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As habilidades que uma mãe adquire ao criar os filhos podem beneficiar a sua carreira profissional

As mulheres investem em seus conhecimentos intelectuais, galgam altos projetos profissionais e ainda conseguem ser felizes na vida pessoal. É no momento de estabilidade profissional - e financeira - que surge a vontade de ser mãe e a grande dúvida: é possível aliar a maternidade com o sucesso na carreira?

A questão ainda divide opiniões, principalmente quando a análise baseia-se nos reais benefícios (e prejuízos) que uma criança pode trazer para o cotidiano de trabalho dos pais. Quem saiu em defesa do tema foi a escritora estadunidense Ann Crittenden, autora do livro Liderança começa em casa, lançado no final do ano passado no Brasil, pela Verus Editora.

A obra defende que as pessoas que passam pela experiência de criar os filhos desenvolvem habilidades diferenciadas para atuar no mundo corporativo, influenciando de maneira positiva na capacidade de liderança e de gerenciamento.

"Qualquer pessoa que tenha aprendido a acalmar uma criança pequena espoleta, a diminuir o ataque de raiva de um adolescente ou que tenha conseguido enfrentar os difíceis desafios de lidar com atividades domésticas está apta a lidar com as ordens de um chefe, enfrentar crises, cuidar de diversos assuntos urgentes de uma vez, motivar a equipe e sobreviver às maiores intrigas do escritório", afirma Ann no livro.

Embasamento real

Para escrever Liderança começa em casa, a autora entrevistou mais de cem pais e mães ativos e envolvidos na educação dos filhos que também são bem-sucedidos profissionalmente, sejam atuantes no meio corporativo, no direito, na política, na diplomacia, no meio acadêmico, na indústria do entretenimento ou no mundo sem fins lucrativos. Ela utilizou um pouco de sua experiência pessoal, pois também é mãe e profissional competente sendo escritora e tendo atuado como repórter do consagrado jornal dos Estados Unidos The New York Times.

Pesquisas científicas também comprovam a tese da autora. Há um recente estudo - citado no texto - que sugere a existência de uma base genética no cérebro das mães que comprovariam que a maternidade e a amamentação enriquecem a parte do encéfalo responsável pelo aprendizado e pela memória - dois itens essenciais para quem ocupa cargos de liderança.

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Atualmente, as mulheres possuem uma visão mais objetiva sobre o trabalho e não deixam que a gravidez interfira em sua vida profissional de maneira negativa

Outro estudo foi feito pelo Centro de Liderança Criativa em Greensboro, na Carolina do Norte, com 61 mulheres de boa formação, no intuito de desvendar se a eficácia no trabalho aumentaria ou não com a multiplicidade de tarefas que as mulheres assumem. A maioria concordou com a teoria e afirmou que as responsabilidades assumidas no campo pessoal - principalmente com a maternidade - melhoraram o desempenho profissional.

Lições administrativas para casa

Muitos dizem que a capacidade de lidar com diversas tarefas ao mesmo tempo é uma característica tipicamente feminina, que garante às mulheres o título de administradoras especializadas em vida. No livro, há o depoimento da ex-secretária de Estado dos Estados Unidos, Madeleine Albright, que deu um grande salto em sua carreira ao passar de dona de casa a um cargo importante no poder executivo estadunidense.

"Essa habilidade (das mulheres) vem da necessidade de manter um olho no filho enquanto tenta conversar com o encanador e dar atenção a mais outra coisa - como sua tese de doutorado - ao mesmo tempo", exemplifica Madeleine.

A executiva da multinacional brasileira Asyst International, Leda Blagevitch, 46, considera que a maternidade influenciou decisivamente para conseguir explorar sua capacidade de ser uma pessoa multitarefa. Ela revela que aprendeu a delegar atribuições que somente ela fazia em casa, como fazer as compras do mês e buscar os filhos no colégio, a outras pessoas de confiança ou familiares. "Mas para conseguir delegar tarefas em casa, eu tive que criar métodos e estrutura. É dessa mesma maneira que ajo no trabalho, com os funcionários", comenta Leda, mãe de Natália, 20, e Guilherme, 11.

Pare, pense, escute

A maternidade aliada à maturidade faz com as mulheres aprendam a diagnosticar quando um adulto - ou um funcionário, se estiver em uma empresa - está sendo infantil ou dando desculpas esfarrapadas porque não conseguiu cumprir sua ' lição de casa'. Outra característica relatada pelas entrevistadas do livro é que elas desenvolvem um filtro seletor e passam a escolher bem as brigas que vão comprar.

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O livro Liderança começa em casa, de Ann Crittenden, comprova que é possível para os pais educarem bem os filhos e serem bem-sucedidos no trabalho

A executiva da Asyst International também compartilha dessa opinião e revela que passou a ser muito mais seletiva após 30 anos de carreira profissional e 20 anos como mãe. "Com a maturidade, a confiança aumenta mais, escolho o que devo ouvir ou desconsiderar e onde quero investir o meu tempo. Comecei a ser multisseletiva", conta.

Aprender a ter paciência, entender e pensar antes de descontar seus problemas nas crianças também é essencial para uma mãe. É preciso entender que o tempo dos pequenos não é o mesmo dos adultos. Até mesmo entre os adultos, há pessoas com fuso horário diferenciado - e uma boa líder precisa aprender a respeitar e lidar com isso, assim como uma mãe com seus filhos de idades ou necessidades distintas.

A transição de conceitos de casa para o trabalho é ilustrada pela diretora de operações da Drogaria Onofre, Lismeri Ávila, 43. Ela diz que, no âmbito familiar, é essencial escutar, conversar e ter uma relação de liberdade com seu filho adolescente "É importante que meu filho tenha mais liberdade para tomar decisões e fazer escolhas, afinal ele já cresceu e tem 14 anos. Porém procuro sempre orientá-lo e deixar claro que se precisar, poderá contar com meu apoio", afirma.

Transportando isso para seu papel de líder, ela indica que as mulheres mostrem seus diferenciais ao ter senso de justiça, ao aprender ouvir os outros e ter uma visão holística. Assim, quanto mais as mulheres dão vazão às experiências maternas no ambiente de trabalho - como ter paciência, saber escutar e acreditar nas pessoas -, mais elas vão conquistando seu espaço como líderes no mercado de trabalho.

De mãe para profissional

Ann Crittenden diagnosticou, por meio de seus entrevistados para o livro Liderança começa em casa, quatro categorias de habilidades de mães e pais que enriquecem suas vidas profissionais. Confira abaixo!
  • Multitarefa: capacidade de se manter envolvido em diversas atividades de uma vez, que inclui a capacidade de estabelecer prioridades, manter o foco em meio à distração constante, administrar a complexidade com eficiência e lidar com a crise de maneira firme.
  • Habilidades interpessoais: permitem às pessoas compreender e trabalhar com os adultos de modo bem-sucedido. O destaque fica para a necessidade de ter paciência e de escutar, expressar empatia, respeitar as diferenças individuais, valorizar e usar o talento de todas as pessoas.
  • Capacidades humanas de crescimento: que se resume em técnicas que capacitam e orientam um gerente ou líder para desenvolver os pontos fortes das pessoas e trazer à tona o melhor delas. Dentre elas estão o reforço positivo, a capacidade de articular uma visão e inspirar pessoas a criar e executar essa visão, dar a liberdade para as pessoas crescer e cometer seus próprios erros, dar um feedback para que elas não se saiam mal.
  • Hábitos de integridade: a boa criação dos filhos exige a prática constante de certas qualidades conhecidas como antigas e exige muita coragem, eficácia, humildade, desapego, criatividade e um nível de autodomínio.





Liderança começa em casa
Autora: Ann Crittenden
Editora: Verus Editora
Ano de Publicação: 2010 (tradução)
Número de páginas: 272

Atualizado em 6 Set 2011.