Guia da Semana

Foto: div -www.ralphlauren.com
Modelo desfila coleção Ralph Lauren inspirada
em conceitos do dandismo durante semana
de moda de Nova York

Foi Baudelaire, na segunda metade do século 19, o primeiro a descrever o dândi. Segundo as palavras do escritor "o dandismo não é um deleite excessivo com roupas ou elegância material. Para o dândi perfeito, essas coisas nada mais são do que o símbolo da superioridade aristocrática de sua mente".

Fruto da recém nascida burguesia, donos de linguagem refinada e apreciadores das artes; os dândis surgiram para distinguir-se da vulgaridade ao seu redor, usando do seu próprio ridículo para ridicularizar com o todo.

Foto: Wikipedia

Trajados em calças estreitas, coletes justos e sapatos de bicos ultra-finos, os novos homens do século XIX se aproveitaram do surgimento das técnicas de manufaturação do algodão para definir um novo padrão de vestimenta masculina.

Mais adequados com a crescente urbanização, os novos trajes sepultaram, de uma só vez, as vestimentas mal cortadas, e rudes, dos campesinos do século 18, além das rendas, cetins e sedas, típicos dos aristocratas pré-Revolução Francesa.

Para Queila Ferraz, professora de História da Indumentária da Faculdade Belas Artes, o dandismo pode ser considerado um dos primeiros estereótipos dissonantes do comportamento masculino, precursor de movimentos como os emos ou metrossexuais.

"Os dândis são o que chamavam de snob - sem nobreza. Essa palavra era colocada na porta dos quarto dos alunos de Cambridge. Eles não tinham sobrenome aristocráticos, porém, freqüentavam a sociedade juntamente com poetas, músicos, artistas, se espelhando na aparência destes. Assim, acabaram por criar um novo arquétipo pop", analisa a professora.

Combinando em proporções iguais o requinte e o exotismo, os dândis foram bastante associados (muitas vezes corretamente) ao homossexualismo, o que tornou o estilo ainda mais polêmico.

Talvez o maior exemplo do dândismo tenha aparecido na Irlanda, na figura do escritor Oscar Wilde. Dotado de senso de humor corrosivo, tendência ao paradoxo, neste caso superioridade aristocrática, e vestuário espalhafatoso, Wilde se tornou ilustre pela maneira como retratou a sociedade britânica, além de traçar algumas das mais valiosas considerações literárias a respeito da juventude, das paixões e do amor.

Cultura Pop, música e dandismo no século 20

Com o surgimento do rádio, cinema e TV no século 20, o dândi usou dos novos canais para colocar a massa de joelhos ao seu narcisismo.

Apesar de não seguir a risca o figurino do estilo, Elvis pode ser considerado um dos primeiros a transmitir ao mundo, através dos meios de comunicação de massa, a rebeldia excêntrica e sofisticada do dândi.

Mais conceitual foi Andy Warhol que reproduziu sua arte através das artes plásticas, cinema, capas de discos e até produziu uma banda, o Velvet Underground.

David Bowie também foi outro que ao seu modo refletiu o dandismo, unindo a ele seu caráter camaleão e, resultando em diversos outros estereótipos.

"Normalmente, quando surgem, estes ícones são considerados feios, cafonas. Porém, acabam impondo um novo modelo pela força de sua personalidade", considera a professora sobre o estabelecimento de novos padrões impulsionados pelos ícones.

Apesar do banalização estética que o consumo em massa provocou durante o pós segunda guerra, e principalmente com o fim do socialismo, os anos 90 também teve, a moda antiga, seu ícone dândi.

Foto: MySpace.com

Jarvis Cocker formou o Pulp ainda no começo dos 80, porém, somente despontou para a Inglaterra em 1994, com o lançamento do álbum His´n´Hers. Dono de uma indolência nerd, herança de Elvis Costelo, ostentada pelos óculos fundo de garrafa e aros grossos, além dos palétos de tweed, Cocker mostrou uma visão nova, paradoxal, ácida porém divertida do british way of life.

Entre seus temas, Cocker escreveu sobre desejar alguém tanto a ponto de confundi-lá com a própria irmã ( Babies), pessoas ricas tentando viver como pessoas comuns ( Commom People) e, promessas infantis de casamento não consolidadas ( Disco 2000). Seus hits por diversas vezes ocuparam a lista do dez mais da parada britânica.

Foto: www.thekillersmusic.com

Saltando para os 00´s, o new rock também teve seu representante dândi. Brandon Flowers optou pelo sapato bico fino, colete e bigode para vestirem sua personalidade nada convencional. Junto com a sua banda, The Killers, a passagem de Flowers pelo Brasil estimulou diversos fãs do cantor a emular o visual do ídolo pela noite paulistana; muitas vezes sem conhecerem a fonte da estética.

Para Queila, o fenômeno é atemporal e condizente com a moda hoje. "Acho completamente possível visualizar esse fenômeno nas ruas. Todos que criam uma elegância glam ou heavy, e até mesmo o look de modernos da MTV, podem ser considerados um pouco dândy, inclusive as mulheres". Palavras sejam feitas as da professora em nome de uma nova elegância dandy moderna.

Para saber mais:
Dandyism.net - site dedicado a dandismo, moda e novos dândys
Swear London - os mais descolados sapatos ingleses
You Tube - com link direto para assistir Jarvis Cocker junto a sua banda Pulp

Curiosidade:
Em 1987, os Engenheiros do Hawaii lançaram o disco A Revolta dos Dândis. Logo na primeira música, homônima ao álbum, Humberto Gessinger rimava: "Entre o rosto e o retrato, o real e o abstrato", uma referência ao livro de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Gray.

Atualizado em 10 Abr 2012.