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Formalidade com personalidade: essa é a função de uma gravata cheia de estilo

Nem nos sangrentos e sujos campos de batalha os homens perdem a vaidade e a honra. Enquanto guerreavam em defesa do Império Austro-húngaro em meados do século 17, soldados croatas levavam as cores e insígnias de sua pátria num laço amarrado ao pescoço e ajustado por dentro da farda. A vitória levou o regimento à França para receber condecorações das mãos de Luís XIV, o monarca mais fashionista de toda a história, que ficou fascinado com aquele lenço croata. E assim surgia a gravata moderna, que, passados quase 500 anos, continua a transmitir bravura e elegância a quem sabe usar.

"A gravata é o símbolo da formalidade e, com o desenvolvimento do mercado de moda, ela passou a dizer muito da personalidade do homem. Enquanto o terno nivela todos, é pela gravata que o executivo vai imprimir seu toque pessoal", explica o estilista Ricardo Almeida.

Mas, para isso, o homem de estilo precisa ficar atento a certos detalhes que comumente passam desapercebido nas batalhas diárias, como padrões e tecido. "Definitivamente, o homem contemporâneo precisa entender que esses são elementos de distinção. Um tecido de qualidade concede uma abrangência de visual, deixando quem o veste mais bonito e elegante. O mesmo vale para os padrões - e saber escolhê-lo faz a diferença", detalha o consultor de imagem Alexandre Taleb.

Da nobreza ao Didi Mocó

Da corte francesa aos escritórios sustentáveis globalizados, a gravata mudou significativamente. No início, cheio de babados e volumes, o acessório foi se ajustando ao longo dos séculos até chegar aos padrões atuais. Os principais responsáveis pelo atual modelo foram os ingleses, que tiraram os excessos franceses e instituíram a arte do nó, que merece um capítulo à parte.

Com tantas variáveis de padrões e tecidos, ganha quem souber trabalhar o equilíbrio. "Não existe regra para a harmonia. Mas um profissional que quer se destacar no seu meio tem de mostrar que está antenado com as novas tendências e sabe usar essas informações de maneira adaptada ao universo ao qual pertence", explica Ricardo Almeida.

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Equilibre seu guarda-roupa com gravatas lisas, listradas, de poá e geométricas, com pelo menos, sete opções

Taleb concorda e vai além. "O homem precisa entender o peso que a gravata dá, e não sair usando qualquer coisa, como essas com bichinhos e sorvetes que deixam com cara de palhaço e lembram imediatamente cantores e humoristas, como Falcão e Didi Mocó".

Para ajudar quem quer tirar melhor proveito do acessório na guerra do mundo corporativo, confira algumas noções e dicas de nossos especialistas nesta e nas demais reportagens da série Looks Corporativos que o Guia da Semana está fazendo para facilitar a sua vida na hora de se vestir para o trabalho.

Tecido
Não adianta chiar: gravata boa é de seda, com seu brilho diferenciado e leveza de material, indo bem em todo e qualquer ambiente. As de crochê e lã, queridinhas dos fashionistas, só servem em universos mais descontraídos, como arquitetura, publicidade ou moda. Há quem defenda as feitas em algodão, mas essas são opacas e de fio grosso, dando muito volume com o nó. Micro-fibra? Jamais "Tem um brilho feio, é de material de qualidade duvidosa e ótima para manchar", explica Taleb.

Padronagens
Não quer errar? Aposte na clássica e universal gravata lisa e de cor neutra, como preto, cinza e marinho ou uma vermelha discreta. Já tem mais confiança nos seus gostos? Use as de listradas diagonais que mesclam de duas a no máximo três cores. O tamanho das listras é o de menos, o importante é a gravata compor bem com as demais peças (paletó e camisa). Outra opção são as que trazem pequenos desenhos geométricos e as de poá (pequenas bolinhas).

É seguro de si e quer mostrar que está antenado? Invista no xadrez: os mais fechados e de cores sóbrias para uso diário; e os mais abertos e claros em eventos sociais à noite. Outra opção são as falso-lisas, que ganham por conferir mais volume ao tecido, e as coloridas. Homens clássicos preferem as cores verde, lilás e rosa às mais berrantes, como púrpura e amarelo, que podem cair super bem nos mais jovens e ousados.

E perigo! Estampas andam na linha fina entre o ousado e o cafona. Elas só devem ser perceptíveis quando vistas bem de perto. Ou seja, desenhos grandes estão out. As chiques Hermès trazem bichinhos e outros detalhes bem pequenos. Outra tendência que retorna são as floridas e o padrão Paisley (ou cashmere - não confundir com a malha de mesmo nome), com aquelas flores e desenhos psicodélicos.

Tamanho
No início, de tão grandes, as gravatas eram quase babadores, até chegarem ao modelo largo, de 8,5 a 9 cm. Nos últimos anos, a ditadura da magreza e os modelos skinny e slim fit, entre quatro e cinco cm de largura, se impuseram como ideais para looks descolados Para ficar bem na fita sem medo de pecar, seja pela falta ou excesso, busque as intermediárias, entre 6,5 a 7 cm. Para passar sobriedade, a dica é escolher as mais largas.

Independente do estilo, há dois erros que jamais se deve cometer: "A gravata não pode passar da fivela do cinto e a largura da gravata sempre tem que ser igual ou menor que a largura da lapela do paletó", frisa o consultor Alexandre Taleb.

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Um bom exemplo de combinação: terno chumbo, gravata cinza com listras horizontais e camisa social verde-claro

Combinações e outros acessórios
Na opinião de Ricardo Almeida, harmonia e equilíbrio são melhores do que regras. No entanto, há pontos importantes a serem observados. Para não errar, nada melhor do que combinar primeiramente a gravata com o paletó e escolher uma camisa de tom abaixo ao da gravata, como uma azul lisa ou de listras com uma camisa social azul-claro, cinza ou grafite com camisa social verde-claro. Ah, e nunca camisas de meia manga, ok?

A mistura de padrões diferentes está liberada desde que não agrida aos olhos. Homens gordos e de maior estatura devem evitar misturar xadrez com listrado, pois a sobreposição alarga a silhueta.

Para ambientes noturnos e despojados, uma rápida mudança para uma gravata xadrez, esta de trama mais aberta e de linhas mais claras, garante um visual bem adequado. Prendedores e grampos são práticos em situações nas quais o paletó está aberto, mas não são bem-vistos por todos. Se quiser usá-los, mantenha-os 20 cm acima da ponta da gravata e dê preferência para os de prata e opacos.

Manutenção e conservação
Alexandre Taleb destaca o número de sete opções de gravata para se ter no guarda-roupa, possibilitando variações de tecido, padronagens e estilos em todos os dias da semana.

Guarde-as com o nó desfeito, de preferência enroladas, para não marcar vincos. É permitido passá-las a ferro se estiverem amassadas: apenas coloque um pano sobre elas para não haver contato direto com o tecido. Em caso de manchas, não adianta muito choro: uma boa gravata não se lava. E não arranque o fio solto no seu verso. Ele é a espinha da gravata, mantendo-a reta e íntegra.

Seja você mesmo!
Se você tem estilo e personalidade, tire essas informações como orientações, mas aposte no seu taco. Afinal de contas, é justamente este o acessório que imprime a sua marca pessoal e, como bem disse o escritor Oscar Wilde, uma gravata bem ajustada é primeiro passo sério na vida de um homem.

Atualizado em 10 Abr 2012.