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Um frango em cada prato e um carro em cada garagem. Não é promessa do nosso Lula, é coisa mais antiga. Quem disse isso foi obviamente um político, mas são palavras do presidente americano Herbert Hoover. Seu slogan das eleições pré-crash de 1929, quando o céu era o limite das ilusões na bonança do capitalismo americano. Só que frase boa mesmo de falar nos dias de hoje, e sem precisar ser populista, é prometer uma câmera fotográfica em cada utensílio doméstico.
Descobri outro dia que a Nokia é hoje a maior produtora mundial de câmeras fotográficas. Deixou para trás as tradicionais Kodaks, Canons, Leicas e outras mais. Estão, claro, embutidas em todo em qualquer aparelho de celular um pouquinho mais sofisticado que produz. Lentes Carl Zeiss, coisa fina no mundinho da ótica, e muitos megas de memória para que o dono do celular possa clicar como franco atirador. Meu pai, que é fotógrafo, descobriu outro dia a melhor utilidade para a câmera do seu celular: fotografar a coluna da garagem no shopping para lembrar onde estacionou o carro.
Não pense, no entanto, que a popularização da fotografia é coisa recente. Em 1900, a Kodak lançava sua Brownie a US$ 1, com filmes a quinze centavos. Multidões compravam sua primeira câmera e saiam pela América a fotografar. E como as Kodak ainda não tinham visor, os primeiros fotógrafos amadores do mundo seguravam suas máquinas na altura da cintura e disparavam. Daí o nome snapshot, termo de caça usado quando o caçador atira com a espingarda apoiada na cintura. Tinham sorte se acertassem no enquadramento e não cortassem a cabeça de algum de seus modelos. Tempos depois, as máquinas ganhavam visores e o hábito de fotografar tornava-se aquele de levar a máquina até os olhos, enquadrar, colocar o foco e disparar. Foi assim até o começo do século vinte um.
Com a chegada das câmeras digitais e celulares, a máquina fotográfica divorciou-se do rosto humano e voltou a ficar a meio braço de distância, mais baixas, como no começo da história da fotografia portátil. E mais emblemático que o novo jeito de fotografar, é o modo de tratar cada nova imagem que nasce. Antigamente, o processo era mais longo. Tínhamos que revelar o filme e desvendar as imagens. Para evitar pagar mais, a gente encostava no balcão do laboratório e dizia "só as boas". E o sujeito que revelaria seus filmes, abandonava no negativo as fotos mal iluminadas, fora de foco ou as duplas exposições.
Hoje, é você mesmo que edita as suas fotos. Estamos na época do "extreme-edition". Sem ter que arcar com os custos de comprar rolos e mais rolos de filme, se a foto não ficar boa, é só apagar e bater outra. Apagar uma foto é muito fácil. Note o novo ritual, que pode ser visto principalmente entre as crianças e as mulheres. As crianças porque as câmeras digitais são tudo o que conhecem, nunca viram filme, assim como nunca tiveram contato com a imperfeição do som de um disco de vinil ou com a mediocridade de um pause de videocassete. As crianças esperam a foto ser batida e correm para trás da câmera, para ver como estão pequeninas no visor. As mulheres também arrancam a máquina da sua mão e, se não ficam satisfeitas com o resultado, devolvem o aparelho já com a imagem imperfeita devidamente subtraída.
Leia as colunas anteriores do James:
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? Os ex-comedores de morcegos: Hoje, o estilo roqueiro apresenta uma nova configuração. A cara de mau foi trocada pelo ar blasé!
? Sobre Ferraris e outros equipamentos: Já pensou se o botão giratório do seu i-Pod pudesse controlar outros equipamentos?
? Os publicitários e o humor negro: Com o aquecimento global, teremos verão durante o ano inteiro!
Quem é o colunista: James Scavone
O que faz: Diretor de Criação da AG_407
Pecado gastronômico: bala de goma
Melhor lugar do Brasil: Trópico de Capricórnio
Fale com ele: [email protected] ou acesse o blog do autor
Atualizado em 6 Set 2011.