Guia da Semana

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*Rico tem 37 anos, sendo que há 13 ele participa do DASA - Dependentes de Amor e Sexo Anônimos - fundado em Boston, no ano de 1976, e vindo para o Brasil em 1993. O grupo não possui profissionais envolvidos, apenas dependentes em recuperação que prestam a mútua ajuda.

São doze passos e doze tradições que ajudam a evitar um comportamento destrutivo quando há dependência por sexo, amor, relacionamentos românticos, emocionais e anorexia sexual, social e emocional. "Encontramos um denominador comum em nossos padrões compulsivos e obsessivos que torna qualquer diferença pessoal de sexo, gênero ou orientação sexual irrelevante", explica.

As mais de 30 irmandades espalhadas pelo país possuem um movimento de cerca de três mil pessoas por ano, incluindo integrantes de 18 a 80 anos de idade de ambos os sexos e todas as classes sociais.

"Muitas histórias típicas têm como protagonistas pessoas que visitavam assiduamente certos lugares, que tiveram repetidos contágios de enfermidades venéreas e o medo de serem descobertos por seus familiares. Outros não conseguiam evitar as relações destrutivas e em pouco tempo se encontravam em outras relações igualmente prejudiciais. Outros, finalmente, dedicavam-se a atividades sexuais solitárias", conta Rico.

Para quem está bem com a sua sexualidade, mas sentimentos como angústia, depressão, nervosismo, medo e ansiedade fazem parte do dia-a-dia, entra em ação a sociedade dos Neuróticos Anônimos.

O coordenador geral *Sigmundo G. tem 67 anos, sendo 18 como participante da associação, que existe há 38 anos no Brasil. Ele explica que, da mesma forma que o DASA, o grupo se baseia em ajuda mútua, nos doze passos e nas doze tradições .

Participam homens e mulheres de todas as idades, níveis profissionais e econômicos. São reuniões semanais com duas horas de duração cada uma, sem haver a necessidade de qualquer tipo de registro ou inscrição prévia.

"Notamos a eficácia do grupo quando conseguimos viver plenamente, apesar dos problemas que a vida normalmente nos apresenta. Participando das reuniões e praticando o Programa de Recuperação, adquirimos uma nova maneira de pensar e encarar nossos problemas", diz Sigmund G.

A coordenadora de grupos de apoio da Federação Brasileira de Amor Exigente (Febrae) há 22 anos, Vera Porto, conta que existe uma melhora do dependente químico quando a família age em conjunto. A associação, focada em familiares de dependentes, recebe cerca de 50 mil pessoas por semana, sendo que muitos se tornam membros para prevenir problemas no lar. Ela possui também cerca de 5 mil voluntários.

Na Febrae, os integrantes se reúnem durante duas horas por semana, seguindo doze princípios. O objetivo é reformular as atitudes para que os filhos sintam os prejuízos das drogas e queiram, assim, melhorar.

Há grupos que atendem a mais de um tipo de público. É o caso da Fênix - Associação Pró Saúde Mental, que atende a pessoas com todo tipo de psicoses, esquizofrenia, transtorno bipolar, transtorno obsessivo compulsivo (TOC) e outros, além de receber pessoas que possuem esse tipo de doença na família.

Integrante da diretoria há seis anos, Márcia Tolezano conta que começou a participar do grupo por ter muitos casos de transtorno bipolar (alterações bruscas de humor) na família.

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Ela explica que apenas leigos participam da auto-ajuda. "Se um profissional quiser conhecer, por curiosidade, ele deve entrar na reunião como um membro do grupo, mas não deve ter voz, apenas ouvir os relatos", explica.

Ao longo do ano, passam cerca de 20 mil pessoas pelas reuniões, considerando que ninguém é obrigado a participar sempre. Os resultados trazem a melhora da auto-estima e uma troca de informações inclusive sobre medicamentos que têm melhor efeito em determinado paciente.

Muitos portadores de psicoses e esquizofrenias interrompem o uso do remédio quando sentem melhora e, logo, têm algum tipo de recaída. O trabalho de mútua-ajuda auxilia na conscientização desses pacientes, para que não deixem de se tratar.

Dividir alegrias e tristezas também faz bem à saúde. É o que confirma Osmair, voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV), associação que há 40 anos faz o trabalho de ouvir pessoas para prevenir o suicídio.

Hoje, no Brasil, são cerca de 2 mil voluntários que recebem ligações, cartas, e-mails e visitas pessoais daqueles que querem desabafar. "Só aqui no CVV de Santo André nós recebemos cerca de 100 ligações por dia, com uma média de 30 a 40 minutos cada ligação", diz.

O que torna um diálogo tão eficiente? O sociólogo Edemilson Antunes dá um exemplo. "Certa vez, durante a pesquisa de campo, ouvi de um membro dos Alcoólicos Anônimos que ele ia sempre às reuniões porque não podia esquecer-se que era um doente e o único "remédio" que ele possuía era a palavra. Todos nós precisamos elaborar um sentido para nossa existência através da linguagem. Ora, esse é o maior reconhecimento de que a linguagem é fundamental para a construção do mundo e da cultura".

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Atualizado em 6 Set 2011.