Essa semana me mudei. E mudei. E percebi como uma mudança de endereço promove mudanças bem mais importantes do que a do próprio endereço.
Em meio a mil problemas técnicos, um caos de caixas espalhadas pelos cantos, peças de roupas e carregadores de celulares perdidos, eu me encontro. Passo de um quarto ao outro colocando alguma ordem no caos estabelecido e me pego sorrindo cada vez que olho por uma das sacadas do meu novo lar. Lá fora, tudo é verde.
O novo horizonte é a metáfora perfeita do que espero da vida: beleza.
Nos últimos dias, meu cérebro deve ter produzido mais novas sinapses do que em todo o último ano. No meu novo apê, quase tudo está invertido. Procuro à direita o que acabo encontrando à esquerda. Estou tendo que reposicionar tudo. Dentro e fora de mim.
A mudança exigiu revisão geral: o que uso, o que não uso, o que guardava só por apego, o que não me serve mais... e que estilo de vida quero ter a partir de agora. O novo espaço me obriga a repensar tudo. E isso, nesse momento, me cai como uma luva. Inicia-se uma fase em que serei mais profissional do que dona-de-casa, e já não era sem tempo. Dois filhos criados e uma enorme vontade de me jogar no mundo aliam-se a um desejo que tenho desde sempre de brincar com a liberdade.
E então, curtindo cada novo vizinho que me dá as boas-vindas, cada funcionário que se mostra atencioso, cada nova rota que testo, andando por ruas que não conhecia para ir aos lugares que já frequentava, vejo como é saudável mudar!
Essa semana foi toda especial. Além da casa nova, comecei um novo trabalho e a faculdade. A primeira aula de Introdução à Filosofia me fez voltar pra casa com uma agradável sensação de que acertei na escolha do curso.
E, me comparando à menina que, aos dezessete anos, entrou na faculdade de Letras e aos dezenove casou, totalmente desavisada, me senti numa vantagem tão grande que a vislumbrei tendo inveja de mim!
Mas... o que quero deixar em você, contando tudo isso?
Quero deixar um estímulo. Uma palavra de coragem. Uma vontade de ousar. Muitas mulheres passam a juventude temendo o envelhecer. A proximidade dos cinquenta, o estigma do meio século de vida trazendo malfadadas rugas, banhinhas a mais, excesso de maciez... tudo isso faz com que se instale uma neurose, e se canaliza tempo demais brigando contra aquilo que será inevitável. E o bom da coisa, que é o estar mais segura, menos medrosa, o ter menos a perder, que nos empresta um ar novamente jovial, mas agora mais tranquilo, parece ter menor valor.
Se estou hoje me presenteando com novidades, foi porque tive o desprendimento de abrir as mãos e largar uma segurança que não me fazia mais feliz. Mãos livres, pude agarrar as oportunidades que me surgiram e que emprestam, a mim e à minha vida, novas cores. Mais colorida, hoje desperto muito mais a admiração alheia do que quando menina.
Talvez seja porque a beleza, mais do que em formas perfeitas, está no brilho do olhar, no viço da pele, na luz do sorriso de quem se atreve a ser feliz.
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Atualizado em 10 Abr 2012.