Guia da Semana

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É muito fácil diferenciar os perfis de paulistas e cariocas. Sotaque, jeito de se portar e se vestir, preferências e excentricidades são bem distintas em cada um dos extremos da Via Dutra. Quantas e quantas vezes já não ouvi um (muito provavelmente uma) carioca dizendo que, como está indo passear em São Paulo, vai tirar as "melhores roupas do armário", que "o povo em São Paulo é chique" e tal. Já fui cúmplice também de afirmações como "os cariocas é que sabem viver: todas as mordomias daquela cidade maravilhosa, suas mulheres lindas, o pouco trabalho...". O duro é conseguir fazer com que qualquer das partes enalteça o que a outra tem de bom, já que há muito para se vangloriar antes de se falar bem do vizinho.

Nesse contexto, fica evidente que acontecimentos como o PAN ou os eventos de moda do mês de junho deixaram de ser momentos voltados ao enaltecimento do esporte e à geração de negócios e apresentação de novas idéias, para se tornar uma competição entre os "chiques" - paulistas - e "criativos-mas-despojados" - cariocas.

Nada contra, sinceramente. Dou muito valor à competição. Mas que o PAN vai ser um caos e já nasce fracassado como evento esportivo de alto escalão, todos já temos certeza, e que o "oba-oba" gerado com os "Fashion-isso-e-aquilo", de São Paulo e do Rio, virou um tipo "Passa ou repassa", com torta na cara e todo o resto que temos direito, também.

Esses dias, o organizador do São Paulo Fashion Week veio a público dizer que "a função do evento não é dizer o que o consumidor deve usar". Ótimo, dado que um evento de moda é perfeito para escolhermos o papel de parede de nossas casas! Isso é reflexo de uma perda conceitual e o conseqüente esquecimento dos verdadeiros objetivos de uma ocasião como essa. A um evento que já começa se esquivando dos resultados ainda a serem conquistados, não tenho certeza se valeria dedicar algum tempo além do mínimo necessário - concordo que essa coluna investiu muitas de suas palavras no tema, mas o foco aqui é outro.

Eu acho fantástico conviver com beldades nas ruas da cidade, fico lisonjeado por poder receber atletas do mundo inteiro no Brasil, mas transformar esses encontros no show bizz que viraram, com alas VIPs, celebridades brotando do teto e todo aquele "ver e ser visto", deixa evidente que se perdeu muito da credibilidade técnica e da qualidade final. No caso do PAN, temos ainda o fato de ser o maior evento esportivo já realizado no Brasil, um projeto público, o que traz um caminhão de problemas a mais, mas não deixa de lado uma necessidade besta de beneficiar uns e outros. O gene que critico está em ambos.

Nossa "brasilidade" sofre para se modernizar. Isto só se agrava com o afastamento cultural - forçado - entre São Paulo e Rio. Exemplos de descaso (leia-se troca de valores) como o que vemos agora, nos afastam de nossas raízes sem nos trazer um bônus relevante. Assim, transparece que esquecemos o que somos: um país ascendente, que tem em sua cultura de simplicidade e alegria um enorme potencial, para valorizarmos o modelo do velho mundo, ultrapassado e sem a menor graça.


Leia as colunas anteriores do Hélio:

? Teatro da vida alheia: espetáculo no aeroporto. Dos chiliques à política do pão e circo, o colunista conta as cenas da sala de embarque.

? Bufana-Bufana: o colunista foi à África do Sul e conta como o sucesso financeiro é quase garantido a alguns negros.

? Pobre bom gosto...: para o colunista, dinheiro não é sinônimo de bom gosto. Ele está nas coisas simples da vida!




Quem é o colunista: Hélio Mata Machado

O que faz: Gerente Regional do Instituto Empreender Endeavor

Pecado gastronômico: Cafeína

Melhor lugar do Brasil: Rubayat

Fale com ele: [email protected] ou acesse o blog do autor

Atualizado em 6 Set 2011.