Guia da Semana

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Como diria o escritor norte-americano Norman Vincent Peale, "o vencedor nunca desiste", ou melhor, a vencedora. A rivalidade entre mulher e mãe pela atenção do marido ou filho é real, apesar de não ser via de regra. Toda relação humana é permeada pela disputa de poder. No caso do relacionamento entre sogra e nora não é diferente. Há um duelo travado, quase um genérico de guerra fria, onde ambas disputam pelo amor de um mesmo homem.

Todo ser do sexo feminino é dotado de um instinto materno e mães têm a expectativa de escolher uma nora ideal, projetando o esteriótipo da mulher perfeita com caráter inabalável, valores, qualidades e atributos semelhantes aos de sua família. "No plano da idealização vale tudo. Ela gostaria que sua nora fosse uma santa, pois mãe quase sempre considera seu filho perfeito, ou seja, um deus grego", comenta o psicólogo Sebastião Alves de Souza.

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Mães que interferem na vida do filho por meio de imposições figuram um perfil de personalidade autoritária e possessiva. Freqüentemente assumem o papel social de solitária, desprotegida e vítima, exercendo poder por meio do compromisso, imposição e dominação. O ciúme é a maior causa para que haja o conflito entre nora e sogra. O sentimento que mais desgasta relacionamentos em todo o mundo é reflexo de uma postura insegura e da incapacidade de conquistar e contentar ao outro. Toda mãe, em grau ameno ou eminente, sente ciúmes do seu rebento, e se emocionalmente frustrada, a situação tende a agravar. Todo o amor que deveria atribuir ao seu companheiro transfere para o filho, interferindo imediatamente nos relacionamentos que porventura ele venha desejar estabelecer com alguém. Filhos de mulheres possessivas e ciumentas estão facilmente propensos a buscarem mulheres idênticas às suas mães, que gerarão filhos inseguros completando um ciclo de deficiência emocional eterno. Todo sentimento em excesso é distúrbio e exige tratamento.

"Meu relacionamento é formal, já que não dou liberdade a minha sogra. Não quero que ela se intrometa em nossas vidas. No começo de casada ela queria a chave do meu apartamento, para ir até lá arrumar a casa e fazer nossa comida. Quando negamos ficou horrorizada. Ela faz chantagem sentimental o tempo todo, mas hoje o filho dela não cai mais. Já percebeu quem é a mãe dele (eu nunca me enganei!)", diz a jornalista *Janaína, 36 anos.

A postura comportamental adotada pelo filho interfere no comando da mãe. Os conflitos surgem, diante da sua falta de assertividade. A posição correta é saber lidar entre as duas famílias, a de origem e a atual, além de se mostrar firme em suas decisões. A escolha do parceiro é inteiramente opção individual e não assunto que deva ser tratado em grupo, mesmo familiar.

Por mais feliz que esteja a sogra, sempre alimentará o sentimento inquietante da perda. O elo criado com o filho desde a gestação é muito intenso. Por sua vez, a nora carrega o misto de felicidade e desafio, proporcionados pelas incertezas e imprevisibilidades que envolvem o matrimônio.

O papel da mulher deve ser racional e antecipatória às situações que vão de desencontro aos seus planos e sonhos, por intromissão de alguém do meio externo ao relacionamento.

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*Janaína conta que já vivenciou diversos episódios constrangedores protagonizados pela mãe de seu marido. No começo do casamento, todas as vezes que ia visitá-la com o filho dela, o agarrava e dizia em sua frente que ela estava roubando o seu filho. Até hoje o chama de "baby". Durante a viagem de lua-de-mel do casal, a sogra chorou compulsivamente, repetindo não querer a viagem, porque sabia que o avião iria cair. Não deu para fugir das ligações diárias de Maceió para São Paulo, já que seu esposo achava que ela poderia enfartar caso não ouvisse sua voz.

Há uma tríade formada pela mulher/nora, marido/filho e sogra/mãe. As duas pontas desta relação devem, ao menos, tentar chegar a um consenso, em nome do amor que ambas sentem pelo homem em questão. Criar uma batalha com direito a cabo de guerra desgasta o relacionamento e todos só têm a perder.

Mas calma! Nem todas as sogras são difíceis de conviver como revela a designer Patrícia Vianna Aleixo dos Santos, 20 anos. "Mantenho um ótimo relacionamento com minha sogra. Quando fico semanas sem vê-la sinto sua falta e sei que esse sentimento é recíproco. Sempre que vou até sua casa, ela prepara um almoço especial, com meus pratos prediletos e eu retribuo levando algo que sei que ela gostaria de receber. Ao falar com meu namorado por telefone, sempre digo ´mande um beijo para sua mãe´. Eu a admiro demais. Ela faz questão de me elogiar para qualquer pessoa que conheça, além de me agradecer freqüentemente por estar com o filho dela, em um tom carinhoso. Minha mãe morre de ciúmes do nosso relacionamento. Isso diz tudo!".


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A discussão é tão polêmica que rendeu até um livro "O Desafio do relacionamento nora e sogra", de autoria Eden Unger Bowditch e Aviva Samet. A obra dá alguns conselhos para manter um relacionamento saudável e sem excessos.

Uma boa nora jamais...

? Esquece que, um dia, também será sogra;
? Esquece de elogiar os pratos da sogra;
? Fala ao marido mal da mãe dele;
? Esquece o aniversário da sogra e de lhe comprar um presente;
? Tenta demover o marido de ir à casa da mãe quando ele deseja;
? Recusa pedir à sogra a receita do prato preferido do marido;
? Faz queixas do marido à sogra;
? Recusa deixar os filhos em casa da avó paterna.

Dicas retiradas do livro "Nora e Sogra - O Desafio do Relacionamento" (Editora M. Books), de Eden Unger Bowditch e Aviva Samet




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Para Souza, não há como driblar uma sogra dissimulada. O melhor a fazer é dar tempo ao tempo. Não existe máscara que dure para sempre e na maioria das vezes, ela cai no momento mais inesperado. Não se esquecer que a figura matriarcal é a pessoa responsável pela presença do companheiro no mundo torna a idéia do relacionamento sadio mais aceitável. "Sogra e nora devem caminhar juntas, afinal amam a mesma pessoa, e o amor prediz solidariedade, gratidão, amizade e admiração. Sozinho o ser humano não vai a lugar nenhum e tampouco evolui, sem alcançar sua plenitude", afirma Souza.

Sintonizar a vida no mesmo objetivo é um exercício complexo que exige auto-controle e sensatez. Cada ser integra parte de uma totalidade predestinada a um bem maior. Pais educam os filhos para quando adultos eles poderem discernir os encalços da vida. Em contrapartida, o sentimento de posse do outro como sendo objeto é um erro tremendo, causador de problemas para toda a família. A parceira, por sua vez, deve compreender que antes de entrar na vida de seu homem, ele já tinha uma história escrita, onde sua família constitui os personagens. Dialogar e estabelecer firmeza nas idéias e comportamentos é uma demonstração de maturidade. Adversidades advindas do dia-a-dia merecem ser encaradas amistosamente, afinal somos meio e instrumento, porém não produto final.

*O nome foi alterado a pedido da entrevistada

Colaboraram:
? Sebastião Alves de Souza
? Patricia Vianna Aleixo dos Santos
? *Janaina

Atualizado em 10 Abr 2012.