Essa semana, uma propaganda de revista feminina me surpreendeu positivamente. Nela, uma garota diz que não sabe o que as mulheres pensam, não sabe do que as mulheres gostam, e não sabe o que as mulheres querem, porque ela não é "as mulheres", ela é ela e ela é assim. Bacana, né?
Estamos tão habituados com uma publicidade que vende ilusão e reforça preconceitos que, quando um texto publicitário sai dos usuais clichês, a sensação que vem é de ar fresco. Se você der muita atenção à propaganda e acreditar no que ela diz, imaginará que, se não for rica, jamais será feliz; que se não for magra é feia; que se não for bonita está condenada a ficar sozinha; que se não for uma profissional brilhante é uma derrotada; que se for só dona de casa está ultrapassada, e sabe-se lá mais o quê.
Mas esse mérito não é só da propaganda. Se você der atenção e acreditar também em tudo que tentam lhe impor, simplesmente porque é assim que tem que ser, fica complicado.
Se você parar pra perceber direito o que você é e o que deveria ser, segundo o senso comum, talvez se assuste achando que deve haver algo errado em você. Esperam de nós que sejamos o que não somos de fato. Que façamos o que querem, e não o que queremos. Que correspondamos a expectativas criadas à nossa revelia e cuja responsabilidade, absolutamente, não é nossa.
Essas afirmações que generalizam tudo, te colocam numa categoria e pressupõem comportamentos iguais para todos que pertençam a essa categoria, te jogam num balaio de gatos e tiram o bonito de você, que é sua individualidade e sua autonomia.
Domingo passado, em meu parabéns pelo dia das mães, fiz questão de comentar que não somos sempre os maravilhosos clichês que nos atribuem - até para aliviá-las do peso deles. A imagem de perfeição, pureza e bondade que se atribui às mães não corresponde exatamente ao que cada uma é, dentro de suas limitações de todas as espécies. E o não corresponder ao modelo ideal acaba gerando sofrimento. Sempre penso que cada um é o que pode ser naquele determinado momento. Que não devemos nos cobrar muito quando nossa performance não é a melhor possível, porque não somos perfeitos. Sempre que nos cobram algum comportamento diferente daquele que, de fato, queremos ter, temos a opção de perguntar: por que é que eu tenho que ser assim?
Essa frase da garota da propaganda me reportou a um texto que escrevi muito tempo atrás, cujo nome era Faça suas Próprias Regras e nele eu contava uma pequena história que havia lido nalguma entrevista de Cássia Eller. Era mais ou menos assim: Cássia era casada com Eugênia, e tinha um filho pequeno, e o filho sempre via as duas juntas, namorando. Certo dia, o menino, vendo que Cássia havia se machucado, disse a ela: "mãe, você tá machucado..." Então ela o corrigiu: "não, filho, não é machucado, é machucada, mamãe é mulher". Ao que o menino respondeu: "mas você namora com ela, mulher não namora com mulher..." E Cássia retrucou: "namora, filho, a mamãe namora com a Eugênia..."
Simples assim.
O que defendo aqui é que quando a sua referência é mais interna, seu sofrimento é menor. Você é o que é e pergunta à própria alma o que te faz feliz. Seu parâmetro é o seu sentimento.
Você pode imaginar que, dizendo isso, eu esteja pregando uma forma egoísta de se viver, ou estimulando comportamentos contraproducentes na vida em comum. Te digo que não. E digo isso baseada numa convicção de que temos, dentro de nós, as respostas para tudo. Basta saber acessá-las. O caminho mais simples é o do coração. Dizem que nosso coração é nosso cérebro sábio, e acredito piamente nisso. As respostas que vêm dele, me parece, levam sempre a um resultado positivo e harmonioso para todos.
Se o seu parâmetro são os seus sentimentos e não os modelos impostos, quando te perguntarem quem você é, em vez de ficar aflita pensando em tudo aquilo que gostaria de ser e não consegue, você se sentirá tranquila e poderá responder: eu sou eu. E sentir uma grata satisfação nessa constatação.
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Atualizado em 6 Set 2011.