Guia da Semana

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Sou fanático pelas Olimpíadas. E eu sei que, assim como eu, milhões de pessoas que nunca vêem além dos esportes tradicionais, param neste mês para ver judô, natação, atletismo (até o arremesso de martelo!), esgrima, arco e flecha e badminton (peteca com raquetes, é bem legal). Mas parece que o futebol e outros esportes mais badalados não combinam com tudo isso.

Eu mudei a minha opinião e a Fifa ajudou bastante nesse processo. Há décadas ela vem colocando em nossas cabeças que o que vale é a Copa do Mundo, que o futebol é o esporte mais praticado na maioria dos países, que ele é superior e é bom segregá-lo do resto dos esportes... Pois é, e ela faz cada vez mais restrições para que o futebol nas Olimpíadas seja praticado por amadores (na próxima edição, comenta-se que ele seja destinado apenas a atletas até 19 anos).

A Fifa ganhou e a tendência é que o futebol seja banido dos Jogos. Entretanto, apesar da força da Fifa, tudo isso acaba evitando uma situação constrangedora para os jogadores mais ricos (mais experientes e mais bem-sucedidos). Vamos falar a verdade: se pudessem chamar todos os jogadores de futebol para os Jogos, sem limite de idade, a maioria deles não estaria nem aí para as Olimpíadas!

Imagine que você é o Kaká. Você está no Milan, um clube de ponta, que costuma chegar às fases finais dos vários torneios que disputa. Você ganha muito bem para jogar (bem) entre 50 e 60 jogos por ano pelo clube, fora as vezes em que você é convocado e deve disputar pela Seleção as eliminatórias para a Copa, jogos amistosos contra times de qualidade duvidosa, e eventualmente alguma competição da Fifa.

Responda, você - que não é mais um garoto -, se estivesse rico e cansado, teria vontade de abdicar dos seus 30 dias ou menos de férias para se preparar e disputar os Jogos Olímpicos? E mais, ainda teria de ouvir as críticas da torcida do seu clube caso esteja perdendo um pouco da pré-temporada e não esteja rendendo em campo o que se espera. Garanto que eles não se importam se você não teve férias e está cansado. A cobrança vem proporcionalmente pelo que você ganha. Clube grande joga muitas vezes, paga bem, espera resultado e cobra muito quando ele não vem.

Os jogadores de futebol são profissionais (no Brasil, a partir dos 16 anos já pode ter contrato com clube). Mas vamos comparar com jogadores de basquete e de tênis, que também são profissionais e os mais badalados, que disputam as Olimpíadas, também são ricos. Várias estrelas da NBA já deixaram seus países na mão na hora de se preparar ou de ir às Olimpíadas. Roger Federer e Rafael Nadal, se quisessem, poderiam jogar tênis todos os dias do ano ganhando dinheiro! Por que eles teriam a obrigação de jogar por uma medalha?

Tudo bem, nem tudo é dinheiro. O espírito esportivo olímpico é lindo quando falado. Mas faça esse exercício de se colocar na situação dos atletas profissionais. Ou melhor, imagine se você fosse um pedreiro. Você trabalha o ano inteiro ganhando o seu suado dinheiro e depois, quando você tem uma folga, é chamado para trabalhar em prol da nação por ser um dos melhores pedreiros do país. E sem ganhar nada. Não critique os profissionais por não terem espírito olímpico.

Eu já disse que a Olimpíada é o maior evento esportivo do planeta, portanto isso dá uma grande visibilidade para o atleta e conseqüentemente dinheiro com patrocínios. Mas isso só vale para os esportes que a aceitam em seu calendário. Ela está espremida e acaba sendo um peso para os melhores atletas. Esportes tão profissionais como os ditos nesta coluna - principalmente o futebol -, ou são banidos dessa competição ao longo do tempo ou se adaptam a ver cada vez mais garotos inexperientes cheios de vontade atuarem.

Quem é o colunista: André Carbone
O que faz: Jornalista do canal Viagem do Guia da Semana
Pecado Gastronômico: Pizza e sorvete.
Melhor Lugar da Cidade: Qualquer estádio de futebol.
Para Falar com André: [email protected]



Atualizado em 6 Set 2011.