Guia da Semana

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A cidade tenta e resiste bravamente. Os arquitetos até cumprem sua missão de materializar os ideais do belo. Em certos bairros algumas senhorinhas, como se ainda vivessem na bucólica e tranqüila São Paulo de 45 anos atrás, nostalgicamente varrem suas calçadas entre fumaça de ônibus, barulho, carros e transeuntes apressados. Muitos tentam fazer de São Paulo uma cidade mais bonita, mais limpa e não tão opressiva, mas é inegável que às vezes me sinto morando numa grande cidade Frankstein. Modernos prédios buscam o céu e a glória monumentalmente fálica do capitalismo. Estes emergem sem nenhum tipo de padrão de zoneamento, como numa colcha de retalhos. Ruas antes pequenas e despretensiosas de repente margeiam colossos e as vias se entopem de carros. As casas de nossas avós são espremidas.

Na Avenida Paulista, um exemplo do caos: basta olhar para o prédio que está sendo construído ao lado da sede do CitiBank. Dois espigões muito parecidos, um anulando o outro, numa valsa fágica. O debate urbanista no Brasil, por mais profícuo que seja nas universidades e na teoria, esbarra na burocracia e na ineficiência do setor público. A lógica do "cada um por si" reina mais imponentemente em São Paulo, pois essa cidade é a grande arena do capitalismo brasileiro. São Paulo é guerra econômica.

E os fios? Que são esses rabiscos de preto que enfeiam nosso campo de visão quando estamos a admirar a paisagem urbana da cidade? Não raro me sinto asfixiado. Parece que esses fios tomam vida e me envolvem do pescoço aos olhos. Tentam me estrangular. Veja o caso da Vilaboim em Higienópolis. Uma praça tão bonita e circundada por restaurantes e bares interessantes rabiscada por fios malditos. Não sei o motivo pelo qual São Paulo foi infestada de postes e fios e tenho consciência de que os problemas da cidade são bem maiores que os problemas estéticos, mas algumas ruas tem postes colocados quase um ao lado do outro. Caso de saúde mental. É o caso de algumas ruas do Itaim Bibi. Numa delas contei mais de 20 postes somente em uma quadra!

Outro inimigo da harmonia são as calçadas. Para a maioria dos brasileiros, o espaço público, o espaço do portão para fora, não tem nenhum significado. Delegam para o governo. Surgem daí os monstrengos que vemos em baixo de nossos pés. Calçadas quebradas, descontínuas e irregulares. Isso quando os proprietários na calada da noite descumprem a lei e podam (muito mal) as árvores - muitas delas até morrem.

Tudo são críticas construtivas. Sou morador fascinado por São Paulo, a cidade em que a beleza não é óbvia. Está escondida entre fios, postes, carros e que ainda consegue caminhar majestosamente em calçadas destruídas.


Leia as colunas anteriores do Ibrahim:

? As vaias nos jogos Pan-americanos: a brasilidade e o homem cordial explicam as vaias dos torcedores brasileiros nos jogos Pan-americanos.

? Tiozão way of life: o colunista desvenda o estilo tiozão, tipo cada vez mais identificado pelas noites da vida!

? Brasil, o mais antigo modernoso: um país de estilo moderno-antigo, formado por uma cultura alegre e despretensiosa!

? Big Mac responsável: está na hora de mudar o estilo de vida e de consumo, em prol da saúde do planeta!

? O bom gosto e arte na vida: a definição de bom gosto perdeu o sentindo com a inversão dos valores da sociedade.

Quem é o colunista: Ibrahim Estephan

O que faz: Cursa administração de empresas

Pecado gastronômico: Double Whooper (oito queijos, carne extra) às 7 da manhã

Melhor lugar de São Paulo: Minha casa

Fale com ele: [email protected]

Atualizado em 6 Set 2011.