Guia da Semana

Foto: Gabriel Oliveira

No Brasil, para cada quatro casamentos realizados, um é desfeito. Rotina, incompatibilidade ou, na pior das hipóteses, traição. Os motivos são muitos. Mas o que importa é fugir das estatísticas e viver feliz para sempre. O médico homeopata Adair Zan garante que sabe a fórmula para isso. Responsável por um tipo especial de celebração matrimonial que agrega diversas religiões, o doutor casamenteiro afirma que a resposta está nos elementos da natureza e no conhecimento interior.

Após entrar nessa área como mediador amoroso de amigos, há 13 anos, Zan ganhou fama e hoje realiza no mínimo uma celebração por mês. Com mais de 30 rituais no currículo, ele também trabalha como consultor de relacionamentos. Seu método, pelo menos até agora, não falhou - segundo o próprio, nenhuma das uniões que organizou foi desfeita. Conheça a história desse santo casamenteiro e como funcionam suas celebrações.

Guia da Semana: Como são realizadas as suas cerimônias? O que há de diferente nelas?
Adain Zan:
Elas acontecem de maneira personalizada e construída ao longo de um tempo com cada casal. A cerimônia é única e a gente organiza encontros (três ou quatro) para ir formatando o ritual do grande dia. Tem uma energia exclusiva, porque é feita a partir da energia dos noivos durante esses encontros. A gente vai descobrindo como é a história deles.

Guia da Semana: Mas como essa energia é transmitida?
Zan:
A gente conversa para saber qual é a intenção, como os noivos querem se casar, as razões da união, como se conheceram, como foram crescendo juntos... Procuro ver as arestas e diferenças que existem. Então vou aprendendo com eles a montar uma cerimônia. A ocasião é um mar de energia, que precisa ser arquitetada de uma maneira clara e coerente.

Guia da Semana: O fato de alguém ter uma crença religiosa específica impede que alguém possa realizar sua celebração?
Zan:
O ritual acontece independente da religião, ao mesmo tempo em que recebe todas. Aceita cada um com a sua fé, o modo de ser, de pensar e acreditar na existência. Cada convidado vai oferecer o seu melhor naquele momento da cerimônia. Não tenho problemas com nenhuma das religiões.

Foto: Arquivo Pessoal
O médico homeopata já realizou mais de 30 cerimônias

Guia da Semana: Já sofreu alguma retratação por parte de alguma religião devido ao fato de organizar cerimônias matrimoniais?
Zan:
Não, pelo contrário. Fui ao casamento de uma cliente que atendi durante anos e quem fez o casamento dela foi um bispo de uma diocese, em São Paulo. Conversando com ele, comentei sobre minhas experiências matrimoniais. Ele me disse: "Doutor, continue fazendo suas cerimônias, porque o senhor tem o dom para isso e é disso que minha igreja está necessitando. Eu o abençoo e continue abençoando nossos casais". Foi bacana e também acomodou alguma coisa dentro de mim, da minha infância, de minha formação de origem católica.

Guia da Semana: Você poderia explicar como começou o seu trabalho com a união de casais.
Zan:
Há 13 anos, um casal de amigos ia se casar me convidou para fazer a cerimônia deles. Eu não sabia fazer casamentos, mas acabei fazendo. Três anos depois, uma moça de Florianópolis que já vivia com o marido há cinco anos, resolveu se casar. Na hora, falei "Não faço cerimônias". Ela retrucou: "Não faz mal, agora vai fazer!". Dez anos depois, quando fui de férias para Fernando de Noronha, conheci uma pessoa que trabalhava para uma agência de casamento. Contei das celebrações que já tinha realizado. Ela ia fazer um trabalho chamado Casa em Noronha, onde um casamento, de fato, iria acontecer para fazer parte das filmagens, em um material para divulgação. O fato é que o celebrante avisou quatro dias antes que não iria e eles estavam às voltas, pois o casamento estava pronto, com convites, festa e noivos. Acabei fazendo a cerimônia e foi uma coisa muito bacana. Foi tudo de uma forma muito espontânea.

Guia da Semana: Qual comprovante de casamento você oferece para os casais? Como faz para que essas pessoas preservem isso?
Zan:
A própria cerimônia tem o procedimento de benção dos casais. No geral, a gente prepara alguma coisa que é personalizada de casal para casal, que acaba sendo um testimonial que eles levam para casa, com aquela energia resultante que lhes foi oferecida. Uma energia construída com a força e a beleza de cada convidado presente. Isso serve para lembrar em um momento de alegria, para brindar, como é bom ter aquilo. Já em um momento de sufoco, tristeza ou dor, é uma forma de inspiração, lembrando que eles têm de onde se abastecer.

Guia da Semana: Você disse que os convidados são fundamentais. Existe algum tipo de preparação para eles?
Zan:
A gente prepara na hora. Antes de fazer cerimônia explico o que vai ser feito, em relação aos elementos da natureza. Falo sobre a razão de cada elemento (terra, fogo, água, ar) estar ali. Eles compreendem que foram lá para fazer algo a mais do que apenas ir a uma festa. Aí a gente vai ajudando-os a deixar de lado qualquer sentimento negativo, tristeza, dor, pensamento, ou qualquer outra coisa que tire os tire daquela presença, que entre no melhor lado deles. Para que ele ofereça isso aos noivos. A gente acaba construindo uma energia que é feita com a força e beleza de cada um. É um presente único para os noivos.

Foto: Gabriel Oliveira
Zan entra em contato com os casais em datas comemorativas, como Natal, aniversários e Ano Novo

Guia da Semana: Depois de mais de 30 cerimônias realizadas, você ainda mantém contato com esses casais? Como sabe que a união deu certo e não acabou em divórcio?
Zan:
Por interagir muito, ficam algumas coisas muito íntimas, fortes e profundas, difícil de se desconectar. Então nos falamos no natal, ano novo e aniversário. Dos casais que realizei a cerimônia, até hoje todos estão bem e investem nessa qualidade de crescer individualmente, para ser menos dependente e partilhar mais a vida com o outro.

Guia da Semana: Qual foi a cerimônia mais memorável que realizou?
Zan:
Todas são especiais. Mas fiz uma cerimônia aqui em São Paulo, no Fasano, com um casal de chineses, que foi muito bacana. Eles fretaram um avião da China e eu tinha que fazer uma cerimônia que envolveria todos os convidados, que não falavam português. Construímos um altar e, com a ajuda de uma tradutora, fizemos o necessário. No fim, as pessoas se sensibilizaram e consegui atingir essa energia criando algo muito diferenciado do que todo mundo recebeu.

Guia da Semana: Qual seria o seu conselho para um relacionamento prolongado?
Zan:
Tem uma frase que sempre me pareceu de efeito, mas depois vi que não é: "Ama teu próximo, como a ti mesmo". É mais fácil amar o próximo, até porque a gente consegue enrolar, disfarçar. Agora, como a gente mesmo não é tão simples assim, porque sabemos dos gatos ensacados. Então, aprender a amar, gostar, ser generoso consigo, ter ternura, tolerância e investir para superar as limitações, são atos de amor. Se amando você vai dar cada vez mais o que você tem. A felicidade de um casal não está no outro, está em mim. Eu é que me faço feliz. Eu vou aprender a me fazer feliz convivendo com você, com o outro.

Atualizado em 6 Set 2011.