Guia da Semana

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Há algumas décadas, era raro ver uma mulher ocupando um cargo gerencial. Mas os anos se passaram e a realidade mudou. Hoje, empresas já contam com a presença feminina em altas posições e, com isso, além das responsabilidades, as viagens de negócios também costumam aumentar. Consequentemente, o tempo para curtir os filhos fica mais escasso ainda. Mas como administrar temporadas longe da criança sem sentir se sentir culpada?

Segundo o psicoterapeuta Alessandro Vianna, normalmente mães que têm de viajar a trabalho sentem-se extremamente culpadas e alimentam uma crença de que não podem acompanhar o desenvolvimento de seus filhos. "Mas isso é um engano. Elas devem se esforçar para ter esse acompanhamento e acharão meios para conseguir isso mesmo à distância. Essa crença pode gerar uma enorme angústia, levando até a problemas emocionais mais profundos", afirma.

Ausência sem culpa

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Para Vianna, a culpa acaba sendo um "amor egoísta", ou seja, as mães se preocupam muito mais com o que estão sentindo do que com o que é realmente mais indicado para o filho ou com os sentimentos dos pequenos. "Às vezes, deixar uma pessoa bem instruída com a criança pode ser muito melhor do que uma mãe angustiada ou estressada cuidando de seu filho. A figura materna tem o papel fundamental na educação e, quando estiver ausente, deve orientar a melhor maneira de educar", diz.

Outro receio que invade a mente das mulheres quando precisam ficar ausentes por um certo período é se a distância causará algum tipo de trauma na criança. De acordo com a psicóloga Ana Cássia Maturano, tudo dependerá de como será essa ausência, por quanto tempo, como foi preparação para isso, sua idade, quem serão os cuidadores e o contato que a mãe manterá com o filho quando estiver fora.

"Bebês muito novos não devem ficar separados das mães. Estima-se que uma idade adequada para que a criança consiga sem grandes problemas ficar longe da figura materna por dias seja a partir dos três anos", sugere a psicóloga. Segundo Ana Cássia, a melhor forma de lidar com a culpa é assumir o quanto o trabalho é importante para sua vida, o que não quer dizer que você não ama seus filhos.

Compensação material

Mesmo tendo consciência de tudo isso, muitas pessoas ainda se cobram por ter que deixar os pequenos por alguns dias devido a tarefas profissionais e, assim, acabam compensando a ausência com coisas materiais. No entanto, segundo a especialista, isso não deve acontecer. "A falta que a criança sente da mãe deve ser suprida por um futuro contato com ela, e não por uma ida ao shopping em que poderá escolher qualquer brinquedo", alerta.

No início da carreira, a gerente de recursos humanos Patrícia Carvalho de Moraes, 35 anos, viajava muito a trabalho e, por isso, tinha que deixar sua filha, Milena, que hoje tem 8 anos. Ela ficava de dois a cinco dias longe de casa e sempre se sentia culpada. "Era muito ruim, porque eu queria levá-la comigo, mas não era possível. Para compensar, sempre prometia trazer um monte de presentes", conta.

Contudo, segundo o psicoterapeuta Alessandro Vianna, as mães cometem um grande erro ao tentar compensar. "Dando presentes em excesso, o filho poderá confundir o material com o sentimental, ou seja, podem pensar que 'as pessoas que me amam têm que me dar algo'", diz. "Não podemos nos esquecer de que o abraço, o carinho, horas agradáveis com o filho são muito melhores para formação de sua personalidade do que um brinquedo", completa.

Foto: Arquivo Pessoal

Patricia Carvalho de Moraes e sua filha Milena

Sempre por perto

Para a psicóloga Rita Romaro a criança sente falta, gostaria de ter a mãe por perto, mas quando existe um bom vínculo mãe-filho, essas coisas podem ser expressas, ouvidas, conversadas, de modo que não sejam interpretadas como cobranças, abandono e negligência. "O que mais atrapalha é a culpa, que acaba impossibilitando de ouvir a criança, de colocar-lhe limites e de desempenhar o papel materno, que é orientar, caminhar junto".

A psicóloga explica que é importante manter contato com a criança durante a ausência por telefone, webcan, entre outros recursos, e, principalmente, conversar com ela antes de cada viagem, explicando calmamente o número de dias que ficará fora e o motivo da distância. "Sempre podemos acompanhar o desenvolvimento de um filho, dando-lhe banho (mesmo que não seja todos os dias), fazendo algumas refeições em conjunto, brincando, enfim, reservando um tempo para estar com ele, longe de celular e e-mail".

Durante a viagem, também é importante deixar a criança com alguém de confiança e não mudar a rotina dela. "Devemos deixar os filhos sempre com pessoas um que confiamos, nas quais percebemos coerência e respeito no ato de coeducar. Podem ser avós, babás, papai, desde que respeitem a forma da mãe educar. Até por uma questão de coerência, eles devem fazer o que a ela acredita ser melhor para a educação de seu filho", afirma Vianna

Confira as dicas do psicoterapeuta Alessandro Vianna para amenizar a ausência e a distância
Conversar pela Internet através de vídeo em um horário bom para a criança, com um papo muito alegre, falando de coisas positivas, dando notícias agradáveis, incentivando o pequeno a curtir as coisas boas do seu dia;

Mandar e-mails com fotos do lugar onde está e mostrar cenas interessantes, o que faz com que seu filho viaje também e amplie sua cultura.

Trazer uma lembrança do local onde esteve - nada de valor material, mas curiosidades ou algo de valor cultural.

Conseguir um tempinho maior na volta para a criança, para que ela saiba que há alternâncias, com momentos de um pouco de renúncia e outros de muita felicidade. Contar momentos bons da viagem que fez para que a criança entenda e saiba valorizar também.

Antes de viajar, partilhar com o pimpolho um clima de expectativa positiva, mostrar a cidade que será visitada pela Internet e pedir sugestão de algum passeio ou comida. Assim, ao invés de odiar qualquer parte do mundo que tire a sua mãe de seu convívio, pode ser que a criança peça para visitar nas férias algum desses lugares.


Atualizado em 10 Abr 2012.