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Shogun não faz o estilo de lutador provocador. Usa sua agressividade somente dentro do octogonal

Superação é o adjetivo companheiro do curitibano Maurício "Shogun" Rua. O ex-modelo de 29 anos, com 1,85 m e 93 kg, entrou nas artes marciais ainda adolescente, por influência do irmão mais velho. O domínio do muay thai e do jiu-jitsu aliado a um estilo agressivo levou-o para o Japão, onde foi campeão do Pride, campeonato mais importante de vale-tudo até meados dos anos 2000. Após a compra do torneiro pelo UFC, integrou-se ao pelotão das estrelas americanas.

Com a mudança das regras e do espaço - o ringue deu lugar a um octogonal, maior e com grades - Mauricio foi derrotado logo na estreia para Forrest Griffin (2005) e amargou um período de adaptação. Na sequência, alcançou vitórias importantes sobre os ícones Mark Coleman e Chuck Liddell, credenciando-se para a disputa ao título. Na primeira luta contra o compatriota Lyoto Machida (UFC 104), após dominar cinco assaltos, viu os juízes decidirem polemicamene a favor do adversário. A volta por cima chegou nove eventos depois, contra o mesmo Machida. Um rápido nocaute no primeiro round trouxe, pela primeira vez, o cinturão dos meio-pesados (93 kg) para o curitibano.

Uma lesão no joelho interrompeu sua trajetória por quase um ano. Em março de 2011, retornou a cena para defender o cinturão mais cobiçado do torneio, contra o prodígio norte-americano de 23 anos, Jon ´Bones´ Jones. Em um duelo que arrecadou a segunda maior bilheteria da história do evento americano (R$ 3, 6 milhões), perdeu o título, mas não o ânimo.

Para voltar o topo, Shogun pediu e o presidente do UFC, Dana White, confirmou o retorno do ex-campeão ao octógono na edição Rio, realizada em 27 de agosto. O adversário é o conhecido Forrest Griffin, oferecendo a tão sonhada revanche da derrota de estreia no UFC. Visando ao melhor preparo para a luta, o atleta arrumou as malas e embarcou para a Califórnia, em busca de um treinamento intensivo. Confira a entrevista que o Guia da Semana fez com o lutador pouco antes da sua viagem.

Guia da Semana: Quando que você descobriu as artes marciais?
Maurício Shogun:
Tudo foi por causa do meu irmão, o Murilo ´Ninja´. Ele me incentivou desde o começo, ficava tempos me ensinando e levou-me para a academia Chute Boxe. Por causa dele estou aqui hoje.

Guia da Semana: Qual foi a primeira modalidade que aprendeu?
Shogun:
Comecei na academia a treinar muay thai e depois fui para o jiu-jitsu. Hoje em dia, além das duas modalidades, conheço também o boxe e o wrestling.

Guia da Semana: Como é sua rotina de treinamento?
Shogun:
Tento intercalar durante a semana todas as artes marciais. Mas reservo um tempo maior para o jiu-jitsu e o muay thai, que são as modalidades de que mais gosto. Acabo fazendo um treinamento de duas a três vezes por dia. Fora isso, mantenho a musculação e faço até natação, para dar uma relaxada.

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Contra Lyoto Machida, o curitibano foi derrotado uma vez por decisão polêmica dos jurados e ganhou a revanche, no UFC 113, em maio de 2010

Guia da Semana: Como surgiu esse apelido, Shogun?
Shogun:
(risos) Quando eu tinha 16 anos, meu irmão e eu usávamos um quimono da marca ´Shogun´. Como meu irmão já tinha o apelido de Ninja, o meu professor disse que eu seria Shogun - título e distinção militar usado antigamente no Japão para generais supremos. E assim ficou.

Guia da Semana: Antes de lutar, você tinha uns trabalhos como modelo. Como conseguia conciliar universos tão diferentes?
Shogun:
Isso foi bem no começo da minha carreira. Entre um ringue surgia um trabalho de modelo, e eu encarava para complementar a renda. Mas, no final, fui dar aulas particulares de artes marciais e deixei de lado a carreira de modelo. Mas sempre priorizei a luta, uma coisa que eu amo fazer.

Guia da Semana: Mas conseguia ganhar uma graninha como modelo?
Shogun:
Ganhava até que um pouco, mas o nível brasileiro não se compara com o de fora. Além disso, era muito sacrificante. Por isso, larguei.

Guia da Semana: É, mas as lutas de artes marciais também não são tão rentáveis assim para quem está começando. Como sobreviveu a isso?
Shogun:
No começo foi por minha conta e risco, já que na luta poucos são os que ganham bem. Como precisava fazer cartel, muitas vezes entrava em torneios para não ganhar nada, tanto no jiu-jitsu como no muay thai. A gente competia para ganhar pontos e poder enfrentar adversários mais conhecidos. Depois, cheguei a ganhar R$ 1 mil por luta, mas aqui sempre pagou pouco. Tive que investir e persegui esse objetivo como uma meta para a minha carreira. Graças a Deus consegui realizar os meus sonhos, mas foi muito difícil no começo.

Guia da Semana: Quando a situação financeira melhorou?
Shogun:
Com 19 anos, entrando para o vale-tudo. Aos 20 anos, já lutava profissionalmente. Comecei no Brasil, tive destaque e acabei indo lutar fora do país. Primeiro EUA, depois o Japão, no Pride, o maior mercado da época para o vale-tudo. Entrei em 2003 e fiz 12 lutas. Perdi somente uma, que foi contra Coleman quando quebrei o braço e não pude continuar a lutar.

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Antes de entrar de vez na carreira de lutador, Maurício Shogun dividia os treinos com o trabalho de modelo

Guia da Semana: Seu estilo de luta é conhecido pela agressividade e pelo ataque. Agora, a sua personalidade fora do octogonal é bem diferente. Como você lida com estes antagonismos?
Shogun:
Eu sei separar bem as coisas. A luta é minha vida, mas eu deixo toda a minha tensão e agressividade para dentro do octogonal. Fora de lá, sou um cara tranquilo, calmo, dou risadas e brinco bastante.

Guia da Semana: Quem foram seus ídolos no esporte?
Shogun:
O Wanderlei Silva e meu irmão, Murilo "Ninja", que me levou para o esporte.

Guia da Semana: Como é sua vida fora dos ringues?
Shogun:
Não é nem um pouco badalada. Estou curtindo muito minha filha, que tem um ano de três meses. De resto, gosto de fazer churrasco para os amigos, vou a jogos de futebol - torcedor do Coritiba -, ando com o meu cachorro e vou ao cinema.

Guia da Semana: E se futuramente a sua filha quiser entrar no mundo da luta, vai ter o apoio do pai?
Shogun:
Melhor não. Vou mostrar pra ela outras coisas para que ela não tenha chance de gostar de lutar (risos). Acho que mulher tem que conservar o lado feminino e luta atrapalha um pouco isso.

Guia da Semana: Como você vê o crescimento do MMA tanto dos praticantes como do público que assiste?
Shogun:
Acho muito legal, nada melhor do que isso para valorizar os atletas. Chegou em um momento em que todos nós queríamos, que é o de usar a mídia para difundir o esporte e tirar o preconceito da modalidade. A gente quer que as pessoas vejam a gente como uma profissão, um trabalho, e não uma simples briga de rua televisionada.

Guia da Semana: O assédio feminino deve ser grande. Como lida com isso?
Shogun:
Eu recebo o assédio das mulheres, mas minha mulher sabe do meu profissionalismo e que eu vivo disso. Mas elas veem a gente muito mais como ídolos esportivos do que como apelo sexual. Consigo lidar bem com isso.

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Nocaute de Shogun em cima de seu adversário Coleman, pelo UFC 93

Guia da Semana: Gostaria de se apresentar na edição do UFC Brasil?
Shogun:
Meu empresário está especulando junto com o Dana White o meu próximo adversário, que sairá nos próximos dias. Participar do UFC Rio seria um sonho, já que é o país em que vivo e espero, quem sabe, defender as cores dele na minha retomada.

Guia da Semana: Você tem alguma luta memorável na sua carreira?
Shogun:
Eu encaro cada próximo confronto como a luta da minha vida, porque até as lutas menos importantes que venci me ajudaram a chegar ao topo. Por isso, eu sempre busco chegar o mais perto do melhor possível. Meu objetivo é afinar o meu muay thai e jiu-jitsu para chegar ao mais próximo da perfeição.

Guia da Semana: Você compete em uma categoria que a disputa é muito grande e o título não consegue ficar na mão de uma pessoa só - já passou pelas mãos de Rampage Jackson, Rashad Evans, Lyoto Machida, Maurício Shogun e agora Jon Jones. Qual vai ser a sua estratégia para voltar ao topo?
Shogun:
Com certeza, essa é a categoria mais disputada já há muitos anos, com os melhores lutadores do mundo e os piores adversários. Eu vou planejar a minha estratégia de acordo sempre com o próximo adversário, para chegar lá novamente. Tudo depende do Dana White, mas acredito que, se ganhar duas ou três lutas, já terei chances de disputar novamente o cinturão.

Atualizado em 6 Set 2011.