Guia da Semana

Foto: Alex Sanches


Quando estamos na rua, o que mais vemos são carros, carros e mais carros. Só em 2009, a estimativa de vendas de veículos foi de 220 mil por mês, segundo a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Todos modelos iguais ao de fábrica. Na busca de um estilo exclusivo, que representasse mais o dono do veículo, surgiu o tuning. A expressão pode ser traduzida como personalização e é mais antiga do que parece. Aqui no Brasil, a customização de carros ficou famosa só em 2001, mas desde 1910, as pessoas já alteravam o motor dos famosos Ford Modelo T na busca de maior potência. Depois da II Guerra Mundial, o movimento intensificou-se nos Estados Unidos e Europa, surgindo as primeiras empresas dedicadas a preparação de carros e motores, e os hot-rods, um estilo californiano de customização do final da década de 1940 que existe até hoje.

Agregando performance, segurança, beleza e estilo, o tuning pode modificar um carro inteiro, com peças e acessórios como rodas, pneus, suspensão, tubos de escape, alterações no motor e carroçaria, interior, áudio e óxido nitroso - que misturado a gasolina, aumenta a potência do carro. Há quem gaste um valor acima do próprio preço do veículo só para estilizá-lo, como é o caso do hepta campeão brasileiro e paulista de tuning, Alex Sanches, de 37 anos, que mora em São Paulo e tem um Golf ano 2000 com a "sua cara". "Sempre gostei de ter carros diferentes, por uma roda estilizada ou um som mais potente. A ideia de customizar o Golf surgiu quando comecei a visitar os eventos de carros. Em uma dessas visitas, descobri que havia um campeonato brasileiro de carros tunados e foi aí que tudo começou".

A designer Nuria Nossabeih tem 23 anos e conheceu o tuning por causa do seu irmão. Ela representa o Celtaclub com seu modelo totalmente estilizado. A Penellope - nome dado ao seu Celta - representa a feminilidade nas pistas, feiras e exposições, mostrando que carro não é só coisa de "menino". "A primeira coisa que eu tive que fazer foi provar para todo mundo que eu não estava ali para chamar a atenção de ninguém, já que a maioria é homem. A partir do momento que se impõe respeito é tudo uma maravilha".

Cultura brasileira

Foto: Nuria Nossabeih


No Brasil, o desenvolvimento da personalização de carros teve maior reconhecimento há nove anos, com o lançamento do filme norte-americano Velozes e Furiosos. Antes disso, o foco eram as competições de som e arrancada, e a personalização dos veículos era limitada, tanto pela pequena variedade de acessórios e equipamentos disponíveis no mercado, quanto pela própria cultura. Conseqüentemente, o pessoal foi modificando aos poucos o veículo até criarem máquinas personalizadas. Hoje em dia, as empresas de acessórios investem pesado nos eventos, pois o público adora novidades, e os tunados estão sempre se modificando como camaleões, gerando cada vez mais negócios para o comércio de acessórios.

Nuria gastou cerca de R$ 10 mil em acessórios e Alex já teve mais de R$ 100 mil investido em sua máquina, do próprio bolso e por meio de patrocinadores. Mas por que gastar tanto dinheiro com customização de um carro? "A pessoa gosta do carro e quer deixar ele cada vez mais a sua cara. Quando você vai ver, o carro já está customizado", afirma a designer. "Isso é um dos meus passatempos. Com essa vida corrida que temos precisamos ter um hobby, um lazer prazeroso, e para mim, carros faz muito bem", completa o hepta campeão.

Hoje em dia os encontros e campeonatos são comuns e fazem parte da cultura brasileira. Alex explica que "a maioria dos eventos e feiras acontece fora da capital. E é legal por isso, não é só carro, são novas amizades que fazemos, lugares que conhecemos a cada etapa. Cada evento é uma nova história, uma lembrança a se guardar".

Existem campeonatos acontecendo quase todo domingo em algum lugar do Brasil. E para quem gosta e quiser ver de perto, a dica é o Auto Show, encontro que reúne carros antigos, de colecionadores e também os famosos tunings, todas as terças-feiras, às 19h, no sambódromo do Anhembi, em São Paulo. Outra dica para quem gosta de carros modificados é o site Comunidade de Tuning. Lá você pode se associar gratuitamente ao clube, acessar o fórum e ficar sabendo tudo que rola no mundo dos tunados, além de poder participar dos passeios e encontros semanais promovidos pelo clube.

A forma de tunar um carro varia de cultura, lugar, pessoa. Há quem goste dos esportivos, como é o caso da maioria dos países, em especial do Japão; há quem prefira os hot-rods californianos ou ainda a cultura low-rider, vinda das periferias entre Estados Unidos e México; ou ainda o dub, estilo adotado pelos rappers norte-americanos. E no meio de tantos estilos, encontra-se o Brasil definindo seu próprio caminho em meio a tanta variedade, criatividade e vertentes mundiais.


Atualizado em 1 Dez 2011.