Guia da Semana

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Tempo é dinheiro. O dito popular tem sua parcela de culpa por sermos alienados. Não faz muito tempo, e você deve lembrar que mandávamos cartas para aquele parente que morava nos Cafundós do Judas e a correspondência chegava até ele uns dez dias depois. Até ele responder, mais uns três dias (mais dez dias da volta). Contabilizando: 23 dias para manter contato com uma pessoa à distância.

Tudo bem, tinha o telefone. Ah, que maravilha! Podia falar com os Cafundós sem precisar esperar 23 dias e escutar a voz daquela pessoa que eu não via há anos. Mas como era difícil ter um desses! Havia até consórcio pra comprar coisas nesse nível de preço: geladeira, vídeo-cassete, carro e telefone! Bens de consumo que a massa falida do Brasil não tinha condições de ter, a não ser com prestações a perder de vista.

Até que surge um segundo detalhe: conseguindo um telefone, o difícil era pagar a conta. Ligação interurbana era um absurdo. Internacional, então, Deus que me livre e guarde!

A vida levava um ritmo mais lento, mesmo nas grandes metrópoles. Foi então que alguém teve a brilhante idéia de juntar o envio de informações (cartas) por uma conexão (telefone). O maldito nem sabia que causaria um colapso no mundo, com a invenção da Internet.

Falar com os Cafundós nunca foi tão fácil, assim como falar com Moscou, Sidney, Flórida e Bujumbura.

Quase no mesmo instante, outra sábia pessoa tirou o telefone do conector e ele não desligou. Nascia aí o celular.

Você vai onde quiser e em qualquer lugar qualquer um te encontra, a qualquer momento. Ótimo não?

Substituímos o "Alô" por "Cadê você"? E lá se foi a privacidade, o tempo para uma cervejinha com os amigos, para sair com a família, para ir ao banheiro... Como assim, tempo para ir ao banheiro? Sim, nem nesse momento você tem paz. Está lá você, prontinho para tirar a água do joelho e o MID do missão impossível, que você baixou por R$ 1,99, começa a tocar. É o seu chefe. Você respira fundo, afinal de contas, só você sabe o quanto aquele ser humano te inferniza. Lá vem a pergunta:

- Conseguiu responder aquele email que o presidente da empresa estava copiado?

De repente, você nota que existe eco na sua ligação. Seu chefe está ao seu lado, no mictório. Depois de notar a bobagem que vocês faziam juntos, ele vira para você e completa:

- Tempo é dinheiro, meu filho! Tempo é dinheiro!

Quem é o colunista: Paulista inquieto, muito bem-humorado e que admira as pessoas.

O que faz: Fotógrafo.

Pecado gastronômico: Strogonoff de Frango no pão italiano.

Melhor lugar do Brasil: Jaçanã, meu bairro de infância.

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Atualizado em 6 Set 2011.