Guia da Semana

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Ao ler minha "sorte de hoje" no site de relacionamentos mais acessado do país, senti uma vontade imensa de expressar e desabafar todo o meu sentimento. Para começar, a frase: "A melhor maneira de se encontrar é se perder em benefício de outros". Ótimo! Concordo plenamente com ela, e a profissão que escolhi para a minha vida tem tudo a ver com isso - sou recém-formada em Enfermagem e estou à procura de emprego.

Mas, recebi essa frase com certa indignação. Poxa! Como se perder em benefício dos outros se não encontro oportunidades? Tenho certeza de que muitos recém-formados se identificam com este sentimento. Já passaram seis meses desde a formatura e, até hoje, nem trabalho voluntário eu consegui. Quando escolhi a Enfermagem, todos me diziam que eu arrumaria emprego fácil e rápido. Porém, a realidade é totalmente diferente. Outros também dizem que é só ir para a Região Norte, Nordeste ou partes mais precárias do País que você se dá bem. Como assim? Como arrumar minhas malas e ir para um lugar distante, sem ter nada em vista? Ou até sem ter condições financeiras suficientes para isso?

Uma pesquisa, realizada pela Federação Nacional de Associações de Estudantes de Enfermagem (Fnaee), em 2008, mostrou que metade dos enfermeiros não consegue emprego nos seis primeiros meses depois de concluído o curso. O estudo ainda levantou que cerca de três mil estudantes se formam nesta área todos os anos. Concluí meu curso de Enfermagem com muito esforço e a ajuda de minha mãe, que quis me dar uma vida boa e diferente da dela. Mas ainda não consigo dar o retorno que EU esperava.

No desespero de conseguir trabalho, ganhei de uma tia a assinatura (durante um mês) de um site de empregos. Realmente há muitas vagas, até compatíveis com o número de currículos anunciados, mas as Empresas e Instituições exigem EXPERIÊNCIA... a tão sonhada experiência. Como adquirir experiência se as empresas não dão a primeira oportunidade? E o tempo de faculdade? Os cursos, as palestras, os estágios que fiz nesses quatro anos de curso? Para eles não contam? E por que não? Do que vale nos esforçarmos, se não vai fazer diferença?

Da minha turma, acho que somente 30% dos formados estão trabalhando. A maioria conseguiu emprego por indicação de alguém. Nada contra quem tenha alguém para indicar, quem dera eu tivesse. Os outros 70% ficam sem oportunidade, estudando para concursos, com números absurdos de candidatos e vagas reduzidas (às vezes, até essas mínimas vagas já têm seus donos pré-determinados, e isso é desanimador para quem lutou quatro anos para se formar). E o que vê de retorno é isso? Nos perguntamos se o governo não está se preocupando demais em fazer com que as pessoas entrem na faculdade (o que eu acho ótimo), mas esquecendo o depois: para onde vão estes profissionais recém-formados? Pois, infelizmente, o que eles escutam quando vão procurar emprego é apenas NÃO.

Quem é a colunista: Nayara Danziger.

O que faz: Enfermeira desempregada.

Pecado gastronômico: Camarão

Melhor lugar do mundo: Minha casa.

Fale com ela: nayaradanziger @hotmail.com

Atualizado em 6 Set 2011.