Guia da Semana

A ciência da contrologia

Há séculos inspira diferentes manifestações artísticas. É tema soberano dos gênios da música, dos scripts dos melhores roteiristas. Rico demais para o enredo e a ficção. Miserável em excesso para a realidade.

O ciúme é um sentimento burro e solitário.

Não escolhe conta bancária, idade ou sexo e pode até matar.

Adentra o sistema nervoso provocando ações impensadas e reações assustadas.

O ciumento se aproxima de quem gosta de ser desejado.

Quando ouvi que o Pilates, técnica baseada basicamente na força abdominal, foi batizada por seu inventor de ciência da contrologia, lembrei na hora, que nenhuma expressão poderia ser melhor aplicada na cura do ciúmes.

Se praticássemos Pilates com nossos impulsos, reprimindo-os assim como fazemos com os músculos abdominais, seria menos simples perder o controle.

Se tratando de contrologia aplicada às atordoadas sensações de perda, de posse e de insegurança, não existem escolas, nem mestres.

Mesmo munidos de profissionais especializados e da incansável repetição da técnica, também não é de um dia para o outro que se introjeta uma nova maneira de posicionar seus músculos de sustentação abdominal.

Como é posssível que a ciência da contrologia funcione para diminuir ou evitar os malefícios do ciúme?


Assim de uma hora para outra. Sem aulas, sem treinos ou repetições. No tranco. Como se fosse fácil adotar uma nova postura, assim de repente! Não que a do Pilates seja, mas envolve apenas você, sua disciplina e os seus músculos. O seus músculos.


E de mais ninguém com quem você necessite reafirmar permanentemente o sentimento. Desconfiando, rompendo, surtando, para depois reconciliar e ter certeza de que aquela pessoa que você morre de medo de perder de vista, ainda o guarda em um nobre e espaçoso lugar no lado esquerdo do peito.


Como um círculo vicioso em que a auto-afirmação e a reconquista transformam-se em substâncias cada vez mais necessárias e em maiores doses nas relações.

Então, você que apenas resmungava quando ele atrasava um compromisso, passa a furungar no celular. A bola da desconfiança é como a de neve: só aumenta.


Caso você não retome imediatamente o controle do "abdômen" vai estar cada vez mais longe dos resultados a que se propõe: a almejada e quase fictícia maturidade.


A comparação não é com yoga, é com o Pilates, mas nesse caso extremo de contrologia, vale misturar técnicas.


Inspire, respire, concentre e encontre um ponto fixo.


Concentre naquilo que você sabe que dará força para tudo. Nesse caso, seu abdominal é você mesmo. O único dono de todas as suas tão essenciais atenções a si mesmo.


Esqueça que você se viciou no pensamento de outra pessoa. Aja como um ex-tabagista. Não será fácil, mas você pode aprender sem professor. O ciúme não faz mais parte dos seus hábitos.


Quer saber por quê? Porque nada vai adiantar.


A mente e o corpo de todas as pessoas seguirão livres. Pensando em quem quiserem, desejando quem tiverem que desejar. Imaginando o que lhes der na telha. Fazendo o que bem entenderem com quem tiverem vontade, na hora em que for necessário e prazeroso para eles.


Sim. Exatamente assim. Exatamente como acontece com você. Porque os seres humanos são semelhantes e a liberdade é boa. Porque não é a sua insistência em dominar os devaneios alheios que vai mudar ou impedir o destino daquele que você diz e imagina que ama.


Quer uma notícia mais trágica?


Sem contrologia, só vai piorar.


Leia o blog de Mariana Bertolucci



Atualizado em 6 Set 2011.