Guia da Semana

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A realidade pode ser vivenciada de várias formas. Entendemos o conceito de vida pela realidade, mas discutimos a realidade perante a vida. Fomos acostumados ou direcionados a compreendê-la como matéria, física e palpável e, no oposto disso, a religião foi posta como o lado onírico do ser humano, algo que é inaceitável como realidade e entendida como o lado espiritual.

Pois bem, religião se torna a forma de o cidadão lidar com as impossibilidades que a vida demonstra. Para suportar a realidade da vida, nos apoiamos em religiões ou filosofias que tem em seu cerne a busca pelo Eu, por um Deus ou por um objetivo sensorial.


Por que começar o texto assim?


Sou de São Paulo, nascido em São Paulo. Vivi o grande crescimento da metrópole sem perceber. E, também sem perceber, cresci nela e vivenciei tudo o que foi possível e oferecido. Por uma história comum a muitos, deixei o estudo em segundo plano, muito por causa do péssimo ensino oferecido. Sempre gostei de ler, e continuei lendo e aprendendo sozinho.

Busquei vivenciar os estímulos que a cidade oferecia. Comecei a trabalhar e querer me virar na vida. Saí da casa dos meus pais com meu irmão e iniciei os primeiros passos da independência. Comecei a trabalhar em uma rede de fast food, depois parti para uma escola de música e uma empresa estrangeira de informática. Sem entrar em muitos detalhes, para não cansar o leitor.

Vi que esse caminho é exaustivo e sofrido, principalmente por perceber o quanto o organismo dessas empresas freia o desenvolvimento humano, tanto profissional quanto emocional. E a ideia da competição torna isso tudo mais incoerente. Sei que isso pode parecer um clichê, mas quer saber? Parti pra outra. Como todo ser humano, sou impelido a buscar o prazer e a busca por algo novo e curioso é sempre mais interessante.

Comecei a me envolver em um espaço alternativo e multidisciplinar, que envolvia desde festas semanais até cursos e práticas como ioga e astrologia. Aos poucos, me tornando parte integrante do projeto, me tornei sócio e assim sou até hoje. Nisso, foram dez anos de história, mudei de casa várias vezes, morei muito tempo em grupo com amigos, para facilitar as contas. O espaço do qual sou sócio já mudou de local duas vezes, e hoje é voltado mais para festas e eventos, mas sempre com o conceito da integração. Tenho uma filha de quatro anos e meio - por isso resolvi me mudar para o interior de São Paulo e buscar por algo novo e mais coerente com o que somos.

Eu não tinha tanta consciência que o conceito do sistema financeiro é o Deus do sistema de capitais. Quando olho de fora, as grandes cidades estão em busca de um crescimento econômico, assim como um templo está na busca do EU essencial do ser humano. Todos nós vislumbramos o lado onírico da criação. Alguns na busca do Eu, outros buscando cargos, status e poder. Mas, sem exceção, todos buscam no inatingível o seu objeto de conquista. No fundo, todos querem alcançar o impossível. E é essa busca que nos une como espécie, e que formata a infreável evolução da humanidade.

A consequência disso tudo certamente será um desastre, principalmente porque grande parte da população dominante esta na busca do Deus do Patrimônio, e os que não estão almejam estar.

Isso certamente vira na forma de um colapso financeiro, mas quem sou eu para afirmar isso?

Porém, sei que o sistema foi condicionado a sobreviver por "bolhas" - são elas que permitem os grandes investimentos na ciência. É com essa bolha que conseguimos manter o desenvolvimento tecnológico. E quando isso estoura, ocorre o que aconteceu recentemente nos Estados Unidos e que vem ocorrendo em outros países, o que afeta todo o sistema e seus dependentes.

Acredito muito na sustentabilidade como parâmetro de um novo desenvolvimento de governo econômico, social e ambiental, e por isso corri de São Paulo e vim parar em uma fazenda que cultiva alimentos orgânicos. Vim em busca também de uma vida mais saudável para minha família e por uma educação mais adequada para minha filha. Certamente minhas premissas mudaram e a sustentabilidade do Eu tornou-se o grande foco.

Acredito que a sustentabilidade começa com nossas pequenas ações. Sendo que essas ações também se voltam para nossa realidade emocional humana. Vejo na religião o conceito de religar-se. E percebo que isso é necessário perante a natureza, a fim de verificar as reais necessidades de sua sustentação como Eu, como população e como planeta. Sim, sou um grande defensor do êxodo urbano.

Quem é o colunista: Ainda não possuo esse conhecimento amplo de quem sou em uma só frase.

O que faz: Sócio do Espaço iD, poeta e administrador.

Pecado gastronômico: A comida de minha esposa, pode ser qualquer coisa, ela sempre acerta o que gosto.

Melhor lugar do Mundo: Minha casa.

O que está ouvindo no carro, iPod, mp3: Um mesclado de MPB, rock, jazz, rap e hiphop.

Fale com ele: [email protected].


Atualizado em 6 Set 2011.