Guia da Semana

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A cantora Riahanna sofreu agressões do namorado Chris Brown

Um conto de fadas. É assim que toda mulher sonha viver ao lado do homem escolhido. Carinho, cumplicidade e acima de tudo, respeito, são alguns dos sentimentos idealizados. Mas nem sempre o "viveram felizes para sempre" faz parte dessa história. Em alguns casamentos, ao contrário das histórias infantis, são os príncipes que viram sapos, quando o sentimento de afeto termina e cede espaço às agressões verbais e físicas.

Essa discussão foi reacendida recentemente na mídia, após o caso da cantora pop Rihanna, ameaçada de morte e agredida severamente pelo namorado, o rapper Chris Brown. Ao denunciá-lo às autoridades, a artista confessou que não era a primeira vez que sofria abusos, que ficavam cada vez mais violentos com o passar do tempo. No final das contas, a fama e a fortuna não a isentaram de um grave problema feminino: a violência doméstica.

Nos Estados Unidos, este tipo de crime é considerado hediondo e pode render até quatro anos de prisão. No Brasil, longe das câmeras de Hollywood, a lei Maria da Penha garante o direito da mulher se proteger de parceiros violentos. Mas será que ela realmente está cumprindo o seu papel?

Preto no branco



Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto de 2006, a lei alterou o Código Penal e permitiu que os agressores passassem a ser presos em flagrante ou que tivessem a prisão preventiva decretada. Além disso, eliminou as penas pecuniárias, em que o réu é condenado apenas a pagar cestas básicas ou multas.

Três anos depois, o número de denúncias vem aumentando constantemente. "Elas estão perdendo o medo de pedir ajuda, porque sabem que a lei vai estar ao seu lado. Não acredito que a violência tenha aumentado. A omissão que diminuiu", garante Joaquim Souza, psicólogo especializado no atendimento de mulheres que sofreram abusos.

Segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, a ocorrência de mais de casos de ataques domésticos gira em torno de dois milhões por ano. O estudo ainda aponta que além desse número, cerca de uma em cada cinco brasileiras declara espontaneamente ter sofrido algum tipo de violência por parte de algum homem.

Entre as agressões mais comuns destacam-se os tipos mais brandos, que ocorrem sob a forma de tapas e empurrões, citados por 20% das entrevistadas. Xingamentos relacionados à conduta moral ficam em segundo, atingindo 18% das vítimas. Ameaças indiretas, resultantes em roupas rasgadas e objetos atirados, foram citados por 15% delas.

Patrícia G.*, 32, encontra-se dentro das estatísticas. Logo no segundo mês do casamento sentiu pela primeira vez a mão pesada do marido, impulsionadas por crises de ciúmes e consumo de álcool. As agressões verbais, ocorridas no primeiro momento, em pouco deram lugar aos puxões de cabelos, tapas e até socos. "Por um tempo aguentei calada, sentia vergonha da minha família e meus amigos. Até que ele me machucou de verdade e fui parar no hospital. Aí não tive outra saída, a não ser denunciar", relembra. A atitude surtiu efeito imediato: o ex-marido foi processado e atualmente cumpre pena de dois anos e oito meses ( leia aqui a história completa de Patrícia).

A Lei
A lei foi batizada em homenagem a Maria da Penha, ícone das mulheres vítimas de violência. Em 1983, seu marido, um professor universitário, tentou matá-la duas vezes. Na primeira tentativa, ela ficou paraplégica. Após vinte anos lutando para ver seu agressor condenado, a justiça sentenciou o marido a oito anos de prisão. Após cumprir apenas um quarto da pena, ele ganhou a liberdade.

Inversão de valores



Mesmo com o aumento de denúncias, muitas mulheres agredidas continuam a sofrer preconceito. "Com o ajuda dos entes queridos a grande maioria das que sofrem abuso tomam coragem para denunciar. O grande problema é quando, além de agredidas, elas passam ser julgadas pelo ato e, pior, culpadas pela família", alerta Joaquim.

Foi o que aconteceu com Janína*, de 19 anos, que ao tentar defender a mãe do padrasto, foi surrada pelo agressor e expulsa de casa pelo casal, que alegou uma intromissão da filha no relacionamento ( leia aqui a história completa de Janaína) "Me senti impotente e chocada ao mesmo tempo. Esava tentando defendê-la e acabei virando a vilã da história", lamenta a jovem, que hoje mora com a irmã, longe do casal, que continua junto, após dois anos, mesmo com os constantes ataques do parceiro.

O que fazer

Independente do apoio ou não, a opinião de especialistas sobre casos de violência doméstica é sempre uma só: o silêncio e a omissão, além de deixarem comportamentos criminosos impunes, só pioram a situação. Por isso, por mais difícil que seja, é fundamental achar forças para tomar uma atitude. "Nenhum tipo de briga justifica uma agressão, muito menos a omissão. Quanto mais calada a mulher fica, mais valentão torna-se o homem. Homem que é homem não agride mulher", conclui o psicólogo.


Atualizado em 1 Dez 2011.