Guia da Semana

Foto: Getty Images


O calendário futebolístico brasileiro de 2009 chegou ao fim. Agora, a mídia esportiva se dedica como pode ao vai-e-vem de atletas, técnicos, empresários... Tem time que, se escalado pela cobertura dos jornalistas sem assunto, seria melhor do que o escrete canarinho de 1970. Mas isso é um detalhe e se repete sempre.

O ano foi das duas maiores torcidas do país. O Flamengo levou o caneco nacional e o carioca. O Corinthians faturou a Copa do Brasil e o paulista. O Cruzeiro, que poderia ter dado um tempero mineiro nesse cozido, foi um fiasco na final da Libertadores, quando perdeu para o Estudiantes de La Plata, de Verón e companhia, em pleno Mineirão. Teve ainda o Fluminense, que poderia ter feito mais bonito diante da LDU, mas deixou-lhes a Sul-Americana, em uma temporada em que quase voltaram à Série B.

Se os torcedores alvinegros de São Paulo e rubronegros do Rio de Janeiro estão contentes, outras praças listam problemas. Pernambuco ficou sem representantes na Série A. Náutico e Sport foram rebaixados e o Santa Cruz segue na série D. O Nordeste só garantiu representação, porque o Ceará voltou à elite do ludopédio brasileiro.

O maior fiasco da temporada foi o meu Palmeiras, que começou matador no estadual, e terminou o ano sem sequer se classificar para a Libertadores de 2010. Trocou de técnico no meio da temporada, um medalhão - Vanderlei Luxemburgo - por outro - Muricy Ramalho -, mas nada de resultados.

Pior: o presidente-economista Luiz Gonzaga Belluzzo foi filmado numa festa de uma torcida organizada prometendo "matar os bambis" e ganhar o título do Brasileiro. E o vídeo apareceu depois de ele ter dito que tinha vontade de agredir Carlos Eugênio Simon, por ter anulado um gol legal de Obina contra o Fluminense. A suspensão e o desgaste, tudo combinado, foi munição de sobra para a oposição crescer e para disputas internas florescerem. É a festa daqueles jornalistas que temiam ficar sem assunto. Sobra polêmica no Palestra Itália.

Fiasco maior só o do Coritiba que, no ano de seu centenário, terminou rebaixado para a Série B. Além de recalcular os prejuízos com verba de TV para 2010, ainda vai ter de limpar o estrago provocado por torcedores enfurecidos que transformaram o Couto Pereira, estádio do clube, em cenário de uma batalha campal contra policiais militares. Deve ainda ser suspenso duramente.

Falando nos dois alviverdes, cabe uma menção, talvez um dos poucos momentos altos das equipes na temporada. É que ambos protagonizaram a primeira partida realmente verde da história do futebol brasileiro. Não me refiro à cor das camisas, mas ao outro sentido da expressão. Na vigésima rodada, todo o carbono emitido em viagens de delegação, traslado na cidade, iluminação e outros consumos de energia com a cobertura da imprensa, a produção dos bilhetes de ingresso etc, foi compensado com o plantio de árvores na cidade de Quatro Barras. Um exemplo bacana da diretoria do Coritiba, que nem o próprio clube repetiu.

De volta ao balanço do ano, o São Paulo passou em branco a temporada. Desde 2005, mantinha um título importante por ano. Outro grande paulista, o Santos, quase fez bonito no estadual, quando foi vice-campeão. Depois, patinou e ficou no bloco intermediário do nacional. A maior conquista do Peixe, na visão de muitos torcedores, com quem eu já conversei, foi a saída de Marcelo Teixeira da presidência do clube. O cartola está há dez anos no poder e renovação é importante.

Para os outros times do Rio, além do Flamengo, o ano não foi ruim, mas não necessariamente deixa lembranças para se emoldurar num quadro. O Fluminense fez um segundo turno de recuperação incrível e tudo o que isso produziu foi se livrar do rebaixamento. O Botafogo também só escapou da degola na última rodada. O Vasco, por fim, foi campeão da Segundona, conquista que emociona, envolve a torcida, é uma redenção. Mas poucos torcedores vão admitir ter orgulho desta taça na galeria de troféus, onde estão outras, como a Libertadores e o Brasileirão da série A.

Outra conquista mais importante

A principal conquista carioca de 2009 foi outra, que vai muito além dos campos de futebol. A cidade foi escolhida sede da Olimpíada de 2016, em disputa contra Chicago, Madri e Tóquio. Isso significa, por um lado, ter de resolver um monte de problemas em pouco tempo, incluindo obras, lidar com violência urbana, crime organizado e outras mazelas que, até hoje, não puderam ser superadas.

Mas também obriga o poder público e a iniciativa privada a fazer investimentos de melhoria na cidade. Com muita fiscalização e participação social, o Rio inteiro pode ganhar. Até os clubes de futebol. Mas essa parte da história continua por mais sete anos.

Para ser esquecido por uns, celebrado por outros, 2009 se foi. O próximo ano, 2010, tem Copa do Mundo, tem eleição no Brasil e novas emoções. Mas isso fica para um outro artigo.

Quem é o colunista: Anselmo Massad é palmeirense e jornalista.

O que faz: Um dos fundadores do Futepoca.

Pecado gastronômico: Cachaça Velha Motinha, pra só citar uma.

Melhor lugar do Brasil: A Mesa de Bar, com conversa animada.

Time de Futebol: Palmeiras.

Fale com ele: [email protected] ou acesse o Futepoca

Atualizado em 6 Set 2011.