Guia da Semana

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Ser contra o patrocínio nas camisas de clubes virou coisa de saudosista de plantão. O desejo de capitalização sempre existiu. Mas apenas em 1981 a Fifa liberou as logomarcas de empresas nos uniformes dos times. As seleções nacionais não podem ostentar patrocínio até hoje, exibindo somente a marca do fornecedor de material esportivo, permitida a partir da Copa do Mundo de 1990.

A pressão para exibir os logos veio através dos clubes ingleses, que mesmo sem permissão, já vendiam espaço em suas camisas no final da década de 70. No Brasil, apesar das controvérsias, acredita-se que o primeiro patrocinador seja a Minasgás, que estampou sua marca na camisa do Náutico, no começo dos anos 80.

Com uma relação de 24 anos com a Petrobras, o Flamengo é uma exceção quando se fala em patrocínio. A maioria dos times acaba mudando bastante, com certos exageros por parte de alguns. O Sertãozinho, por exemplo, durante o Paulistão 2008, realizou um jogo com com nada menos do que seis empresas no uniforme. Mesmo com os esforços por novas rendas, acabou rebaixado.

"Nesse caso o clube não perde a identidade. É o patrocinador que faz um mau negócio. Um anúncio na parte de trás do calção é péssimo, pois rapidamente fica sujo. O anúncio na meia, por exemplo, pode ser viável hoje, pois temos inúmeras câmeras transmitindo o jogo, mas não é significativo. Os clubes do interior têm que fazer isso para sobreviver, mas atraem apenas marcas pequenas. Um clube com torcida grande e em melhores condições financeiras tem mais chances de estabelecer um bom patrocínio, sem precisar lotear sua camisa", diz Marco Aurelio Klein, sociólogo e professor de marketing esportivo da Fundação Getúlio Vargas.

Os valores dificilmente são confirmados oficialmente pelos clubes. Entretanto, é possível dizer que, em 2008, Corinthians e Flamengo receberam algo em torno de R$ 16 milhões da Medial Saúde e da Petrobras, respectivamente. Foram os que mais ganharam dinheiro dessa forma no Brasil. O São Paulo recebeu R$ 15 milhões da LG. O Palmeiras, R$ 12 milhões, da Fiat e Suvinil.

Conflitos entre clube e jogador

A transferência de Ronaldinho para o Milan foi polêmica até na hora do patrocínio. O gaúcho tem um contrato pessoal com a Nike, enquanto a Adidas fornece o material esportivo do time italiano. Normalmente os jogadores assinam um contrato de direito de imagem, no qual está descrito exatamente tudo o que o jogador pode vestir em público e fora do clube.

"Jogador com patrocínio diferente do clube não é problema. Os atletas ganharam essa queda de braço há algum tempo. Houve uma ameaça de greve da seleção francesa quando a federação queria que os jogadores usassem as chuteiras do patrocinador. No fim, a Fifa deu ganho para os jogadores, pois a chuteira é uma escolha pessoal de cada um. Assim acontece com os patrocinadores próprios", afirma Klein.

Patrocinador ou Parceiro?

Essa é uma grande dúvida do torcedor. O fato é que o parceiro do clube não está interessado em divulgar um produto. A Traffic, por exemplo, estabeleceu uma parceria com o Palmeiras. A empresa compra jogadores e com intuito de vendê-los por um preço mais alto posteriormente, paga parte dos seus salários. Na hora da transação, fica com a maior parte do lucro. O time ganha com um jogador qualificado durante algum tempo, o que no final termina sendo uma forma de aluguel de passe.

Mas também existem os patrocinadores-parceiros. A Unimed, no Fluminense, e a Energil C, no Cruzeiro, chegam a participar do pagamento direto de jogador. Mas nenhum dos dois casos se compara ao que acordo entre a Parmalat e o Palmeiras na década de 1990. A parceria de oito anos foi excelente para o clube, que estava há 17 anos sem ganhar títulos e terminou o período com dez campeonatos conquistados. A Parmalat também teve ganhos inegáveis, se tornando uma das principais empresas do Brasil no ramo de leite e derivados.

"A relação de patrocínio da Parmalat com o Palmeiras foi uma ação particular no mundo, em um momento perfeito. A empresa estava chegando ao Brasil para concorrer com gigantes como a Nestlé. Optou não só por patrocinar o clube, como também por contratar jogadores e pagar parte dos salários", diz Klein, que ainda explica a situação atual das parcerias esportivas. "Uma coisa é uma ação de marketing, que tem a função de divulgar uma marca, escolhendo o segmento esportivo. Outra coisa é ser parceiro. Isso não é marketing. São pessoas colocam dinheiro e que apostam no retorno de investimento."

Até tu, Brutus?
Até o ultra-radical Athletic Bilbao, da Espanha, também se rendeu ao capitalismo dos patrocinadores. O clube, que não aceita jogadores que não sejam do País Basco e até meses atrás, se orgulhava de não ter o seu uniforme "manchado" em 110 anos, assinou recentemente um contrato de três temporadas, para exibir a logomarca da refinaria Petronor.

Os 2 milhões de euros que a empresa injeta no clube por mês servirão para que o Bilbao evite quebrar outra tradição: assim como Barcelona e o Real Madrid, o time nunca caiu para a segunda divisão espanhola.


Atualizado em 6 Set 2011.