse que iríamos pousar em Córdoba. Córdoba, não! Muito longe! Conseguimos pousar em Rosário! Agora faltavam apenas três horas de ônibus para chegarmos a Buenos Aires! Buenos Aires? O ar não estava tão bom assim....
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Esperamos por mais de duas horas dentro do avião, sem exagerar. Enfim, a escada chegou e pouco tempo depois os passageiros dos outros vôos deixaram o aeroporto, dando espaço para entrar na Argentina. Quanta vontade de ir pra Argentina, né? Se fosse em época de Copa do Mundo já teria desistido. Enfim, pegamos um ônibus (pago pela Gol) e às 6h50 da manhã, 28 horas depois do horário de atraso, descemos no aeroporto nacional de Buenos Aires. Lógico que o transfer que contratamos não estava lá. Seria muita sorte no meio de tudo isso. Pegamos um táxi e parece brincadeira, mas o hotel estava lá e nosso quarto estava reservado para nós! Isso sim que é sorte!
O guia da Fênix nos ligou no dia seguinte para perguntar como estávamos. Não sabia o que responder. Estávamos bem, cansados, irritados, felizes, estressados... era muita novidade para um casal de quatro meses de namoro. Ah... quase que esqueço de comentar: dia 6 minha namorada completava 24 anos! Dei um trevo de quatro folhas para ela no almoço de aniversário! Que ironia, não?!
Já nos preparávamos para o que viria na volta... o vôo saía na madrugada de domingo para segunda, mais precisamente às 3h30 da manhã do dia 11. Não tinha nenhuma nuvem no céu. Chegamos ao aeroporto e reencontramos todos aqueles amigos, velhos de guerra que foram conosco para o país dos hermanos. O pessoal da agência disse que o avião pousaria às 3h da manhã no aeroporto e decolaria às 3h30 conosco. Porém, às 2h30 da manhã o céu se fechou como num passe de mágica, ou melhor, como se fosse de propósito. Mais uma vez ficamos sem voar. A Fênix começou a tomar as providências: reservou hotel para todo mundo, todos foram de táxi pago e até pagou o almoço do dia seguinte. Às 14h de segunda, a Marina, guia da Fênix, nos disse que o vôo sairia às 19h e todos deveriam estar no hotel às 16h30. E lá estávamos, efeito manada.
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Chegamos ao aeroporto, disseram que a companhia aérea agora era a Aerolatas Assassinas.. ops... Aerolineas Argentinas. No balcão do check-in, os funcionários da empresa porteña disseram que não sabiam de nenhum vôo saindo às 19h para San Pablo, como eles dizem. Não sabíamos mais o que fazer. Na verdade, ninguém sabia. Nem as pobres funcionárias da Fênix sabiam... já falavam que estavam lá como pessoas comuns, que naquele momento não eram mais funcionárias da empresa. Acredito que por vergonha do que estava acontecendo em solo argentino.
Queríamos voltar pro hotel e aguardar até o horário oficial da partida do vôo. Mas eles não nos deixavam partir. Falaram que o vôo sairia às 22h, depois às 0h e por último às 2h15 da manhã de terça-feira. Fizemos o check-in às 0h30 e nos garantiram que tudo daria certo. E lá vamos nós para mais uma batalha.
12 de junho, 2h15 da manhã: a aeromoça chama os passageiros para formarem uma fila. Há tempos que eu não vejo um sorriso tão grande no rosto das pessoas. Todos se abraçavam! Eis que surge mais uma notícia bombástica: há uma grande possibilidade do vôo de vocês ser cancelado por falta de tripulação, mas podem embarcar agora 40 pessoas em outra aeronave com destino a São Paulo. Parece até um livro de humor, mas na hora foi um dos piores terrores das nossas vidas. Minha namorada era a quadragésima e eu o quadragésimo primeiro. O que fazer? Não entra nenhum dos dois. Era impossível de acreditar no que estava acontecendo. Dava vontade de chorar, pegar um carro e ir até a embaixada, implorar para voltar ao país da "Ordem e Progresso".
Novo horário: 5 da manhã. Devo acreditar? Lógico que não. Não temos tripulação, porque vamos sair às 5 da manhã? Aliás, como fazem nosso check-in, dizem que está tudo pronto se sabem que não tem tripulação? Algum curso pela internet? Eu me candidataria para voltar logo para casa. Resolvi dormir para não brigar. Acordei por volta das 5 da manhã e vi que não dava em nada. Eles ficavam postergando a viagem... eram mais de 120 pessoas querendo ir embora, desesperados... não tinha ninguém para nos ajudar. E o mais impressionante é que até então, não havia neblina, ou tinha "teto" como falávamos na hora. Só faltava a tripulação. Finalmente, começa a surgir aeromoça, co-piloto... mas cadê o comandante? Nada do comandante... por volta das 6h da manhã ele aparece! Oba! Olhamos pela janela, e: neblina! Inacreditável...
Rezamos, torcemos e finalmente embarcamos! O vôo saiu às 7h da manhã e chegamos em São Paulo às 10h. Novamente, nunca foi tão bom chegar em São Paulo! Novamente, depois de 28 horas de atraso. Ufa! Agora me pergunto: será que essa história toda não poderia ser escrita em menos de uma página? Será que se eles passassem melhor as informações não teríamos passado tanto tempo no aeroporto e sim, no hotel ou em casa? Será que uma empresa que tem ações na bolsa, vale bilhões de reais, não sabe como tratar seus clientes?
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E vocês devem me perguntar: e como foi a viagem a Buenos Aires? Foi legal!
Quem é o colunista: Marcelo Fraiha
O que faz: Trabalho no mercado imobiliário
Pecado gastronômico: Árabe e japonês
Melhor lugar do Brasil: Bahia
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 10 Abr 2012.