Foto: Gabriel Oliveira |
O psiquiatra Paulo Gaudêncio, formado pela Universidade de São Paulo (USP), dedica-se há cerca de 50 anos à psicoterapia. Foi um dos primeiros professores de psicologia da PUC-SP e é um aficionado por seu trabalho. Atualmente divide-se entre as atividades de psicoterapeuta, consultor de empresas, terapeuta de casal, palestrante e colunista da revista Nova. Autor de diversos livros, como Minhas Razões, Tuas Razões e Manual do Prazer Feminino é um expert em relacionamentos. Seu livro Dr. Gaudêncio de Nova Responde, publicado há 15 anos, porém ainda atual, esclarece dezenas de dúvidas femininas. Com toda a propriedade que tem para falar sobre o assunto, Paulo Gaudêncio conversou com o Guia da Semana, revelando as características da mulher atual. Confira o bate-papo.
A sua coluna na revista Nova é intitulada terapia em cinco minutos. Nela você atua como um amigo confidente das mulheres. Como você entende o que se passa na cabeça delas?
Paulo Gaudêncio: Quando eu comecei a escrever para a Nova, há uns 20 anos, jurei que nunca daria um conselho. Eu faço a pessoa olhar para dentro de si e tentar entender quais comportamentos dela permitem tal situação. Tento não ser muito bonzinho. Não afago muito, não, e é assim que o pessoal gosta viu?!
O que mudou no comportamento da mulher desde o começo da coluna?
Paulo Gaudêncio: Eu vou mais além. Veja, tem uma palavra que eu acho bem interessante: manutenção. Quem mantém tem algo na mão, quem é mantido está na mão de alguém. Antigamente só homem trabalhava e mantinha a mulher. Durante a segunda guerra mundial eles foram para a batalha e as mulheres para as fábricas, logo, elas começaram a se manter. O fato de a mulher ter-se na própria mão trouxe mudanças para as gerações seguintes, nos relacionamentos amorosos, na relação familiar, nos valores sociais. Tudo mudou, inclusive a própria mulher. Antes ela me perguntava como agir para ser uma ótima mãe, uma excelente esposa. Agora não me perguntam mais isso. A mulher de hoje quer saber o que fazer para deixar de ser trouxa.
Dentro de todas as mudanças, durante este período, como você define a mulher atual?
Paulo Gaudêncio: Ela é bem mais independente. A palavra dependência significa pendurar, ser independente é estar pendurado dentro de si, com os próprios valores definidos. O preocupante é ser independente com os valores em mudança, que é o que está acontecendo. A geração de hoje está muito perdida. Os valores com os quais fomos criados acabaram e os novos ainda não surgiram. Estamos em um imenso vazio de valores sexuais, afetivos e familiares. Mas não sou pessimista, isso é um período de transição.
Foto: Gabriel Oliveira |
A mulher assumiu diversos papéis: profissional, dona de casa, mãe, amante. Esta multiplicidade de funções a deixa sobrecarregada?
Paulo Gaudêncio: Diversos não, ela assumiu papéis demais. Se ela assumisse todos os papéis que tem para cumprir de forma equilibrada, tudo bem. Mas não, ela se cobra muito. A mulher acha que tem que ser ótima em tudo. Eu não acho ruim, sou psiquiatra, vivo de gente que se cobra deste jeito. O problema é que a mulher acaba desperdiçando seu verdadeiro valor. O grande poder da mulher é fazer com que o homem entre em contato com sua parte feminina. Mas ao invés de aproveitar esta vantagem, a mulher virou "macha". Ah, que besteira! Meu Deus do céu!
Como a mulher deve fazer para não se cobrar tanto?
Paulo Gaudêncio: É simples, ela não deve correr atrás da perfeição, ela tem que buscar a excelência. Nós temos 20 séculos de sociedade e a mulher está vivendo toda essa mudança nos últimos 50 anos, ainda tem muito pela frente, está engatinhando.
Se a mulher não está feliz no casamento ela tende a não prolongar a relação. O homem é mais relutante. Por quê?
Paulo Gaudêncio: É uma questão da sociedade patriarcal que deixou o homem muito acomodado. A mulher é mais corajosa. Quando uma relação termina, a mulher dá outro rumo para a vida. O homem sofre de complexo de Tarzan, não larga o cipó se não tiver outro na mão.
Gaudêncio, assim como em sua coluna da revista Nova, temos uma dúvida feminina. "Eu e meu ex-namorado não estamos mais juntos. Ele aprontou todas comigo. Sei que o fim do namoro foi a melhor decisão, mas continuo sofrendo. Por que me apego tanto?"
Paulo Gaudêncio: Não é apego nenhum. Você tem que deixar de ser tola. O cara pode fazer o que quiser e você ainda gosta dele? Você tem que aprender a se dar um pouco mais de valor. É a lei da oferta e da procura. O cachorro só entra na igreja porque a porta está aberta, se você não aprender a fechar a porta e a se valorizar, está perdida, minha filha.
Colaboraram:
? Paulo Gaudêncio
Atualizado em 6 Set 2011.