Segundo a ANVISA |
A auto-hemoterapia é um procedimento não reconhecido pelo sistema de vigilância sanitária e pelos conselhos que regulam o exercício profissional da medicina e da enfermagem. A prática infringe o Decreto 77.052/76, que exige comprovação científica para todos os métodos e processos desenvolvidos na área de saúde. |
Imagine curar de resfriado a AIDS apenas com dois ingredientes: seringa e seu próprio sangue. O método já existe e não é de hoje. Desde 1940, a auto-hemoterapia é aplicada como forma de medicina alternativa.
Há 27 anos realizando o tratamento, o médico Luiz Moura lançou um DVD explicando como se realiza o processo e os benefícios do mesmo. Em entrevista, ele conta que a auto-hemoterapia aumenta em quatro vezes o número de macrófagos, ou seja, passa de 5% a 22% em apenas oito horas. Depois de cinco dias, o valor é normalizado novamente. As células macrófogas são responsáveis pela defesa contra infecções do organismo.
De acordo com o especialista, o tratamento é eficiente principalmente contra doenças auto-imunes e alérgicas, prevenindo inclusive a acne juvenil. Ele conta que, em 1913, já havia auto-hemoterapia na França e, atualmente, o país mais engajado na pesquisa é o México.
Fotos: Sxc.hu |
O sangue deve ser retirado e reaplicado no músculo do braço ou da nádega. No braço, pode ser inserido apenas 5ml por vez, já na nádega é permitido que se injete 10ml de sangue. O máximo que a pessoa pode receber por vez são 20ml, sempre respeitando a quantidade que cada braço e nádega podem receber. Não há riscos biológicos, pois o sangue não vem de outra pessoa. O problema que pode haver é com a manipulação errada de uma seringa.
O presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren), Eduardo Pereira de Carvalho, dá sua opinião sobre o assunto. "Sou um alopata. Como cidadão, não acredito em terapias alternativas, mas como presidente defendo, pois também temos outros tratamentos alternativos que hoje são bastante utilizados, como a acupuntura", diz.
No Coren - DF, a auto-hemoterapia só é realizada com parecer médico, mas o Conselho Federal de Enfermagem não recomenda o método.
Segundo Pereira, existe um exagero por parte tanto dos que defendem, como daqueles que são contra o método. Os que são a favor dizem que seria a cura para todos os males, desde resfriado até AIDS, fazendo com que as pessoas fiquem livres dos fármacos. Já os que são contra, possuem manifestações exageradas.
"Vi em uma reportagem do Fantástico um médico do Conselho de Medicina chamando de picareta um senhor de 82 anos, um colega médico. Ele deveria ser um guardião da ética médica nacional", confirma.
O médico responsável pelo Conselho Federal de Medicina Carlos Vital alerta que a auto-hemoterapia não possui nenhum tipo de base científica, não sendo reconhecida pelo Conselho.
Ele diz também que um os riscos inclui danos morais, já que o tratamento pode não atingir o resultado esperado numa pessoa que criou grandes expectativas. "O Brasil é um país muito fértil, com raízes étnicas diferenciadas que vão da seguridade à religiosidade. A luta dos conselhos é para que não se faça publicidade de tratamentos sem base científica", completa.
O presidente da Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia Carlos Chiattone diz que existem dois riscos no procedimento. Quando o sangue é retirado, mesmo profissionais com instruções de assepsia correm o risco de que a substância seja infectada. Os micróbios podem ser levados ao corpo humano quando o líquido é reinjetatado, causando até uma infecção generalizada.
O segundo risco ainda não é conhecido. De acordo com Chiattone, com a aplicação que se sugere do procedimento (uma vez por semana), não são sabidas as conseqüências a longo prazo. O que se sabe é que o estímulo crônico do sistema imunológico pode causar doenças como linfomas.
Vital alerta que doenças crônicas possuem fases de regressão espontâneas, mas que muitas vezes retornam à patologia até de forma mais agravada do que estava antes. Uma das possibilidades é que as pessoas que se dizem curadas pelo tratamento podem ter utilizado o método justamente nessa fase.
Assista o vídeo de aplicação da Auto-hemoterapia
O que diz a ANVISA
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), não há estudos científicos que mensurem possíveis riscos à saúde ou que comprovem a segurança e eficácia da auto-hemoterapia. Da mesma forma, não existe bibliografia ou legislação que valide o procedimento.
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) não reconhece a prática que, segundo a ANVISA, era usada no século passado por falta de outras opções. A Agência diz também que as reações ao tratamento "podem variar de uma simples inflamação ou alergia até o retardo de diagnósticos, como também o desenvolvimento de doenças auto-imunes".
O estabelecimento médico que não cumprir a lei receberá uma autuação da Vigilância Sanitária, estando sujeito a penalidades que vão desde notificações e multas até a interdição do local. O valor das multas varia entre R$2 mil a R$1,5 milhão.
Colaboraram:
? ANVISA
? Conselho Regional de Enfermagem do DF
? Conselho Federal de Medicina
? Sociedade Brasileira de Hematologia e Hemoterapia
?Dr. Luiz Moura - Para adquirir o DVD: (21) 2205-9785 (Falar com Glória)
Atualizado em 1 Dez 2011.