Essa é pra você, Chico, meu bem, deitado no colo da sua nova namorada
Um desabafo de alguém que levou um fora, da pior forma possível.
Por Redação Guia da Semana
Foto: Sxc.hu
Eu não procurei as chaves do carro dentro da minha bolsa sem compartimentos enquanto chegava ao estacionamento. Preferi gastar os três minutos que tinha pensando em você, Chico. Mas enquanto eu descia a Rua Augusta olhando distraída para uma barata cascuda que corria em direção ao bueiro, você caiu do décimo andar de um prédio. Do meu lado.
Paf. Caramba! Você não morre mais, Chico! Isso só pode ser um sinal de que a lei da atração é séria. Bendita a hora em que assisti "O Segredo". Espatifado em cima do mosaico preto e branco da Cerqueira César. Que fino! O seu cabelo está impecável, Chico! Fica tranqüilo. Até morto você é bonito. "Menino bonito, menino bonito ai!" Será que você gritou "ai" quando chegou ao chão ou já tinha morrido de susto? E se gritou durante a queda foi um "ai" longo ou "ai" curto? Com a sua voz indefinida, nem grave, nem fina. Da primeira vez que ouvi me decepcionei. É, achei que com aquela altura toda... Quando me dei conta de que era você, ali, esborrachado ao meu lado, não consegui ficar triste. Você estava aos meus pés! Irônico não é mesmo, seu filho da p#@*? Quem mandou me esnobar, Chico? Quem mandou?
Eu não pedi pra você me olhar. Eu estava acompanhada. Eu era namorada. E naquele dia você veio com graça. Encarou. Não te ofereci o meu telefone. Você solicitou. Não te liguei uma vez! Já você.... Eu queria que aquele convite pra uma cerveja medíocre em um bar desonesto nunca tivesse acontecido. Mas você insistiu, calhorda. Depois de negar, relutar e me esquivar, dei corda. Bem feito pra mim. Quem mandou ser assim fraca e romântica? Quem mandou?
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Eu pintei o cabelo de loiro e fiz chapinha por tua causa! Eu comprei uma calça nova! E na semana seguinte você já se atracava com uma sirigaita de sainha rosa. Uma menininha sem graça com cara de "blá blá blá Psicologia Mackenzie". Dessas que têm o CD do Jorge Vercilo dentro do carro e prendem o cabelo com bico-de-pato. Bico-de-pato, Chico? Você já foi mais sofisticado! É bem feito estar aí destroçado! Vou fazer mandinga pra que um cachorro sem dono fedorento, desses que perambulam no Centro, venha lamber a sua cara! Como fez aquele comigo quando você me abandonou bêbada na sarjeta e foi embora pra casa. Porra, Chico!
Pensa que eu não sabia que você pegava a minha melhor amiga? Debaixo da mesa do restaurante roçava a sua perna na dela. Descobri do jeito mais infeliz. Não porque quis! É que um dia, aquela galinha esfregou o dedão do pé na minha calcinha. E não era pra mim que ela sorria!
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Ah, Chico, dessa vez não vou ser boba. Se você espera rosas diárias em seu túmulo, contente-se apenas com um antúrio, seco, todo dia primeiro de setembro, que, se eu bem me lembro, foi quando nos conhecemos.
Agora, veja só, um aglomerado de mulheres olhando pra você. Uma arriscou "um menino tão bonito". "Menino bonito, menino bonito, ai" que raiva, Chico! Ninguém fala isso pra mim que estou viva e você recebendo cantada até como presunto!
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Atenção, mulherada! Este homem não presta! Se eu fosse vocês aproveitava o que resta deste corpo, que continua gostoso, mesmo desfigurado! Caralho! Ainda bem que você morreu, Chico! Ia me dar um trabalho! Saiam da minha frente todas. Abram a roda que eu quero pisar neste bandido! Como ele fez comigo! Se prepara, Chico! Esta é por ter me feito acreditar que eu era diferente! Esta, por dizer eu te amo, seu inconseqüente! Esta outra... por todas as vezes que não atendeu o celular na minha frente. Esta é por todos os recadinhos femininos deixados em seu
Orkut. Esta é por apagar os seus recados do
Orkut. Era tão bom o seu beijo, Chico. Mas se eu soubesse que pisar em você dava mais tesão... falando nisso... Esta é por nunca ter me comido, seu cretino!
Fica aí com suas tripas pra fora! Esse cheiro que mosca adora! Oh! Vem aí um urubu te devorar, adivinhe por onde ele vai começar? Quem mandou me esnobar, Chico? Quem mandou, hein, seu filho da p&%#?
Quem é a colunista: Priscila Nicolielo
O que faz: é redatora da TV Bandeirantes. Também escreve para Teatro e Cinema.
Pecado Gastronômico: Pão de Mel.
Melhor Lugar da Cidade: dentro do meu carro.
Para Falar com Priscila:[email protected], acesse
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CIAO, que ela escreveu.