- Como é possível um homem não gostar de futebol, Teo?
- Ethan, é possível!
- E de mulher será que ele gosta? É brincadeira...
- Mais um chope. Amanhã vou comprar as entradas para o grande prêmio. Serão quatro ingressos?
- Três, o Bernardo não vai.
- Ele também não gosta de corridas? Gosta de quê, balé?
Os homens de papelão consideram somente dois tipos: o primeiro e o segundo. Eles negam que exista um terceiro, por isso são limitados e sem relevo.
Para um parlapatão, o primeiro é aquele que acredita no que um homem deve ser e o segundo é secundário. O segundo é necessário ao primeiro, apesar de ter pouco valor em relação a ele. Socialmente, os homens se posicionam a fim de serem reconhecidos como o primeiro: a pedir, a pagar e a sacanear.
O primeiro é palco, o segundo plateia. O primeiro depende do segundo apesar de seu desejo de submetê-lo. Assim, como o domingo e a segunda-feira, o homem e a mulher, o heterossexual e o homossexual. Sem o balé, o que seria do futebol? O drible, o passe e a bicicleta atestam a presença da dança neste jogo do qual se imagina ser possível expurgá-la. Do mesmo modo, já se pensou ser possível retirar o diabo de Deus. É o segundo que confere identidade ao primeiro.
A ação tem sido utilizada como um elemento motivador para os homens se relacionarem. Ela é uma agenda prévia de encontros. Encontram-se para fazerem alguma coisa ou, quando não estão fazendo algo, conversam sobre o que fizeram. Porém, por que há um incômodo com o que um outro homem faz? Que importância tem para o primeiro as escolhas do segundo?
Se a masculinidade fosse de fato estável, consistente e segura como defende o primeiro, pouco importa se o segundo é bailarino ou jogador de futebol. Para escapar das próprias ameaças, o primeiro tenta retirar de si tudo aquilo que o faz tremer, metendo suas fantasias no juízo que forma do segundo.
Quando age deste modo, o primeiro demonstra que precisa de temas para agenciar sua relação com o outro. Estes assuntos servem de garantias que dão o tom de macho ao encontro: "sinto cheiro de mulher gostosa". Mulher, bebida e carro, são alguns dos álibis necessários para quem precisa escapar dos próprios sentimentos e do preconceito de terceiros. O primeiro precisa estar sempre fazendo alguma coisa para se esquecer de quem ele é. Homens de papelão são assim, não tem vida própria. Eles dependem do segundo para existir, é o que demonstram as fobias masculinas.
Leia as colunas anteriores de Sócrates Nolasco:
Casar para quê?
Sabrina e a prancha
Sobre quem eram os homens
Quem é o colunista: Sou aquele que deixa o que encontrou melhor do que estava antes.
O que faz: Psicanalista, Escritor e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pecado gastronômico: Ostras com Cristal do Roederer.
Melhor lugar do Mundo: Yosemite National Park e San Francisco.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Yoshida Brothers.
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Atualizado em 11 Fev 2014.