Guia da Semana

Foto: TV Globo/João Miguel Junior

Barbara Paz interpreta Renata em Viver a Vida, vítima da drunkorexia

Tomar uma cervejinha de estômago vazio pode gerar um problema muito maior do que você imagina. Na onda do corpo perfeito e curvas esculturais, dezenas de mulheres vêm deixando de lado as refeições rotineiras e aumentam o consumo de álcool na ilusão de não ganharem peso. Para quem acompanha a novela das oito, Viver a Vida, o exemplo típico do caso é a personagem Renatinha, vivida pela atriz Bárbara Paz. Na ânsia de ganhar seu espaço no meio artístico, a jovem fica paranóica com a silhueta e bebe ao invés de se alimentar protagonizando barracos e desconforto aos demais personagens da trama de Manoel Carlos. A prática, conhecida como drunkorexia, trata-se de um transtorno alimentar que acarreta diversos riscos à saúde, desde hormonais até cardíacos, sem contar dos males a beleza.

Cuidado com o copo

De acordo com pesquisas realizadas recentemente, cresce há cinco anos consecutivos o número de mulheres nas estatísticas de mortes no trânsito brasileiro. Esse resultado reflete o aumento do consumo de álcool pelo público feminino. Partindo desse pressuposto, a bebida se uniu a um outro problema recorrente na vida de muitas mulheres preocupadas com a forma: a anorexia. Quem pensa que o assunto não sai das telinhas, engana-se. Os casos de drunkorexia são cada vez mais rotineiros nos consultórios médicos do país.

Segundo a nutricionista e uma das responsáveis do PROMUD - Programa Mulher Dependente Química do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, em São Paulo, Adriana Kachani, diferente dos homens, o corpo feminino possui mais probabilidade de dependência ao álcool devido a menor quantidade de enzimas.
"A mulher fica dependente da bebida com muito mais facilidade que um homem. Ela precisa de maiores quantidades para aumentar a tolerância pelo fato do corpo ser menor e possuir menos enzimas que metabolizam e quebram o álcool", afirma.

Efeitos perigosos

Que um dos grandes inimigos da mulher é a balança não resta dúvida. As mais preocupadas querem seguir um padrão estético incompatível a sua realidade e acabam por encontrar formas de alcançar esse "patamar" abrindo mão de um prato de comida, partindo para um, dois, três, vários copos de cerveja. Os alvos fáceis da alcoorexia são moças entre 20 e 40 anos que começaram a desenvolver hábitos alcoólicos já na adolescência. "Não existe uma tese e uma prova cientifica que confirme um porque. Envolve as vezes uma pré-disposição biológica, cultural, etc. A drunkorexia não é catalogada como a anorexia. É um subtipo da doença. Fica na faixa entre transtornos alimentares e dependência química", explica a psiquiatra do PROMUD, Melissa Garcia Tamelini.

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Ao pensarem que emagrecem, pois estão deixando de comer, as mulheres não percebem que a perda de peso está aliada a outros aspectos. Para se ter uma noção, um grama de álcool equivale a exatas 7 calorias, ou seja, o dobro de um grama de carboidrato ou proteína. Diante dessa "dieta" o organismo rapidamente mostra a falta de vitaminas essenciais para o um bom funcionamento. O resultado disso se reflete em diversos aspectos da saúde feminina. "O consumo excessivo de álcool traz consequências com o hipertensão, problemas cardiovasculares, diabetes. Além disso, destrói várias células do intestino, dificultando a absorção de nutrientes como a lactose, vitaminas do complexo B, ferro e várias outras hipovitaminoses", ressalta a nutricionista Adriana.

A estética e o sistema reprodutor também são alvos da doença. A pele das drunkorexicas é fortemente prejudicada, pois perde a capacidade de renovação e cicatrização no processo da troca alimentar. "Tanto a dependência alcoólica quanto a anorexia nervosa interferem inclusive nos hormônios. A mulher precisa de nutrientes e gordura para formá-los e a falta disso prejudica o ciclo menstrual, que pode acarretar problemas em uma futura gravidez", ressalta a nutricionista Adriana.

O que fazer?

Quando percebe que está envolvida em um problema com essa gravidade, o melhor a fazer é procurar uma ajuda especializada. As drunkorexicas, maioria dos casos, buscam por si só ajuda quando percebem que estão dependentes do álcool e não pela falta de alimentação. "Existe um consumo de álcool chamado de social e ele é uma droga lícita. No geral a procura acontece quando elas percebem algum tipo de prejuízo, seja ele social, profissional, médico, desde uma briga em casa, uma gastrite, restrição médica, etc", enumera a psiquiatra.

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O tratamento deve ser multidisciplinar. Ou seja, atuar da parceria de um nutricionista, para cuidar da reeducação alimentar, e um acompanhamento psicológico, que trabalhe a questão do vício e manias que estimulam a prática. "Tentamos quebrar as crenças alimentares enraizadas, como 'tal coisa engorda muito'. Nesses casos a alimentação aumenta aos poucos, pois pode haver um problema chamado síndrome da realimentação. E paralelamente, vem a questão dos mitos, dormir o dia todo e ficar sem comer, colocar a bebida no lugar da comida, etc", explica Adriana Kachani

Já no âmbito psicológico, o processo segue a linha de fazer com que a mulher estabeleça uma rotina de alimentação e entenda que isso é necessário para que ela viva bem. "Trabalha-se também a questão do físico e a concepção que ela tem do álcool. Em alguns casos é necessário o uso de antidepressivos, mas a intenção é que a pessoa passe a criar o hábito de alimenta-se bem por si só", cometa Melissa.

Atualizado em 6 Set 2011.