-Quincas, por que você está de cabeça baixa?
-Não é nada.
-Como não?
-Sei lá, rapaz. Vou fazer 46 anos, Teo, e o que eu consegui na vida? Casei-me três vezes, tenho cinco filhos e cada uma das mulheres me exige um revezamento cinco por três. Além do mais, não me sinto realizado profissionalmente, apesar de ganhar muito dinheiro.
-Quincas, você está pondo chifres em cabeça de galinha.
-Calado, Alex!
-Teo, o Quincas namora mulheres que matariam o Assioli de inveja, ainda bem que ele só tem olhos para as do Murilo. Tem aquele avião de quatro rodas que me deixa de queixo caído... É convidado para qualquer festa. Ele é uma celebridade que tem a vantagem de ser muito conhecido por quem não o conhece.
-Alex, que vantagem há nisto? O Quincas está numa idade difícil: aos 40, a vida acaba, meu amigo, e a existência começa!
Depois dos 40, o presente é sempre obscuro. Descobre-se a razão pela qual se utilizam o sucesso e a fama como um parâmetro para avaliar-se diante da escala status-evolutiva: a inexistência de contato com a própria infelicidade, da qual se tenta escapar através de uma vida superficial e festiva. Fama e celebridade só são necessárias quando se vive na desventura. Se Helena de Troia tivesse sido feliz, quem se lembraria de Heitor? Em terra de celebridade quem tem olho é cego.
A fama é como um rio que mantém na superfície as coisas leves e infladas e arrasta para o fundo as coisas pesadas e sólidas. Dependemos da solidez para existir! Com trinta anos, pode-se ignorá-la, mas, aos 40, isto se torna desastroso, pois se o prestigio é adquirido sem mérito, as considerações são obtidas sem estima. Quem chega aos quarenta sem estima, mérito é que não terá.
Mas, então, o que faz um vencedor sentir-se como um perdedor, já que, nos dias de hoje, tanto a reputação quanto o crédito dependem apenas da riqueza que se guarda no banco? Afinal, a fama e o sucesso não deveriam dar garantias de bem-estar contínuo?
Felizmente, a vida adulta pode se consolidar aos cinquenta quando um homem se torna consistente. Para tanto, é necessário que ele adote uma ética pautada no coração e não na opinião de terceiros.
Leia as colunas anteriores de Sócrates Nolasco:
Viag(a)ra Falls
Mulheres de papelão
Quem é o colunista: Sou aquele que deixa o que encontrou melhor do que estava antes.
O que faz: Psicanalista, Escritor e Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Pecado gastronômico: Ostras com Cristal do Roederer.
Melhor lugar do Mundo: Yosemite National Park e San Francisco.
O que está ouvindo no carro, iPod, mp3:Yoshida Brothers.
Fale com ele: [email protected]
Atualizado em 10 Abr 2012.