Guia da Semana

Por Daniel Santander



Déjà vu, ano começando e o mesmo blablablá de sempre: em 2007 vou melhorar, vou casar, vou me dedicar à carreira, vou sei lá o quê. Quer saber? Sempre prometi muitas coisas e raramente cumpri alguma. Com exceção do ano em que prometi não cumprir nada que prometesse. Por sinal, aconselho a todos, você se sente muito mais realizado no balanço do fim de ano.

Mas o papo hoje é mais sério. Minha promessa este ano vai ser pra valer: eu prometo não aturar futilidades. Tolerância zero? Puta cara revoltado, alguém gritou. Nada disso, e acho que no final dessas linhas você vai concordar comigo. (Ou vai se juntar ao cara que gritou aí em cima e me chamar de estressado, vamos descobrir).

O fato é simples: é cada vez mais difícil encontrar alguém de verdade. Personalidade, cultura, vontade própria, hábitos verdadeiros. Cadê aquele cara que sempre gostou de sentar com os amigos no boteco? Cadê aquela mulher que tinha seu jeito próprio, para alguns até meio largada, mas era ela, 100% verdadeira.

Sabe o que aconteceu com eles? Eu respondo. Eles agora têm estilo, o estilo dos outros. Andam por ai de "Diesel", com seus "iPods", arrumando VIPs pras baladas mais "ins" do mundo. Não tenho nada contra a moda, a tecnologia ou contra curtir muito em uma balada top. Eu tenho tudo contra a futilidade de usar "uniformes" para ser cool. Sou contra a pasteurização das pessoas.

Falando em pasteurização, isso me lembrou uma experiência que tive outro dia, ao fugir no meio da tarde para comer alguma coisa com uma amiga. Estávamos sentados na praça de alimentação do shopping quando ela chamou minha atenção para um grupo que vinha em nossa direção. Um deles tinha o cabelo cuidadosamente desarrumado, vestia uma camiseta bem moderna, calça com cinto largo e, é claro, aquele fiozinho branco no ouvido. Até aqui tudo bem, mas quando reparei nos outros, pensei na Dona Célia, uma amiga da família que anos atrás teve trigêmeos e vestia todos exatamente iguais. Por um momento pensei: "Será que essa turma são os filhos dela?" Vou mandar lembranças a ela. Mas, não, Dona Célia ficaria sem lembranças minhas, eles eram mais do que três, eram muitos, e todos iguais.


Tá legal, as pessoas se vestem da mesma forma, isso se chama moda. Mas não se iluda quanto ao meu ponto de vista. As roupas iguais são apenas o ponto de partida de uma realidade que, pra mim, é bem triste. O problema não está no que elas usam, mas sim no que deixam de usar: a cabeça.

São os caras de New Balance do século 21. Com hábitos, pensamentos e atitudes terceirizados. Não interessa o que eu gosto, mas sim o que os outros acham legal gostar. As pessoas perderam a identidade, perderam a opinião e muitas delas perderam os valores. Cansei de ver gente mudando de postura da noite pro dia. Escondendo os CDs de música sertaneja que sempre adorou (eca!) e gravando um novo, só com as últimas do Sirena.

E o pior dessa história é que elas mudam sem um ideal, mudam apenas para parecerem o que não são, mudam para se encaixar em um modelo pré-definido. E, como na história do mentiroso, elas acabam acreditando na própria mentira e se tornam o que não são.

É claro que é normal o ser humano se adaptar ao meio em que vive, inevitável. Mas nessa processo muita coisa ficou pra trás. A essência de cada um virou a essência do grupo, o estilo virou reflexo e as pessoas de verdade viraram aquelas que estão por fora.

Deixa eu terminar por aqui. Preciso baixar umas músicas no meu iPod.

Quem é o colunista: Daniel Santander, conhecido pelos amigos como "T"

O que faz: Publicitário, é redator da Salem Marketing Direto

Pecado gastronômico: cortar a macarronada da Nona

Melhor lugar de São Paulo: Minha casa nova

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.