Guia da Semana

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Cuidar da família é uma dentre as várias prioridades da mulher moderna.

Amélia não tinha a menor vaidade,
Amélia que era mulher de verdade

Quem não conhece ou nunca viu uma mulher estilo Amélia? Imortalizada nos versos dos compositores Mário Lago e Ataufo Alves, essa figura feminina aceitava toda sorte de privações ou vexames por amor aos filhos e ao marido. Estilo bastante comum até a década de 60, quando ocorreu a revolução sexual, a Amélia evoluiu junto com os novos tempos.

Isso porque as mães que têm enorme zelo pela família, como a personagem da música, nunca deixaram de existir. Porém, agora elas possuem outro tipo de atitude: ao invés de 'santas', são descoladas no campo sexual; não são mais submissas ao marido, mas sim parceiras, e seu próprio bem-estar, antes relegado a último plano em prol da família, ganhou papel de destaque. Apenas um único item jamais mudou: cuidar dos filhos e da família continua sendo um prazer, mesmo que alguns projetos fiquem um pouco de lado nesse período.

Um exemplo dessa mulher pós-moderna é a radialista de formação "e mãe de profissão" Patricia Assis, de 27 anos. Quando tinha 23 anos, ela e o marido, prestes a completar um ano de casados, acabaram sendo pegos de surpresa pela maternidade. Foi o que bastou para que os planos de crescer na carreira e de um sonhado intercâmbio na Espanha fossem deixados de lado temporariamente, trocados pelas fraldas e mamadeiras da pequena Maria Luiza, hoje com três anos.

Foto: Arquivo Pessoal
Patricia Assis e os filhos, Samuel (com 15 dias de vida) e Maria Luiza, em maio de 2009.

Mãe versus trabalho

Após uma pequena licença-maternidade, Patricia logo voltou ao trabalho, como estagiária numa empresa de comunicação integrada. Porém, recebeu outra surpresa. "Quando a Maria estava com sete meses, fui fazer alguns exames e descobri que estava grávida do Samuel", conta. Com a vinda de mais um integrante a família, ela ainda tentou continuar trabalhando fora, mas, devido a uma série de dificuldades, como horário da amamentação e uma síndrome do abandono desenvolvida pelo caçula, ela optou pela maternidade em tempo integral.

"Ser mãe é um presente, pois você se transforma em uma nova pessoa. Amo cuidar deles", explica Patricia. Mesmo ficando em casa, ela deu jeito de não abandonar totalmente a carreira: acabou montando um escritório de comunicação, que administra de casa mesmo. Também criou um blog, o De Repente Mãe, que pretende levar um pouco de humor para a mãe moderna, que trabalha (fora ou não) e cuida dos filhos.

Foto: Arquivo Pessoal
Maria Luiza e Samuel, em momento fraterno.

Para a mãe de Maria Luiza e Samuel, a maternidade muda muito os valores da mulher. Hoje, por exemplo, ela diz que não faz questão de adquirir bens supérfluos, como roupas de marca, justamente para investir no futuro da família. "Ao invés de gastar 400 reais e comprar um tênis, junto com mais 300 e coloco um ar-condicionado em casa, por exemplo. Algo que vai trazer um bem-estar maior para todos, não apenas para mim".

Ela reconhece que ser mãe é abrir mão de muitas coisas - e na maioria das vezes com muito gosto. "Funciona assim: preciso de uma blusa e meu filho não, pois já tem um monte. Daí, passo numa loja e vejo uma blusa linda para ele e compro. No fim, o neném vai usar duas vezes, ou porque ficou pequeno ou porque ele vai destruir a blusa mesmo. E eu fiquei sem nenhuma, mas mesmo assim estou contente", atesta.

Choque de estilos

Patricia se considera uma mãe da nova geração, que sabe da importância de cuidar bem dos filhos. Nada muito diferente de nossas mães ou avós, por exemplo. Porém, na sua visão, as mulheres de hoje são mais bem informadas. "Uso muito a internet e troco várias informações com outras mães. Um exemplo foi a vacinação dos meus filhos, que dei duas semanas antes do previsto para iniciar porque tinha visto a campanha na internet".

Na opinião dela, a própria mãe é um modelo a ser seguido, certamente. No entanto, Patricia ressalta que recebeu outro tipo de educação, um tanto mais rígido. "Coloco um DVD na sala e danço com os meus filhos. Ela não fazia isso, mas entendo e acho que o mais importante na criação dos filhos é fazer o que você pode".

Vaidade em xeque

Apesar de gostar da vida caseira, ela reconhece que ser mãe tem suas partes chatas. "O pior são as mudanças do corpo, como o manequim, que saltou de 38 para 42. Afinal, ter um filho atrás do outro fez um estrago na minha barriga", explica, aos risos, complementando. "O engraçado é que antes dos filhos não tinha metade da vaidade que tenho hoje. Apesar de ter engordado e da pele manchada, entre outros probleminhas estéticos, eu me valorizo muito mais".

Com tanta modernidade, Patricia acabou 'agredindo' alguns exemplares sobreviventes da Amélia original. Uma história, especialmente, a marcou. "Acabei aproveitando o desconto e fui no cabeleireiro em plena segunda-feira, depois de deixar a Maria na escolinha e o Samuel com a minha sogra". Na rua, ela cruzou com uma vizinha, já idosa, que, antes de falar bom dia, foi logo dizendo 'Tá bonitona, né? Cadê as crianças?'. "Me incomodou o tom meio 'Largou as crianças por aí e foi se embelezar', sabe? Parece que a gente não pode cuidar dos filhos e se cuidar ao mesmo tempo".

Atualizado em 1 Dez 2011.